Em 2007 evoca-se os duzentos anos da ida de D. João VI para o Brasil e, mais uma vez, em Portugal, um evento de tão magna importância e significado tem permanecido ignorado da comunicação social e dos poderes culturais. Felizmente podemos assinalar a realização de um notável trabalho académico que acaba de ser publicado, vindo, assim, salvar a honra da cultura portuguesa. A ida de D. João VI para o Brasil, em 1807, corresponde a uma retirada estratégica discutível, mas que viria a ter resultados positivos contra os interesses hegemónicos de Napoleão e enormes repercussões directas em Portugal e no Brasil, como facto que antecedeu a independência deste país e o início do liberalismo naquele. O livro de Ana Canas resultou da preparação da sua tese de doutoramento e da realização de intensas pesquisas em arquivos europeus e do Brasil. A sua redacção é elaborada em duas frentes que se interpenetram e que passam pela focagem da história luso-brasileira nas suas relações internacionais para um período chave que vai fundamentalmente de 1807 a 1822, e pela análise dos reflexos de tal conjuntura na estruturação arquivística dos documentos então produzidos. O trabalho apresentado é de grande relevo para o conhecimento do relacionamento entre Portugal e Brasil e, por isso, deveria ter a mais ampla promoção como exemplo concreto da demonstração de como Portugal e o Brasil estão ligados pela História, em particular numa fase tão problemática como foi a do início da Idade Contemporânea. A autora revela como se realizaram várias iniciativas para reproduzir e tornar mais acessíveis documentos aqui considerados, mas aponta a necessidade de tais trabalhos serem retomados, aprofundados e divulgados, a bem da identidade luso-brasileira revelada por um valioso património comum.
|