30-11-2001Culturas - O Europeu TropicalO Caracu influenciou as raças que chegaram até hoje O boi Caracu começou por volta de 27 a. C., quando o imperador Júlio César Augusto alcançou o rio Loire, na região da Gália, ali deixando um gado que, mais tarde, chegaria a Portugal e à Hispânia (200 a.C. ). Desde o Império Romano, passando pela Idade Média, foram se misturando o Bos Aquitanicus (França), o Bos Ibericus (Portugal e Espanha) e o Bos Batavicus (ancestral do gado Holandês), resultando na formação das ibéricas (Portugal e Espanha): Alentejana, Minhota, Mirandesa, Arauquesa, Galesa, etc. Boa parte dos estudiosos acredita que o Caracu seja originário das raças Minhota e Alentejana, ou da mistura de diversos gados ibéricos, nos séculos XVI e XVII, no Brasil. A origem científica, no entanto, só será possível quando for realizado um Genoma do Caracu, ou seja, um mapeamento genético minucioso. O Caracu era um dos tipos preferidos no final do século XIX, no Brasil, dando origem a diversos grupamentos étnicos, como o Jaguanes, o Lageano, o Curraleiro, o Francano (Franqueiro ou Pedreiro), O Junqueiro, o Bruxo, o Baio, o Mocho, etc. A primeira exposição brasileira aconteceu em 1908, na capital, Rio de Janeiro, comemorando cem anos da abertura dos Portos. Ali, o Caracu brilhou ao lado de diversas raças européias. Foi tanto o sucesso que, logo a seguir, em 1909, foi fundado o Posto de Seleção de Nova Odessa (SP), para as raças Caracu e Mocho Nacional. Depois, em 1911,aconteceu a primeira Exposição de Uberaba, com a finalidade de promover o gado Zebu, num recinto planejado e decorado como se fosse a Índia. Ali, no auge da festança, o campeão entre todas as raças presentes, foi o touro "Brasil", um Caracu! Durante muitos anos, os mestiços de Caracu com o Zebu deixaram claro qual o melhor caminho da pecuária brasileira. Os mestiços de Caracu com Zebu ocuparam novas fronteiras mas o Caracu- tão importante nos cafezais- era muito caro para esse mister e, então, os mestiços de Zebu ganharam destaque. Com o passar dos tempos, o Zebu mostrou ser muito rústico e, então, milhares de vacas Caracu foram absorvidas na formação dos azebuados da época que levaram à formação de gados como o Indubrasil, Induaraxá, Indoporã, Induberaba, Indubahia e outras- sempre garantido aptidão leiteira e o grande porte. Neste período, não havia distinção entre as raças zebuínas. Tudo era Zebu, desde que tivesse uma giba no dorso.
Em 1929, devido ao " Big Crack" (grande Quebra) da Bolsa de Nova Iorque, houve uma bancarrota no mundo inteiro. No Brasil, aconteceu a derrocada do setor rural, resultando na incineração de mais de 80 milhões de sacas de café. A queda do "ouro verde" fez com que milhares de fazendas desaparecessem do mapa. Os fazendeiros mudaram-se para regiões longínquas onde passaram a explorar um gado sem especialização. Assim, desapareceu a maioria do Gado Caracu, que era fornecedor do trabalho agrícola, leite e carne nas próprias fazendas de café. De 1930 a 1970, o Caracu sobreviveu nas mãos dos abnegados criadores, passando por um lente e firme aperfeiçoamento racial e zootécnico, aumentando a rusticidade, a habilidade maternal, a produção leiteira e a precocidade. O Caracu, entre todas as raças do Brasil Colonial, era o "melhorador ". O Caracu, também conhecido como "Colonião" ou "Gado –Laranja" , era, então, o "ponto alto" e o "ponto final" desse grande período. Mas porque era assim considerado? Porque era um gado de grande porte, produtor leite, muito manso e, no abate, garantia um bom rendimento. Eles sobreviviam a condições ambientais adversas mais que outras raças, uma aptidão selecionada por muitos e muitos anos. Não é à toa que seu nome "caracu" significa "bicho que vive escondido no mato" (na língua tupi-guarani) ou "kara-ku" que significa “(bicho forte, de tutano forte, graúdo" (na língua guarani) . Pode-se dizer que o Caracu é, no mundo, a única raça européia selecionada para conviver com o clima tropical, e, nesse aspecto, seu valor é incalculável. Existem outras raças Ibéricas mas a única em evolução positiva é o Caracu com evolução positiva. (informações retiradas da Revista Agropecuária Tropical, n º 121- Agosto . Set./ 2001 , zebus@terra.com.br) |