24-06-2004BRIZOLA VIVE Xico XadrezQuando os sinos plangem em São Borja, é necessário auscutar-lhes. Naquela porteira do Brasil, que fica no Rio Grande do Sul, aviva-se nossa memória. Estes tem sido dias, que surpreendem muitos. Para os desavisados, a comoção em torno do falecimento de Leonel Brizola foi surpreendente. Desde o povo simples do Rio de Janeiro, descendo dos morros para prestar a última homenagem no Palácio da Guanabara até o contraste com políticos oportunistas que receberam sonora e merecida vaia. Mas, tudo se olvida quando se ouvem os sinos de São Borja. Esta terra onde descansam os restos mortais de presidentes que nunca deixaram de ser amados pelo povo: Getúlio Vargas e João Goulart, o Jango, derrubado pelos militares em 1964, início de um longo período negro em nossa história, que duraria vinte longos e tenebrosos anos. Este mesmo povo, está comprovado, nunca deixou, também, de amar e venerar Leonel de Moura Brizola que, com seus exemplos edificantes, é herói de um país; foi governador em dois estados. O fato é que Brizola nunca se entregou. Foram 82 anos de resistência indômita. Este líder que batalhou para que o golpe militar fracassasse em 1961, construindo a Cadeia da Legalidade, através de místicas ondas radiofônicas, que ainda ressoam até hoje. Como já ressoam os sinos da despedida em São Borja. Sua voz forte nunca se calou. Quando chegou ao Brasil, em 1979, após longo período no exílio, não entrega os pontos. O Poder Dominante negou-lhe a própria sigla do PTB - Partido Trabalhista Brasileiro. E, em 1981, contra tudo e contra todos, funda o modesto PDT - Partido Democrático Trabalhista - filiado à Internacional Socialista presidida por António Guterrez. Enfim, o PDT foi sua nova âncora para grandes batalhas nacionalistas! Houve vitórias. Houve derrotas. Mas, Brizola nunca se entregou. Elege-se governador do Rio de Janeiro em 1982, surpreendendo meio mundo. Tentaram roubar na maquininha. Mas, sua voz forte ressoou mundo afora e evitou-se a fraude. Com o grande educador Darcy Ribeiro, forma uma parceria, a quem tanto devemos. A efetivação dos CIEPS, com escolas em tempo integral, valorizaram o aluno, abriram novas perspectivas pedagógicas. Era o socialismo moreno em ação. Muitos reconhecem: caso o Poder tivesse espalhado a semente Brasil afora, com CIEPS em todo lugar, a criminalidade teria sido ceifada em nosso país. Teríamos mais segurança, seríamos bem mais feliz. Não ouviram a linguagem do povo satisfeito. Não ouviram a voz de Brizola. E, não ouviram a voz de Darcy Ribeiro. Parte da imprensa criticou a Brizola por sua postura crítica ao governo neoliberal do sindicalista Lula, sem ousadia, sem honrar seus compromissos, traindo o povo brasileiro com salário infames. Mas, a palavra de Brizola não se cala e é uma referência para todos nós. A crítica a este modelo retrógrado, que sustém dívidas externa e internas, muitas vezes já pagas, é um despautério, que Brizola sempre denunciou. Leonel de Moura Brizola: uma voz crítica, que andou sensibilizando o país. Seu destino era ser o nosso presidente. Houve um corte de 1964 a 1984, 20 Anos de Ditadura, que podaram as lideranças, esvaziou noss país, onde torturaram corpos, mentes e corações. Vamos chorar por Brizola, mas é preciso que imitemos seu exemplo crítico para formatar um país melhor, com menos desigualdades sociais. Os sinos plangem em São Borja. Como dobraram também em Porto Alegre onde multidões foram recebê-lo, reconhecidos por tanta generosidade e patriotismo deste honrado gaúcho. Não devemos perguntar, diz o poeta, por quem os sinos tocam. No fundo, parecem falar da falta que faz Brizola, de uma ausência que é mais que uma ausência. Era o líder de um país carente, entregue, sofrido, que não tem mais em quem acreditar. Mas, se você ouvir melhor os sinos, ouvirá com clareza uma mensagem bem sutil, um convite à reflexão: BRIZOLA VIVE, Brizola Vive. BRIZOLA VIVE!! * Francisco José dos Santos Neto (Xico Xadrez) - jornalista MTb 3201 e-mail:xicoxadrez@hotmail.com site: www.ldc.com.br/iclas |