Iclas - Instituto de Culturas Lusófonas
Antonio Borges Sampaio


09-03-2015

Ao crepúsculo Viriato S Marques


Uma opinião que se inclui no que considero informação cidadã e esta a razão porque partilho o alerta do professor Viriato Soromenho Marques no artigo "Ao crepúsculo", onde "denuncia a tóxica combinação entre a incompetência técnica e a menoridade moral segregada pela elite avulsa que, no silêncio das leis e na indiferença geral, brotou e instalou-se numa cola promíscua, envolvendo partidos do arco da governação e negócios de agiotagem", uma situação que muitos ignoram ou silenciam.

Ao crepúsculo

 

por VIRIATO SOROMENHO MARQUES* Hoje

A grande superioridade da democracia é a da visibilidade. Os regimes onde o Estado se constitui como uma repressiva bolha de granito, não permitem a passagem da luz para as entranhas dos sistemas de poder efectivo. No meio do lento naufrágio do país e da Europa, contra tudo e contra todos, a ação da PGR, Joana Marques Vidal, e a liderança de Fernando Negrão, no inquérito parlamentar ao caso BES, têm ajudado os portugueses a perceber a tóxica combinação entre a incompetência técnica e a menoridade moral segregada pela elite avulsa que, no silêncio das leis e na indiferença geral, brotou e instalou-se numa cola promíscua, envolvendo partidos do arco da governação e negócios de agiotagem. Na situação actual, parece praticamente irrelevante manter ou não como primeiro-ministro alguém que se refugia na indigência económica e na mediania cívica para justificar uma reiterada escusa às obrigações contributivas. Como foi possível termos deixado chegar ao Estado, e ao topo da economia, pessoas a quem, provavelmente, não venderíamos um carro em segunda mão (recordando Watergate), arrivistas da finança e aventureiros da política, manifestamente, sem a sabedoria, a prudência estratégica, e o sentido da história imprescindíveis para navegar num dos mais complexos e perigosos momentos da política europeia e da história nacional? O nosso futuro colectivo decide-se em Berlim, Bruxelas e Atenas (por esta ordem). Em Lisboa vamos assistindo ao mais dispendioso espectáculo das nossas vidas: o crepúsculo de uma elite que a falência de um sistema imunitário (a vigilância das instituições e dos cidadãos) deixou em roda livre até ser demasiado tarde.

 

*José Viriato Soromenho Marques nasceu em Setúbal, a 9 de Dezembro de 1957. Licenciado em Filosofia pela Universidade de Lisboa (1979). Grau de mestre em Filosofia Contemporânea pela Universidade Nova de Lisboa, obtido com a defesa de uma tese sobre A caracterização trágica do niilismo em Nietzsche (1985). Doutorado em Filosofia pela Universidade de Lisboa com a defesa de uma tese subordinada ao título Razão e progresso na filosofia de Kant.(1991).

Foi bolseiro do Deutscher Akademischer Austauschdienst em Bremen (1986) e Berlim (1988). Em 1994 visitou os EUA, no âmbito do International Visitor Program. Regressou a esse país em 1997 no quadro de uma bolsa de pós-doutoramento. É membro de várias sociedades e organizações científicas em Portugal e no estrangeiro, nomeadamente da Sociedade Portuguesa de Filosofia, da International Society for Ecological Economics, da American Political Science Association, da Associação Portuguesa de Ciência Política. É o correspondente em Portugal da organização alemã de estudos ambientais Ecologic.
É atualmente professor catedrático na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa,regendo as cadeiras de Filosofia Social e Política e de História das Ideias na Europa Contemporânea (licenciatura). Coordena, igualmente, o mestrado em Filosofia da Natureza e do Ambiente que teve início no ano lectivo de 1995-1996. Tem também colaboração na licenciatura de Estudos Europeus, onde tem leccionado as disciplinas de História das Ideias na Europa Contemporânea e o Ambiente na Europa. Presidiu à Comissão Executiva do Departamento de Filosofia entre Maio de 1999 e Junho de 2002.

Proferiu ou orientou mais de sete centenas de conferências e cursos breves em Portugal e dezanove outros países. Publicou cerca de três centenas de estudos, abordando temas filosóficos, político-estratégicos, e ambientais. De entre os quinze livros publicados merecem destaque: Europa: o risco do futuro (Lisboa, Dom Quixote, 1985); Direitos humanos e revolução (Lisboa, Colibri, 1991); Europa: labirinto ou casa comum (Lisboa, Publicações Europa-América, 1993); Regressar à Terra: Consciência ecológica e política de ambiente (Lisboa, Fim de Século, 1994); História e política no pensamento de Kant (Lisboa, Publicações Europa-América, 1995); A Era da Cidadania. De Maquiavel a Jefferson (Lisboa, Publicações Europa-América, 1996); Ambiente e futuro: O caso português (Matosinhos, C.M. de Matosinhos, 1996); O futuro frágil. Os desafios da crise global do ambiente (Lisboa, Publicações Europa-América, 1998); Razão e Progresso na Filosofia de Kant (Lisboa, Edições Colibri, 1998); Ecologia e Ideologia (em co-autoria, Livros e Leituras, 1999); A Revolução Federal: Filosofia Política e Debate Constitucional na Fundação dos E.U.A (Lisboa, Edições Colibri, 2002). O Federalista, de Hamilton, Madison e Jay, tradução, introdução e notas com a colaboração de João C. S. Duarte (Lisboa, Edições Colibri, 2003); O Desafio da Água no Século XXI. Entre o Conflito e a Cooperação (coordenação científica, Lisboa, Editorial Notícias, 2003). Reflexões sobre a Arte de Vencer, de Frederico II da Prússia («Estudo Introdutório», Lisboa, Edições Sílabo, 2005), Estratégia Nacional para o Desenvolvimento Sustentável. Um projecto para Portugal (em co-autoria, Lisboa, Pandora, 2005), Metamorfoses. Entre o Colapso e o Desenvolvimento Sustentável (Mem Martins, Publicações Europa-América, 2005), Cidadania e Construção Europeia (coordenação, Lisboa, Museu da Presidência da República/Ideias e Rumos, 2005).

(adaptado de http://www.viriatosoromenho-marques.com/bio.html)

 

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