Iclas - Instituto de Culturas Lusófonas
Antonio Borges Sampaio


01-03-2007

Religiões Afro Brasileiras III Nádia S Chaia


Nádia Sidewi Chaia                

Esta a 3 ª parte do estudo de Nádia sobre as religiões afro-brasileiras.

            A umbanda no Brasil, embora tendo como pilar os cultos e ritos trazidos pelos bantu, adota nomes e saudações yorubanas para suas “divindades”; os cânticos (pontos)  são em português, mesclados de palavras em quimbundu/quicongo e yorubá,. Nos pontos de caboclo não raro encontram-se vocábulos de origem tupi/guaraní.
            É um culto às almas, uma vez que as entidades que incorporam nos médiuns tiveram o seu tempo de vida na terra, muito embora quando se referem às almas estejam falando mais especificamente da falange ou linha (denominação também muito usual) de pretos velhos.
            Tendo como uma de suas bases a pregação da paz e a melhoria das pessoas, tanto na vida material quanto na espiritual, a umbanda é uma religião essencialmente sincrética.
            Embora pareça um tanto complicado, vamos tentar demonstrar. A título de ilustração, incluo um ponto cantado ( também existem os pontos riscados) de cada linha.

Zâmbi (Nzambi)
           
            Deus criador do mundo. Divindade suprema no panteão bantu.

 

Anjo da guarda

            Todas as pessoas têm o seu anjo da guarda e cada médium reverencia e cuida do seu com atenção. Nos terreiros tradicionais mais antigos, no início da sessão as luzes são reduzidas e, na penumbra, cantam pedindo a ajuda dos anjos para que tudo corra bem nos “trabalhos”.
Eis um dos muitos pontos existentes –

                        “Senhor do Mundo,
                         Oxalá, meu pai...
                        Permita meu Senhor
                        Que aqui possa chegar
                        Meu anjo da guarda
                        Para me ajudar...”

Oxalá

            Divindade yorubana, o pai de todos, senhor do perdão. Sincretizado com o Senhor do Bonfim e, por ser filho de Olorum ( Deus criador yorubano), é também sincretizado com Jesus Cristo.
            Nenhum fiel ousa fazer um juramento em nome de Oxalá se não tiver certeza de que o irá cumprir.
            Não incorpora na umbanda.

                        “Oxalá meu Pai
                        Tem pena de nós, tem dó...
                        A volta do mundo é grande,
                        Seu poder ainda é maior...”

 

Oxóssi ( divindade da caça entre os yorubanos)

            É na linha de Oxóssi, sincretizado com São Sebastião, que incorporam os caboclos de pena. Gostam de vinho e charutos. Os boiadeiros têm linha e cânticos próprios.

                        “Mano meu, mano meu
                        aonde estás que não respondes......
                        Mano meu, mano meu
                        Aonde estás que não respondes...
                        Ai mano meu, nunca fiz mal a ninguém
                        Ai mano meu, eu só sei fazer o bem...”

 

Ogum (divindade yorubana – senhor da guerra )

            É na linha de Ogum, sincretizado com São Jorge, que incorporam os guerreiros, os vencedores de demanda, aqueles que cortam o mal. Apresentam-se com nomes tais como Ogum Beira Mar, Ogum Rompe Mato, Ogum Megê, Ogum Sete Ondas, Ogum Sete Marolas,  e assim por diante. Gostam de cerveja e de charutos.
            Seus pontos falam em batalhas vencidas e em retiradas de obstáculos dos caminhos. São de pouco falar.

                        Ogum cavaleiro do céu,
                        Vencedor de demandas
                        Da banda de São Miguel.
                        Ogum olha sua bandeira
                        Ogum olha a sua banda
                        Ogum  megê ogum dilê, ogum iara
                        Cavaleiro de ronda
                        Que vence demanda
                        Na sua seara...”

Xangô (divindade yorubana – promotor da justiça)

            Na linha de Xangô, sincretizado com São Jerônimo e/ou São João Batista, dependendo de como se apresentam, incorporam espíritos solitários que, em geral, ou não falam ou falam muito pouco. Gostam de cerveja preta e de charutos.
            Não gostam de injustiças. Seus devotos costumam ter uma fé absoluta neles. Eis, abaixo, um ponto que bem demonstra o que foi dito.

                        Eu vi meu Pai Xangô
                        Lá na pedreira.
                        Eu tenho fé no senhor
                        Até o fim...
                        Mas se me faltar
                        A fé pelo senhor
                        Que role a sua pedreira sobre mim....”

Retirado do grupo de diálogos : br.groups.yahoo.com/group/dialogos_lusofonos/