Iclas - Instituto de Culturas Lusófonas
Antonio Borges Sampaio


24-10-2007

Projecto Resgate - Portugal: Arquivos copiados para fazer a História do Brasil


LEONOR FIGUEIREDO
Operação Resgate quer poupar nas bolsas de estudo
O Projecto Resgate-Portugal, do governo brasileiro, que envolve um investimento público e privado de 2,15 milhões de euros, já microfilmou e digitalizou três milhões de manuscritos, referentes a 250 mil documentos que estão em Lisboa, e contam a História do Brasil, numa gigantesca tarefa que acaba em 2008.

A ideia vinha de longa data, mas só beneficiou de impulso político e financeiro nos anos 90, vindo a proporcionar a reprodução sistemática do conteúdo de milhares de caixas com documentação sobre a vida da antiga colónia portuguesa que alcançou a independência em 1822.

"A comemoração dos 500 anos do 'achamento' do Brasil foi a grande alavanca para este projecto que é um sonho muito antigo dos estudiosos brasileiros", revela, ao DN, a professora Esther Bertoletti, coordenadora técnica do Projecto Resgate, que esteve esta semana em Lisboa.

Ao dar acesso no Brasil a todo este material que abrange factos do século XVII até meados do século XIX, a um número crescente de investigadores e universitários que se interessam por esta época colonial, o Governo também poupará na concessão de bolsas para a Europa.

"Antigamente só os mais velhos é que estudavam 'a colónia'. Só a partir dos anos 70 e 80 é que os professores foram sensibilizando os alunos e, na década de 90, surge um interesse crescente nos jovens investigadores, também por se tratar de uma área nova e diferente para a pesquisa. É evidente que levando a reprodução dos documentos, não só ficam disponíveis a qualquer cidadão, como evitamos que os alunos das universidades tenham de vir para Portugal com bolsas de estudo. A gente não tem dinheiro para dar tanta bolsa, preferimos investir em trazer cópias da documentação. Neste momento a pro- cura é tão grande que foram aparecendo cursos especiais para se aprender a ler documentos antigos", sublinha Esther Bertoletti.

Portugal também lucra

Esta operação de resgate da memória, iniciada (lentamente) há 15 anos, foi tendo a participação de 120 jovens universitários brasileiros e cerca de uma dúzia de portugueses da Universidade Nova de Lisboa.

A esmagadora maioria da documentação portuguesa que interessa ao Brasil, 80 por cento, encontra-se no Arquivo Histórico Ultramarino (AHU), em Lisboa, onde uma equipa brasileira dispõe de espaço para os trabalhos necessários à microfilmagem e digitalização dos manuscritos históricos, não sem antes ler página por página, e fazer um verbete-resumo para publicação.

"Existem ainda manuscritos na biblioteca do Palácio da Ajuda, em Coimbra e em Évora", salienta a coordenadora, mas lembra que a equipa do Projecto Resgate quer para já terminar a tarefa no AHU, que se prevê finalizada no próximo ano.

O interesse na reprodução dos documentos vai até 1835, anos depois da independência, porque só nessa data é extinto o Conselho Ultramarino, criado pelos monarcas portugueses, explica Esther Bertoletti, "para terem informações sobre as colónias e tomarem decisões".

Em breve, cada uma das universidades federais, algumas particulares e os institutos históricos brasileiros terão 305 CD com todo o material recolhido em Portugal. O nosso país fica com cópias do que foi microfilmado e tem a promessa brasileira de enviar cópias da documentação levada com a corte (Biblioteca Real), uma parte da qual (cerca de um milhão de páginas) já chegou e está na Torre do Tombo.