Iclas - Instituto de Culturas Lusófonas
Antonio Borges Sampaio


01-07-2007

A Mulata do Engenheiro Inácio Rebelo de Andrade


*«A Mulata do Engenheiro»

Inácio Rebelo de Andrade

capa de Francisco Gomes Amorim    317 páginas

1ª Edição: 2007

Editora Novo Imbondeiro   novoimbondeiro@gmail.com

 

INÁCIO REBELO DE ANDRADE nasceu em Angola, na cidade do Huambo. É licenciado em Agronomia pela Universidade de Luanda e doutorado em Engenharia Agronómica pela Universidade Técnica de Lisboa.

Consultor da UNESCO, com cerca de 40 títulos publicados sobre temas da sua especialidade, integra o Conselho de Redacção da Revista Economia e Sociologia, do Instituto Superior Económico e Social de Évora, e ainda o Conselho de Consultores Científicos da Revista Episteme (Revista Multidisciplinar da Universidade Técnica de Lisboa).

Professor Catedrático da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, é membro da Sociedade de Geografia de Lisboa, da União dos Escritores Angolanos e da Associação Portuguesa de Escritores.

E-mail de contacto: irdea@netcabo.pt

 

 

OBRAS DO AUTOR

 

 

·         Saudades do Huambo (Para uma Evocação do Poeta Ernesto Lara Filho e da «Colecção Bailundo») (Ensaio/Memórias)

·         Pendor, Évora, 1994 (Colecção «Sínteses») (1ª Edição)

·         Num, Évora, 1999 (Colecção «Galeria») (2ª Edição)

 

·         O Sabor Doce das Nêsperas Amargas (Contos)

·         Contra-Regra, Lisboa, 1997

 

·         Quando o Huambo Era Nova Lisboa (Memórias)

·         Vega, Lisboa, 1998 (Colecção «Palavra Africana»)

 

·         Parábolas em Português (Contos)

·         Vega, Lisboa, 1999 (Colecção «O Chão da Palavra»)

 

·         Aconteceu em Agosto (Novela)

·         Vega, Lisboa, 2000 (Colecção «O Chão da Palavra»)

 

·         Mãe Loba (Romance)

·         Aparição, Lisboa, 2001 (Colecção «Prosa»)

 

·         Revisitações no Exílio (Contos Angolanos)

·         Vega, Lisboa, 2001 (Colecção «Palavra Africana»)

 

·         Passageiro sem Bilhete (Romance)

·         Vega, Lisboa, 2003 (Colecção «Palavra Africana»)

 

·         Adeus Macau, Adeus Oriente (Ficções de Viagem)

·         Num, Évora, 2004

 

·         Na Babugem do Êxodo (Romance)

·         Nova Vega, Lisboa, 2005 (Colecção «Palavra Africana»)

 

 

 

 

A propósito do romance «A Mulata do Engenheiro» por  José Carlos Venâncio

Escritor e Professor Catedrático da Universidade da Beira Interior – Portugal

É já longa a carreira literária de Inácio Rebelo de Andrade. O seu nome surge ligado a um dos movimentos editoriais mais significativos do período tardo-colonial angolano. Refiro-me à «Colecção Bailundo», fundada em 1961, por ele e por Ernesto Lara Filho, poeta e cronista angolano que, como tantos outros escritores da jovem literatura angolana, está injustamente esquecido.

Vários são os títulos constantes da sua carreira literária. Saudades do Huambo (Évora 1994 / 1999), O Sabor Doce das Nêsperas Amargas (Lisboa 1997), Quando o Huambo era Nova Lisboa (Lisboa 1998), Aconteceu em Agosto (Lisboa 2000), Mãe Loba (Lisboa 2001), Revisitações no Exílio (Lisboa 2001),

 

Passageiro sem Bilhete (Lisboa 2003) e Na Babugem do Êxodo (Lisboa 2005) são alguns deles. Em todos, o tema da identidade é recorrente. São descritos processos identitários, ora colocados em confronto, ora em ajustamento, traduzindo, neste último estado, o que se poderá  designar por procura da mátria, o que, na verdade, não é outra coisa senão a procura de uma Heimat, tal como este conceito foi formulado pelo filósofo alemão, neo-marxista, Ernst Bloch.

             A Mulata do Engenheiro não foge a este desígnio. Assiste-se, mais uma vez, à denúncia de racismo em Nova Lisboa, cidade cujo mundo da vida (para utilizar um conceito de Habermas) era, em muito, determinado pela presença do Caminho de Ferro de Benguela, empresa de capitais britânicos e portugueses, que em 1930 instalara na então jovem cidade as suas Oficinas Gerais. A cultura de empresa, as relações humanas e raciais aí vigentes e extrapoladas, enquanto tal, para a cidade, acabavam por contrariar ou desvirtuar quer o relacionamento interrácico vivenciado, mesmo que em termos não igualitários, em cidades como Luanda e Benguela, quer a política multirracial propagandeada e ritualizada pelo poder colonial.

           Mas uma coisa é o racismo, as relações raciais entre brancos (colonizadores, privilegiados) e negros (colonizados, explorados), e outra é a vivência dessa polaridade a partir de uma situação bio-culturalmente mestiça, ou seja, a partir da posição sócio-biológica de alguém a quem a modernidade europeia e a racialização do mundo, por ela caucionada, não preconizaram qualquer futuro, não destinaram qualquer espaço de vivência e de realização identitária. Limitaram-se a condená-lo a um destino de (quase) eterna exclusão. Situação esta que, de qualquer modo, se alterou nos nossos dias com o advento do pós-modernismo, da globalização e do multiculturalismo politicamente assumido, como adiante veremos.

            A posição social do mestiço neste contexto de dissonância começou por merecer a atenção, no que respeita à literatura angolana, de um dos seus mais conceituados escritores, naquela que algures considerei como sendo a primeira fase da sua obra, marcada por um exercício de introspecção e por um certo mulatismo (Venâncio 1996: 103 e segs.). Refiro-me a Manuel Rui e, no conjunto da sua obra, atenho-me sobretudo ao conto “Mulato de Sangue Azul”, inserto na antologia Regresso Adiado (Lisboa 1974).

             Nos anos que se seguiram à independência, dominados pela utopia de se construir uma Angola sem clivagens étnicas e raciais, o repto lançado por Manuel Rui ficou sem resposta por parte dele próprio e dos seus congéneres. Ultimamente, porém, escritores como Arnaldo Santos e Fragata de Morais voltaram à temática do mestiço excluído. O último, Fragata de Morais, publicou há dois anos o romance A Prece dos Mal Amados (Porto 2005), onde traça o destino de uma menina, Nazamba, que, levada em tenra idade pelo pai para Portugal, tanto se sentiu excluída neste país, como, mais tarde, em Angola,