Iclas - Instituto de Culturas Lusófonas
Antonio Borges Sampaio


24-10-2007

CPLP -Terceira Via José Aparecido de Oliveira


José Aparecido Oliveira, 1999   *

 

Os 500 anos do achamento do Brasil escolhidos para uma edição da “Revista Nacional” , não se limitam por certo à comemoração festiva com que o mundo luso-brasileiro celebra o acontecimento culminante das navegações na inauguração do século XVI. Estamos sendo chamados na verdade a uma reflexão capaz de desenhar as projeções de nosso destino comum no vestíbulo do novo século e de um novo milênio.

 

Há 500 anos éramos apenas a audácia e o sonho de um pequeno país da finisterrae da Europa engajado na fé e na esperança de abrir novos horizontes ao ocidente. Hoje, esta fé e este sonho  incorporaram uma realidade própria; somo 8 nações independentes que marcaram sua presença em  todos os continentes com o compromisso de uma fidelidade à sua identidade comum. Não terá sido por acaso que os oitos países surgidos da aventura histórica das navegações tomando consciência que o achamento foi trabalho e façanha de um mesmo “achador” se reuniram no marco deste meio milênio para a confirmação de suas origens e de seu destino nacional com a instituição da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa.

 

Também não será por acaso que as virtualidades da CPLP , apenas balbuciadas elo angolano Marcolino Moco na gestão experimental de sua implantação, vão ser postas à prova agora, neste ano de comemorações quando caberá ao Brasil assumir, no próximo dia 15 de junho, as funções executivas. Ninguém poderá elidir as penosas responsabilidades que como Embaixdor do Brasil em Lisboa, carreguei em meus próprios ombros, para chegar à criação do organismo que hoje nos identifica no fórum das comunidades  e dos blocos pluri-nacionais .A entidade foi projetada, inicialmente, na Embaixada do Brasil, com uma equipe de funcionários competentes, como costumas  ser os funcionários diplomáticos do nosso país.

O projeto elaborado em nossa chancelaria, jamais teria alcançado êxito, sem a colaboração dos países lusófonos que fui buscar pessoalmente junto ao governo africano e, mais que tudo, sem o aval, sem o estímulo, sem a eficaz experiência  do estadista português, o então presidente Mário Soares.

Desde o primeiro momento insisti que se fosse o caso de atribuir a Secretaria Executiva da CPLP a um representante brasileiro o Itamarati dispunha de quadros de primeira qualidade para a função. Agora, quando a sucessão do comando da Comunidade é oferecida ao governo brasileiro, pela rotatividade da ordem alfabética, parece que dois nomes estiveram em cogitação nos círculos do poder, em Brasília. Um deles seria o do ministro da Justiça José Gregori e outro, o da professora Dulce Pereira,oriunda dos meios acadêmicos e atual presidente da Fundação Palmares, órgão que eu mesmo apoiei quando Ministro da Cultura do Governo do Presidente José Sarney, e que representa os nacionais de origem africana, cuja a presença é tão significativa na formação e desenvolvimento da sociedade brasileira.

Com  meus deveres e compromissos que não podem deixar de ser os de um militante ,ex-officio, da CPLP espero que os cidadãos e os governos de nossos oito países se mantenham atentos e vigilantes para que a entidade possa ser, afinal, aquilo com que sonharam seus fundadores uma expressão viva e dinâmica dos mais de duzentos milhões de pessoas que se servem da língua portuguesa para dar um lugar no mundo à inteligência,à cultura e ao saber e à economia de seus povos. O  Brasil que ocupa hoje o sétimo lugar no Fórum mundial de Empresas que produzem a riqueza das nações,pode e deve contribuir de maneira expressiva, para que, juntos, Angola,Cabo verde, Guiné-Bissau,Moçambique, Portugal, S Tomé e Príncipe e Timor –Leste estruturem um bloco de poder  econômico e político á altura da nossa expressão idiomática:somos a terceira língua do Ocidente .Podemos vir a ser a terceira força econômica do hemisfério. E mais do que isso: podemos ser, afinal, aquela terceira via da democracia política e social acenada pelo pensamento contemporâneo á Paz e ao equilíbrio da sociedade do século XXI.

 

* José Aparecido de Oliveira, antigo Embaixador do Brasil  em Portugal, 1929-2007