19-04-2015Sociedades em mudança - Aposentados indianos rompem a tradição de morar com a família AFPPor Por Rachel O'BRIEN | AFP – qua, 15 de abr de 2015Quando Usha Mantri foi morar em uma aldeia para aposentados nove anos atrás, era era uma pioneira. Hoje, é cada vez maior o número de indianos que evita a convivência de várias gerações debaixo do mesmo teto. Esta mulher, hoje com 69 anos, não teve muitas dificuldades para decidir se instalar na residência situada nas montanhas do oeste da Índia, a duas horas de carro de Mumbai, onde mora seu filho. O complexo dispõe de um templo hindu e oferece massagens aiurvédicas, seguindo as recomendações da medicina tradicional indiana. "Penso de uma forma muito diferente", diz esta mulher em sua casa no Dignity Lifestyle Retirement Township, uma das primeiras aldeias para aposentados da Índia. "Quero que o meu filho disponha de total liberdade, que também reivindico para mim", continua. Usha Mantri foi a primeira moradora desta residência, que mais parece um modesto complexo para férias. Hoje ela tem mais de 60 vizinhos. A construção de aldeias para aposentados se desenvolve rapidamente na Índia. Em 2013, havia 30 concluídas e outras tantas em projeto, segundo números do grupo imobiliário Jones Lang LaSalle India (JLL). A maioria dos idosos da Índia ainda prefere viver com a família, mas o desenvolvimento e a modernização do país, a mobilidade dos filhos e o aumento da expectativa de vida impulsionam outras opções. "Lentamente, a mentalidade está mudando", conta Hemlata Parekh, professora aposentada, vizinha de Usha Mantri. Hemlata Parekh, de 82 anos, que não tem filhos, mas sim irmãos e irmãs vivendo em Mumbai, acredita que as tarefas domésticas se tornaram muito pesadas e que circular pela cidade é difícil. Dignity tem a vantagem de oferecer um refeitório, uma segurança permanente e um médico. A residência organiza saídas para ir de compras e passeios campestres para os mais ativos. "É uma residência para uma aposentadoria sem complicações", diz Parekh. Promotores e hospitais Este modelo para aposentados tem muito futuro devido ao espetacular crescimento do número de aposentados e ao aumento do poder aquisitivo. Hoje, mais de 100 milhões de indianos têm mais de 60 anos e em 2050 serão mais de 300 milhões, ou seja, 20% da população, segundo a associação HelpAge India. Manish Kumar, especialista do JLL, avalia em 312.000 moradias a demanda anual para este tipo de residência. No entanto, segundo ele, por enquanto só há entre 10.000 e 15.000 projetadas. Os residentes podem comprar uma casa em uma destas aldeias ou, como na Dignity, depositar uma quantia em dinheiro que é reembolsado em 75% em caso de morte ou mudança. Além do depósito, que equivale a 55.000 dólares, os residentes pagam 162 dólares mensais de aluguel e um pequeno valor por cada refeição. As residências em projeto se situam sobretudo no oeste e no sul da Índia, onde o nível de educação é mais elevado e a emigração dos jovens, mais frequente, diz Kumar. Classe média como alvo Uma das residências, a Antara Senior Living, perto do Himalaia, visa a uma clientela mais endinheirada, mas a maioria dos projetos tem como alvo as classes média e alta. "Se um homem rico manda seu pai para um lar de idosos, será olhado com desprezo", explica Gopal Srinivasan, administrador da Dignity. "Os muito ricos ficam com os pais em casa e contratam uma enfermeira para que cuide deles 24 horas por dia e um médico para que os visite todo dia", diz. Na base da pirâmide social estão os que não podem se permitir semelhante despesa, ou seja, a grande maioria dos idosos da Índia que chegam ao fim da vida ativa sem poder desfrutar de uma pensão. Por diversas razões, 90% dos trabalhadores estão nesta situação, diz Prakash Borgaonkar, diretor da HelpAge India, em Mumbai. O governo só paga subsídio para as pessoas que vivem abaixo da linha da pobreza, uma minoria, e além disso obtê-lo é muito difícil, acrescenta. As moradias públicas para aposentados se encontram em estado desastroso e os maus tratos aos idosos por parte dos filhos aumenta, indica. "A sociedade muda rapidamente e como a organização familiar conjunta explode, os mais velhos vivem isolados e abandonados", lamenta Prakash Borgaonkar. |