Iclas - Instituto de Culturas Lusófonas
Antonio Borges Sampaio


15-06-2017

Evitar a: postura dos homens que abrem excessivamente as pernas quando se sentam, ocupando os lugares ao lado do seu


"Manspreading" comportamento sexista tão culturalmente normalizado que muitas vezes nem se tem consciência do que significa e implica. Autocarros de Madrid começam agora a dar-lhe visibilidade.

 

 

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Já alguma vez tiveste de batalhar por espaço para os teus joelhos porque o passageiro do lado está sentado de pernas escancaradas? Pois bem, tal acto chama-se manspreading e pode ter os dias contados nos transportes públicos de Madrid.

 

A Empresa Municipal de Transportes (EMT) da capital espanhola anunciou em comunicado que vai incorporar na sua frota de autocarros um pictograma para evitar o manspreading, ou despatarre masculino em castelhano, termos que descrevem "a postura dos homens que abrem excessivamente as pernas quando se sentam, ocupando os lugares ao lado do seu".

 

O sinal, que vai integrar o novo painel informativo com as habituais recomendações aos passageiros, como validar o título de transporte ou ceder o lugar a quem necessita, é semelhante ao que já existe noutras cidades mundiais, como Nova Iorque. Pretende assim "recordar a necessidade de manter um comportamento cívico e de respeitar o espaço de toda a gente a bordo do autocarro".

 

A aplicação do ícone é resultado de uma colaboração entre a EMT, o departamento da Igualdade da Câmara de Madrid e o colectivo Microrrelatos Feministas que recentemente lançou uma petição online a apelar à introdução destes sinais nos transportes públicos madrilenos, reunindo quase 13 mil assinaturas — e muitos apoios à boleia da etiqueta #MadridSinManspreading no Twitter.

 

"Todos os transportes públicos têm autocolantes a explicar que é preciso dar espaço a grávidas, pessoas com carrinhos de bebé, idosos e pessoas com deficiência, mas há algo que afecta todas nós sempre que usamos transportes públicos: 'manspreading'", lê-se na campanha. "Não é uma questão de má educação. Da mesma maneira que a nós, mulheres, nos ensinaram a sentarmo-nos com as pernas muito juntas (como se fôssemos segurar algo entre os nossos joelhos), aos homens transmitiram-lhes uma ideia de hierarquia e territorialidade, como se o espaço lhes pertencesse."

 

A medida está longe de ser consensual, sobretudo junto dos homens, como se percebe num passeio pelo Twitter em que há explicações biológicas, e fisiológicas, para todos os gostos a justificar este comportamento. Um utilizador fez inclusive um croqui, bem gráfico e espirituoso, para mostrar as razões anatómicas de tal acto.

 

De acordo com o El Diario, o grupo parlamentar do Podemos na Assembleia de Madrid apresentou já o desejo de estender a proibição à rede de metro e a outros transportes: "Acreditamos que nomear e dar visibilidade a este tipo de comportamentos diários sexistas que passam despercebidos é o caminho a seguir para nos tornarmos mais conscientes, vermos o que não costumávamos ver e deixar a desigualdade e o machismo para trás", disse a deputada Clara Serra num vídeo em que apresenta a proposta.

 

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