05-06-2015A Idade da Terra , sobre cinema brasileiro Guido BilharinhoFilmes Brasileiros
A IDADE DA TERRA
Guido Bilharinho
A inovação, a criatividade, a invenção e a individualização na arte não constituem posicionamentos e práticas arbitrárias e inconsequentes. Entende-se, no caso, por individualização a elaboração pessoal e independente, não restrita ou limitada por cânones, diretivas e modelos. Cada artista é autônomo e responsável. Contudo, só há condições de inovação e criação próprias se alicerçadas em informação e consciência artística. Não basta, pois, a pretensão de se fazer algo diferente ou oposto ao já realizado. Mas, é esse o intento de Gláuber Rocha ao radicalizar posição anti-ficcional em A Idade da Terra (1980). Não obstante a beleza de muitas tomadas e cenas, valorizadas ainda por angulações e enquadramentos sofisticados, o filme não se configura. O procedimento fragmentário acentuado em Claro (1975) é aqui prosseguido como único sistema de (des)organização de ficção que se recusa deliberadamente a sê-lo com utilização apenas do alusivo, do mentado e do verbalizado. Ao repelir a estruturação da trama, mesmo que sincopada, alegórica ou apenas referencial, Gláuber cai no exagero e na armadilha inversa, vinculando-se e prendendo-se ao esquema iniciado em O Leão de Sete Cabeças (1970) e extremado daí em diante de filme para filme até desaguar no aleatório e na exorbitância, mesmo e até por isso, quando julgados, como no caso, o máximo de clarividência e conscientização do real. |