11-11-2014O caminho das simbologias no quotidiano Paulo Mendes Pinto e Fernando CatarinoAFP Do Like a Virgin de Madonna à interpretação da Irmã Cristina, ou o caminho das simbologias no quotidiano
10.11.2014 Paulo Mendes Pinto e Fernando Catarino Por uma ideia comum, as questões simbólicas são normalmente reduzidas a espaços e tempos muito concretos. A simbólica encontra-se em lugares especiais, por motivos muito rebuscados e complexos. Os inúmeros romances pseudo-históricos consolidaram essa ideia, levando-nos a pensar como que em universos paralelos movidos e regidos por poderes simbólicos que não encontramos no nosso dia-a-dia. Contudo, nada de mais errado. E não o é apenas por hoje se estar a viver uma fase da nossa História, Mental e das Ideias, onde tudo se mistura e onde podemos encontrar narrativas simbólicas disseminadas por todo o lado. Por natureza, os símbolos nascem das dinâmicas da vida e da sociedade, dos estereótipos ou das realidades arquetípicas, do que nos toca psicológica e neuronalmente, isto é, daquilo que nos diz alguma coisa sem ser necessário ir à escola para o saber ou, pelo menos, o intuir. É impossível fugir a elas, porque nos são como que constitutivas. Essas ideias, reacções e leituras, quase que inatas, automáticas, resultam de elementos, não de conhecimento escolarizado, mas de depurações mentais de ideias e de significados com milhares de anos, simplificações de pensamento que vão ao essencial de uma verdadeira aprendizagem de espécie e que estão marcados nas nossas atitudes através de aspectos inconscientes, quase tão forte como o ADN. Poderíamos tentar discorrer sobre a razão que nos leva a ter um temor tremendo perante a bandeira negra do suposto Estado Islâmico, mas nunca tal aconteceria se a opção dos terroristas tivesse sido o rosa… e, obviamente, também não precisamos de elaborar tese nenhuma para saber o óbvio: de certeza que nessa organização terrorista o rosa nunca terá sido opção! É neste campo do simples que a simbologia se joga na sua mais básica estrutura. E é exactamente por a leitura simbólica permitir uma quase universalidade de acessos, mesmo para quem não tem “instrução” técnica, especializada ou iniciática, que a encontramos por todo o lado, mesmo quando o julgamos quase impossível. O campo mais frequente, quando falamos dos media, é o do confronto. Desde a década de 1980 que ostentar ou usar símbolos religiosos se tornou moda. De Madonna com o seu crucifixo, ou do seu famoso Like a Prayer, já não se repara, sequer, que estamos perante um uso que gerou alguma polémica na época. Hoje temos uma freira transformada em estrela pop a cantar angelicalmente uma música que na época terá causado muitos insultos por blasfémia. E este é apenas um exemplo de como o uso das simbologias é plástico e elástico. Regularmente, Madonna continua a fazer tremer as instâncias religiosas como quando em 2008 fez uma tournée onde misturava e usava a seu belo gosto os principais símbolos religiosos dos três monoteísmos abraâmicos. De resto a arte, tal como a publicidade e a cultura popular, apreendeu que as religiões convivem muito mal com a inovação estética mas, especialmente, convivem ainda pior com o uso das suas mais centrais simbólicas. Resultado: hoje em dia está plenamente banalizado tudo o que a Madonna quebrou há 30 anos. A grande vantagem, em termos civilizacionais, é que nos tornámos mais directos e, acima de tudo, mais democráticos. Depois de uma década com os imaginários de Harry Potter e de Dan Brown, a Maçonaria veio também para o espaço público através dos graffitis. O que aparentava ser elite transformou-se em cultura popular. Sem dúvida, o olhar atento para as nossas cidades vai encontrar em poucos minutos um sem número de usos de simbologia religiosa. A moda das tatuagens faz com que muita gente transporte na sua pele o que não imagina que seja! Os grafiteiros colocam à frente dos nossos olhos verdadeiras e complexas narrativas simbólicas dignas dos meios iniciáticos mais exigentes. Foi por tudo isto que desenvolvemos o projecto NEO | SIMBOLOGIAS | DIFUSAS. Divirtam-se e deliciem-se com o complexo, o simples e, especialmente, o inesperado. Os autores são professores de Ciência das Religiões, da Universidade Lusófona |