20-09-2005 Clubes de jovens criados no Brasil e Venezuela Dois novos grupos de jovens folcloristas foram recentemente criados no Brasil e Venezuela, com o objectivo de divulgar esta dança tradicional e toda a etnografia a ela associada. Os dois clubes de folcloristas (CJF) resultam de movimentos desencadeados nas comunidades de origem dos jovens, inspirados num primeiro grupo surgido em França em Novembro de 2004, e já estão a dinamizar várias acções que visam criar elos de solidariedade entre os grupos folclóricos portugueses existentes em várias comunidades. Argentina, Bélgica, Suíça, Alemanha e Luxemburgo deverão ser os próximos países a acolher novos clubes.
Catarina Oliveira Divulgar de forma fiel às suas origens a etnografia e o folclore português, criar elos de solidariedade entre os grupos folclóricos portugueses existentes nos países onde existem comunidades lusas, reflectir sobre a qualidade da representação do folclore nesses países e auxiliar os grupos folclóricos na defesa da correcta etnografia folclórica portuguesa são os principais objectivos a que se propõe os dois nos grupos de folcloristas criados na Venezuela e no Brasil.
O trabalho destes colectivos passará também por dinamizar os grupos folclóricos existentes nos países de acolhimento, nomeadamente acompanhando-os na organização de festivais e outras iniciativas. Os grupos do Brasil e Venezuela irão também prestar o seu contributo para a criação de um fundo documental e audiovisual sobre o folclore regional de Portugal.
O CJF-Brasil foi o primeiro a surgir, em Abril deste ano, embora a ideia da sua criação remonte a Outubro de 2004. Cristiane Amaral, 30 anos, brasileira descendente de portugueses, é a responsável do grupo desde a sua fundação. Ligada ao folclore desde os 18 anos, sendo praticante e também secretária-geral de um rancho folclórico onde se manteve durante 11 anos, a jovem inspirou-se na experiência do CJF-França - o primeiro clube de jovens folcloristas portugueses e luso-descendentes radicados no estrangeiro, surgido em Outubro de 2004, e disponível através da pagina web http://br.groups.yahoo.com/group/clubejovensfolcloristas - e no incentivo dado pelo seu presidente, Adé Caldeira, elemento da Federação das Associações Portuguesas de França e há mais de uma década apaixonado por folclore, para a criação deste clube. «Contactei jovens amigos também folcloristas de várias regiões do país que aderiram a esta ideia imediatamente», contou ao Lusitano a coordenadora-geral do grupo. Actualmente o clube funciona através de uma pagina web - que inclui um chat, notícias, fotografias e músicas, ligadas ao folclore - e congrega 180 associados, de todas as regiões do Brasil.
Folclore não chega à TV Sobre a divulgação do folclore português no Brasil a coordenadora do grupo lamentou ao Lusitano que esta se limite ao trabalho das casas regionais e dos grupos folclóricos. «Tanto nos jornais e nos programas de rádio dedicados à comunidade portuguesa, pouco espaço é dedicado ao folclore. É uma pena, o brasileiro é apaixonado pela cultura portuguesa», desabafa. A responsável atribui a responsabilidade por essa divulgação «deficitária», em parte aos media, nomeadamente à RTP Internacional. «Temos a RTP I difundida através de TV por cabo, mas o custo do acesso é bastante alto», explicou. De acordo com Cristiane Amaral «os poucos jornais luso-brasileiros» que existem, também dão pouco espaço ao folclore».
A coordenadora do grupo acrescenta ainda que «a pior decepção vem da Federação do Folclore Português, que nos esqueceu há quase 10 anos». A federação chegou a ser contactada pela direcção do grupo, que lhe apresentou os seus projectos, sem contudo existir nenhum ‘feed-back’ dessa acção. Ao grupo «têm valido» os apoio do CJF-França, de «alguns amigos que possuem programas de rádio dedicados à comunidade portuguesa», algumas casas regionais, «como a Casa de Portugal de São Paulo e a Casa da Ilha da Madeira», e ainda do Santuário de Nossa Senhora de Fátima em São Paulo, que já ofereceu «as suas instalações para a futura realização de reuniões do CJF-Brasil». A direcção do grupo pretende também candidatar-se a apoios governamentais portugueses embora exista já uma ideia de que «pouquíssimo apoio é oferecido», e que esse «só vai para alguns grupos folclóricos», já que «os menos representativos nunca são beneficiados». Incentivar a formação de tocadores de concertina, organizar colóquios, exposições, entre outros eventos sobre a temática do folclore são projectos que o grupo tem em mira. De futuro a mentora do clube espera também contar com os mais jovens na concretização destes projectos, mas deixa também um repto aos mais velhos: «o CJF estará sempre de portas abertas aos veteranos que foram os primeiros a levarem o folclore português para as comunidades».
Apoio do Estado em mira Com pouco mais de duas semanas de existência o CJF-Venezuela, nasceu dos contactos mantidos entre o seu responsável, o jovem Sérgio Correia e Adé Caldeira (CJF-França) através do fórum do folclore português (http://folcport.proboards33.com). Com 26 anos, o jovem nascido na Ilha da Madeira, e emigrado com os pais na Venezuela desde os dois anos, integra há quatro o Grupo Folclórico Alma Lusitana, em Caracas, sendo seu director musical e acordeonista. São já cerca de vinte os associados ao clube, através da pagina web, onde participam em fóruns temáticos, ente outras actividades. «Há um grande entusiasmo dos jovens luso-descendentes na Venezuela pelo folclore português, por isso acredito que com uma boa divulgação teremos tantos associados como o CJF de França ou do Brasil», referiu o responsável pelo grupo. Sérgio Correia ocupa-se agora da criação de uma «equipa de trabalho», já que está consciente de que «uma única pessoa não consegue gerir um clube e organizar actividades».
Na Venezuela existem cerca de 30 grupos folclóricos lusos, que representam sobretudo as regiões do Minho e a Madeira. Anualmente realiza-se um festival de folclore, que vai já na sua 20ª edição, tendo também lugar um encontro de folclore continental e um encontro de folclore madeirense. São os grupos, os centros portugueses, seus associados e alguns empresários portugueses que divulgam o folclore luso e patrocinam as suas actividades na Venezuela, já que «não há apoio da parte dos órgãos institucionais portugueses». «Estamos a mais de 6 mil quilómetros de Portugal e das fontes de informação, por isso não podemos fazer recolhas com as pessoas idosas», e também «não contamos com a presença de conselheiros técnicos da Federação Portuguesa de Folclore na Venezuela para nos orientar», lamenta o jovem. Segundo Sérgio coloca-se também o problema do elevado custo dos tecidos, trajes, acessórios e até instrumentos originais vindos de Portugal. «Muitos temos que empregar as nossas férias para fazer investigação», conta.
Sérgio Correia admite que, comparativamente a outros países de forte emigração portuguesa, como França ou Suíça há diferenças visíveis na divulgação do folclore. «Já existe um historial de associativismo entre emigrantes portugueses e os grupos estão mais organizados para cooperar na divulgação do folclore», considera. Confrontado com o facto do Governo português divulgar «muito pouco o folclore», o grupo deverá ainda assim candidatar-se ao programa de apoios que concedidos às associações portuguesas no estrangeiro. «Sei que recentemente foi publicado no Diário da República o novo regulamento sobre os apoios. É uma boa notícia que espero venha contribuir a evolução do associativismo sério e organizado nas comunidades e em especial nas associações folclóricas», salientou o jovem folcloristas. Projectos a curto prazo também já existem. No próximo dia 10 de Outubro deverá ter início um curso de acordeão em Caracas. «A falta de acordeonistas é um dos problemas com que se confrontam os grupos folclóricos na Venezuela. Este instrumento não é comum na cultura venezuelana e só existe uma academia de acordeão na cidade de Valência, que fica longe para os folcloristas da capital», explica o mentor do grupo. Estão ainda previstos encontros entre os agrupamentos para troca de informações, conhecimentos e experiências referentes ao folclore e a cultura portuguesa.
Catarina Oliveira (jlco@netcabo.pt) in artigo do jornal “Lusitano” Contactos : CJF-Brasil Cristiane Amaral - cjfdobrasil@yahoo.com.br http://br.groups.yahoo.com/group/clubejovensfolcloristasbrasil CJF-Venezuela Sérgio Correia - scorreia40@hotmail.com http://br.groups.yahoo.com/group/clubejovensfolcloristasvenezuela http://br.groups.yahoo.com/group/clubejovensfolcloristas
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