31-01-2015Angola, o petróleo e a economia Jardo MuekaliaNo último trimestre do ano passado a tendência descendente do preço do petróleo agravou‐se fixando‐se abaixo dos $50.00 por barril em meados do mês corrente. Analistas oferecem várias razões para justificar esta queda vertiginosa do preço do ouro negro, que complica a execução e previsões orçamentais de muitos dos países cujas economias dele dependem. De facto, uma revisão rápida do mercado petrolífero revela que a flutuação do preço deste produto e ocorrência normal, tendo registado quedas consideráveis já nos anos 70 e 80. Porém, importa salientar que há factores múltiplos que, do meu ponto de vista, tornam a queda actual diferente das anteriores podendo ter uma duração mais longa com consequências drásticas para economias monoprodutivas, e demasiadamente expostas, como e o caso da Rússia, Venezuela, Angola, etc. Entre outros, saliento quatro factores: Com objectivo de criar auto-suficiência, os EUA ‐ maior consumidor ‐ tem em marcha uma série de iniciativas que incluem o aumento da produção domestica, com realce para o chamado petróleo de xisto e um investimento considerável no melhoramento de tecnologias para a exploração da fontes alternativas de energia – biocombustíveis, solar e eólica. A essência do problema e político. A dependência do petróleo do médio oriente, região com elevados níveis de instabilidade, torna a América vulnerável e viabilizava a transferência de montantes elevados de receitas para aquela região. O aumento da produção petrolífera canadiana, e a proposta de construção de um oleoduto que se estendera da província de Alberta aos estados Americanos da região do Golfo do México. A ascensão dos republicanos no último ciclo eleitoral, aumenta a probabilidade da aprovação deste projecto. A economia Chinesa continua a dar sinais de afrouxamento e a saúde económica da União Europeia ainda requer cuidados. A Arabia Saudita, que contem a maior reserva de petróleo com o mais baixo custo de produção, parece determinada a elevar os seus níveis de produção. E óbvio que, esta medida visa, por um lado criar concorrência a produção Americana, cujo custo de produção e elevado e, por outro, compensar o deficit criado pela queda do preço. Os quatro factores acima expostos têm, a médio e longo prazo, um efeito cumulativo que vai manter altos os níveis da oferta em relação a procura. Se quisermos ser optimistas e prever a recuperação das economias chinesa e europeia a curto prazo, poderá registar‐se um aumento da procura. Porem, e duvidoso que venha a ser suficiente para uma recuperação substancial dos preços. Em relação a estratégia Saudita, há três cenários prováveis: a) inunda o Mercado com petróleo barato forcando os Americanos a desistir; b) os Americanos desenvolvem tecnologias mais económicas de exploração do xisto e aguentando‐se no mercado; c) aumentam os desacordos no seio da OPEC, levando a uma maior liberalização da produção pelos seus membros e provável irrelevância gradual da instituição. Seja qual for o cenário que vier a prevalecer, e pode haver outros, vai haver muita oferta por um tempo indeterminado que vai continuar a sufocar os preços. No que diz respeito a Angola, torna‐se imperativo que o governo, veja esta situação como uma oportunidade para introduzir reformas e diversificar a economia criando alicerces seguros para a sua dinamização e para a prosperidade das próximas gerações. Na actual conjuntura internacional, a estabilização do mercado petrolífero não trará de volta os tempos dourados do passado recente. Ao nível global, e cada vez maior a gama de alternativas ao mesmo tempo que novas tecnologias reduzem os níveis de consumo. O petróleo continuara a ser relevante. Porem, manter a economia dependente do petróleo, seria uma política irresponsável e suicida. Já não podemos ir para as próximas batalhas económicas apenas com a artilharia. Assim, a viabilidade económica futura do nosso pais exige novos paradigmas de pensamento. No mínimo, este desafio implica: a) Abandonar a actual arrogância hegemonista que caracteriza o governo e, com humildade e responsabilidade, engajar a sociedade num diálogo sério sobre questões que enfermam o nosso crescimento colectivo, opções políticas e prioridades económicas. Um diálogo desta natureza não seria sinal de fraqueza mas sim, sinal de maturidade. Os governos existem para servir os cidadãos e a inclusão aumentara a probabilidade de sucesso das políticas a seguir; b) Diversificar a economia. Temos de passar das palavras a acção. Angola tem uma vasta gama de recursos naturais e enormes potencialidades nas áreas da agricultura e pesca, por exemplo. Além disso, o sector de serviços e a inserção de Angola na rede turística regional já existente, poderão trazer benefícios económicos; c) Diversificar o conhecimento e descentralizar a governação. E preciso investir mais no nosso capital humano que e, em ultima analise, a nossa maior riqueza. Trata‐se essencialmente da saúde e da educação, incluindo programas de treino profissional ajustados as necessidades de desenvolvimento de curto e médio prazo, por forma a maximizar os benefícios da diversificação. O desafio do futuro exige ainda o abandono da tradicional centralização governativa para que se criem polos de desenvolvimento nas várias províncias, se devolva a iniciativa e a criatividade aos cidadãos, beneficiando o país com a dinâmica da competição positiva, tanto ao nível da política, como da economia. d) Fazer com que a política externa de Angola sirva os objectivos da sua política nacional, buscando mais-valias no interesse colectivo. Estamos pois, perante uma oportunidade de buscar consensos e recorrer as nossas reservas nacionais para fazer investimentos prudentes e urgentes, tendo em vista o bem estar do cidadão e a preservação de uma sociedade estruturada, funcional e dinâmica.
Jardo Muekalia |