Iclas - Instituto de Culturas Lusófonas
Antonio Borges Sampaio


07-09-2015

Memórias Luso-Goês, especialista de hipnose, Abade Faria (Índia – Goa – Candolim de Bardez/30.05.1756 – 20.09.1819/Paris) (Foto: Arnaldo Madureira, 1964, Arquivo Municipal de Lisboa)


(Foto: Arnaldo Madureira, 1964, Arquivo Municipal de Lisboa)

Topónimo de rua de Lisboa : Rua Abade Faria (Foto: Arnaldo Madureira, 1964, Arquivo Municipal de Lisboa)

Na década de 50 do século XX tendo a antiga Rua Carvalho Araújo ficado dividida em dois troços pela Alameda Dom Afonso Henriques e aproveitando então uma homenagem que se queria fazer ao Abade Faria, acolheu a toponímia lisboeta o nome deste especialista em hipnose.

A antiga Azinhaga do Areeiro passou por deliberação camarária de 08/08/1924 a denominar-se Rua Carvalho Araújo. Mas após a abertura da Alameda Dom Afonso Henriques veio o Edital municipal de 07/02/1957 clarificar que no troço sul se mantinha o nome de Rua Carvalho Araújo e no troço norte passava a Rua Abade Faria.

Esta atribuição do nome do Abade Faria a uma rua lisboeta teve a sua génese numa sugestão do então vereador Dr. Viegas da Costa, em 1945,  no sentido de que os nomes de Abade Faria e do Papa João XXI integrassem a toponímia citadina, situação que foi adiada até ser retomado pela Comissão Municipal de Toponímia, na sua reunião de 10/03/1950, para aceder ao pedido da comissão de homenagem à memória do Abade Faria constituída, nomeadamente, pelo professor doutor Egas Moniz, pelo Marquês de Faria,  e pelo doutor Luís da Cunha Gonçalves.  Sete anos mais tarde, a Comissão Municipal de Toponímia na sua reunião de 04/06/1957 também deliberou acrescentar a legenda «Cientista/1756 – 1819».

José Custódio Faria (Índia – Goa – Candolim de Bardez/30.05.1756 – 20.09.1819/Paris) foi um cientista luso-goês que chegado a Lisboa em 1771, partiu no ano seguinte para Roma, onde foi ordenado e  se formou em Teologia e Filosofia (1780). Regressado a Portugal, granjeou fama de pregador mas em 1788 já vivia em Paris, onde se tornou apoiante da Revolução Francesa e comandou mesmo uma das secções que atacaram a Convenção.

O Abade Faria era professor de Filosofia da Universidade de França e foi eleito membro da Academia de Medicina sem nunca ter sido médico, tendo iniciado as práticas do magnetismo com o Marquês de Puységur, em Paris,  abrindo mesmo um gabinete de magnetizador. Foi o primeiro a descrever com precisão os métodos e os efeitos da hipnose e as possibilidades da sugestão hipnótica no tratamento das doenças nervosas e, foram as práticas da hipnose que lhe granjearam fama imediata junto do público, a par da reprovação da igreja, além de muita controvérsia motivada pelas teses ousadas que defendia.

José Custódio Faria acabou os seus dias numa modesta ordem religiosa e, contudo, Alexandre Dumas imortalizou-o no seu romance O Conde de Monte Cristo, colocando-o a indicar ao protagonista Edmundo Dantes a localização do fabuloso tesouro de Monte Cristo, inspirado pelo exemplo do Abade Faria quando por razões desconhecidas este foi preso em 1797 e remetido a solitária no temido presídio Chateau d’If.

Freguesia do Areeiro

Freguesia do Areeiro

Fonte : (https://toponimialisboa.wordpress.com/2014/10/09/a-rua-do-especialista-de-hipnose-abade-faria/)