13-06-2016(MEMÓRIA LIBERTÁRIA)-1932 ANARQUISTAS DEPORTADOS PARA TIMOR FUNDAM ALIANÇA LIBERTÁRIA EM DILILeitura matinal na residência e sede da Aliança Libertária em Dili (Timor) -1932 Há alguns dias atrás, durante a Feira do Livro de Évora esteve aqui a professora e investigadora universitária, Luísa Tiago de Oliveira, a apresentar e a contextualizar historicamente o livro do timorense Luís Cardoso, recentemente editado, “O ano em que Pigafetta completou a circum-navegação”. Trata-se de um romance a que a historiadora fez um enquadramento global, atravessando as grandes linhas da história do território timorense. A dado passo, Luísa Tiago de Oliveira, salientou a dimensão que teve durante, sobretudo, a década de 30 do século passado, a deportação de presos de índole social e política para aquelas terras distantes. Disse que, em Timor, chegaram a estar cerca de 500 deportados, a maior parte anarquistas e anarcosindicalistas da CGT, vítimas de repressão que se seguiu à instauração do regime ditatorial pós 1926. 500 deportados em Timor era muita gente, tantos como os brancos que integravam a administração da ilha, o que levantava, só por si, problemas de segurança. Entre os anarquistas que estiveram em Timor há nomes como Arnaldo Simões Januário, de Coimbra, que depois veio a morrer no Tarrafal ou Manuel Viegas Carrascalão, nascido em S. Brás de Alportel, tipógrafo, secretário-geral das Juventudes Sindicalistas, por várias vezes preso, a última das quais em 1925, sendo condenado a 6 anos de degredo pelo Tribunal Militar e despachado para Timor em 1927, de onde nunca mais voltou. Este Manuel Viegas Carrascalão seria o fundador do clã Carrascalão (de que há ainda vários elementos ligados à actividade política timorense) e criou a fazenda “Algarve”, uma das mais prósperas (na altura) de Timor. Conduziu também a resistência à invasão japonesa nos anos 40. Segundo Luisa Tiago de Oliveira a forma de encarar os deportados também variou de governador para governador. Muitos foram espalhados pela ilha de forma a não poderem criar laços fortes, numas vezes. Vezes houve, no entanto que os governadores tentaram integrar os deportados, incentivando-os a participarem na actividade económica e social da ilha e a desenvolverem as actividades que eram as suas. Terá havido mesmo uma padaria em Dili criada por anarquistas que fornecia o pão à população branca. Nessa altura, de maior distensão social, foi mesmo constituída uma Aliança Libertária de Timor, com sede e tudo, possuíndo um boletim informativo que teve pelo menos três números (aqui). Nesta sua passagem por Évora, Luísa Tiago de Oliveira falou-me duma foto desta altura.Encontrei uma semelhante agora no arquivo Mosca (foto no início do texto). Alguns destes anarquistas fixaram-se em Timor Leste (como o Carrascalão). Outros regressaram a Portugal. Outros ainda foram morrer ao Tarrafal, como Simões Januário. Foi, no entanto, uma geração que lutou e foi fortemente reprimida, deportada e, por fim, em muitos casos, barbaramente assasinada. Foram largas dezenas os anarquistas mortos nas prisões, nas fugas, nas greves, nos atentados e nas acções contra o fascismo que se começava a impôr em Portugal e por toda a Europa. Hoje começa a recuperar-se essa memória. De uma geração que lutou até ao fim, mas cujos ecos só hoje começam a fazer-se ouvir junto das gerações mais jovens, mantendo viva a chama do ideal libertário. e.m. Marcelina Guterres e Manuel Viegas Carrascalão (aqui)
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