20-11-2014Quem é João? por Aline FrazãoQuem é João? por Aline FrazãoNot For The Weak Hearts! Man Walks Between Chicago Skyscrapers Blindfold And No Harness! (Buzzwok) •20.11.2014 • 00h00 • atualizado às 18h07 Se João (sujeito imaginário) partilha em público uma ideia sobre o país, antes de analisarmos essa opinião, queremos em primeiro lugar saber uma coisa: quem é João? Será que João é angolano? Ou será que é português? João é da UNITA ou do MPLA? Trabalha na Sonangol ou é expatriado? João é angolano a viver em Angola ou no estrangeiro? João tem 20 anos ou 60? Ele é do norte ou do sul? Quem são os pais do João? Os avós dele de onde são? Mais importante ainda: João “quê”? Normalmente, a resposta a estas perguntas vai condicionar a opinião que as pessoas terão sobre a opinião de João. Trata-se de uma espécie de teste, de contexto necessário para avaliarmos a credibilidade do orador. Não há nada mais inquietante do que o anonimato social de alguém que emite uma opinião sobre Angola. Se não soubermos quem é João, teremos que inventar-lhe uma biografia que justifique aquela opinião, algum interesse oculto, alguma maldade, alguma ingenuidade. “- Não, esse miúdo está a falar assim porque viveu muitos anos em Portugal.” “- Esse kota é da UNITA, estou-te a dizer.” “- Nada, esses tugas vêm p’ra aqui falar do que não sabem, sempre a implicarem com Angola. Invejosos. ” “- Ele é um frustrado, um simples peão dos interesses estrangeiros!” “- Mas onde é que ele estava em 92?” Não se pode, contudo, afirmar que no âmbito da comunicação pública, e em especial política, o contexto não importe. Por um lado, há debates que estão inseridos em contextos específicos e complexos. É pouco eficaz não ter isso em conta. Todos nós pertencemos, no fundo, a alguma parte, ainda que nem sempre isso tenha que explicar as nossas opiniões. O que é mais importante para o debate: a mensagem ou o mensageiro? Ignorar por completo o conteúdo do que é dito e centrar a discussão nas próprias pessoas é a melhor maneira de esvaziar o próprio debate de qualquer sentido. Isso impede-nos de avançar. É a armadilha perfeita, a falácia das intrigas, pois em vez de se contestar o argumento de João, preocupamo-nos em descredibilizá-lo ou denegrir a sua imagem. A tal ponto que uma mesma frase pode ter duas interpretações diferentes para um mesmo auditório: enquanto que na boca de João é falsa, na de Maria é verdade absoluta. No fundo, não é preciso sabermos quem é João para concordarmos ou não com as suas opiniões. Esse julgamento depende do nosso sentido crítico e de quão rigoroso for o debate. Já João, esse, convém que saiba bem quem é e a responsabilidade que tem quando sobe ao palanque para dar uma opinião. Dificilmente ela virá sozinha. |