04-10-2021Um pequeno passo para os media um grande passo para a lusofonia
Carlos Fino, in FB
Desde a passada quinta-feira, dia 30 de setembro, os jornais Folha de São Paulo (brasileiro), Público e Mensagem de Lisboa (portugueses), passaram a publicar nas suas versões digitais e sob o título comum “Onde se fala português”, matérias cruzadas sobre as diversas realidades dos países lusófonos. A iniciativa, embora pareça óbvia já que a mesma língua a isso há muito clama, e seja até, para os jornais que a assumem, um pequeno passo no rumo da colaboração, não deixa por isso de ter a força exemplar do ovo de Colombo. Tão estagnadas têm estado as coisas neste domínio dos media de língua portuguesa que o simples facto de uma troca de matérias que há muito se impunha acabar agora por acontecer assume foros de um grande passo para a lusofonia. Como lembrou António Manuel Teixeira Mendes, superintendente do Grupo Folha no dia do lançamento, a concepção do projeto começou a despontar em 2018, quando numa pesquisa sobre a percepção dos brasileiros que desejavam deixar o país, Portugal apareceu em segundo lugar como possível destino, com 8% das menções, logo atrás dos EUA, com 14%. “Não era mais uma relação de imigração, mas de troca, sobretudo entre os brasileiros de classe média que começaram a se mudar para lá", diz. "Eles descobriram, então, uma nova relação de proximidade, além da proporcionada pela língua, uma sensação de pertencimento. Foi uma espécie de epifania." Epifania porque o distanciamento e/ou estranhamento que se instalou foi tão grande que muitos brasileiros nem sequer associam a língua que falam ao país que somos. Agora, com a publicação desta página diária, a Folha pretende ir ao encontro do crescente interesse dos brasileiros por Portugal, tanto em termos de estudos superiores - com milhares de jovens inscritos em universidades portuguesas - como de investimentos , gastronomia e turismo. "Não só em relação a Portugal mas também a outros países de língua portuguesa na África e na Ásia, com o intuito de fortalecer ainda mais esse vínculo. O novo canal da Folha é um espaço para realçar essa redescoberta, esse pertencimento." Por seu turno, Manuel Carvalho, diretor do Público, realçou que "O que acontece no Brasil e nos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa é de grande interesse para os leitores portugueses. Mas este projeto interessa não apenas aos leitores nacionais. Já estamos unidos pela mesma língua e pelos mesmos valores em favor da democracia e do Estado de Direito. O jornalismo de referência que partilhamos só pode servir para cimentar essa relação entre as duas margens do Atlântico." Catarina Carvalho, diretora da Mensagem, lembra que “Boa parte do mundo que é Lisboa é brasileira”. “Sendo a Mensagem um jornal da cidade, comunitário, próximo das pessoas, temos muitas ligações com a comunidade brasileira que aqui vive. É muito importante e uma enorme honra para um projeto tão jovem como a Mensagem este encontro com a Folha." O enriquecimento mútuo que desta colaboração cruzada resulta para todos está patente na diversidade de temas abordados já nos primeiros dias deste mundo “Onde se fala português”. Abrangendo cultura, turismo, gastronomia e outros temas, essas reportagens cruzadas têm sido verdadeiras janelas abertas, uma lufada de ar fresco para o grande público se dar conta das mais diversas peculiaridades das diferentes nações lusófonas. A ideia é que o projeto ajude a preservar essa riqueza e a aumentar a compreensão mútua entre os países e povos de língua portuguesa. A Folha, o Público e a Mensagem de Lisboa estão de parabéns. E com eles, todos nós: um pequeno passo para os media, um grande passo para a Lusofonia! CF
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