13-02-2015 O olhar alemão sobre a lusofonia cpmentado por Luciano Caetano da Rosa
Luciano Caetano da Rosa, 68 anos, natural de Beja
Doutor em Letras atualmente aposentado, foi leitor de Português na Universidade de Humboldt de Berlim e metodólogo na Escola Europeia de Berlim, tendo sido também, na mesma cidade-estado, coautor dos programas de ensino do Português no ensino secundário. É membro fundador das associações internacional e alemã de lusitanistas.
Há um bejense entre os editores da revista “Lusorama”, publicação alemã que se dedica aos estudos de filologia, linguística, literaturas lusófonas e didática do Português. É o doutor em Letras Luciano Caetano da Rosa, que aqui nos explica o interesse germânico pela lusofonia, essa “entidade caleidoscópica”, apetecível quer a académicos, quer à comunidade em geral.
A revista alemã “Lusorama” perfaz no seu último número 100 volumes e 30 anos de existência. O que é que este percurso diz sobre o interesse da comunidade académica alemã face ao mundo lusófono?
O interesse vem de longe. O leitor alemão conhece autores lusófonos/lusógrafos através de traduções de grande qualidade e da leitura desses autores em português: Camões, Vieira, Eça, Machado de Assis, Pessoa, José Cardoso Pires, Saramago, João Ubaldo Ribeiro… Na maior feira internacional do livro, em Frankfurt, os pavilhões dos países de língua portuguesa aumentam. O mundo lusófono não se limita, contudo, à língua, à literatura e à cultura dos países da CPLP. A lusofonia é uma identidade complexa, porque assenta numa entidade caleidoscópica, de natureza linguística, literária e cultural, mas toca muitos domínios que a tornam apetecível, não só a académicos, como à sociedade em geral nas vertentes social, económica, política, religiosa, ambiental, geoestratégica, militar, histórica, diplomática… talvez para alguns a lusofonia seja apenas nova forma de neocolonialismo.
Em seu entender, o interesse pelo Brasil é cada vez maior e também Angola está a despertar cada vez mais as atenções. Portugal surge, assim, muito diluído no imenso universo lusófono?
O Brasil e Angola são países com vocação de grandes potências no Atlântico Sul. São Paulo é, fora da Alemanha, o maior centro industrial alemão. Angola é um país potencialmente riquíssimo. Portugal não surge diluído no imenso universo da lusofonia, mas terá que saber acautelar interesses próprios. Como matriz linguística e uma cultura histórica imensa, Portugal é um país pequeno, mas não é um pequeno país. Só na Torre do Tombo há mais de 100 quilómetros de estantes com documentação. Pondo de parte todo o tipo de dominação nas suas relações, Portugal desempenhará sempre um papel fundamental na lusofonia, através da cooperação, da paz e da amizade entre os povos.
Nas escolas e nas universidades alemãs, quem aprende e estuda a língua portuguesa e porquê?
Na Alemanha, como noutros países de língua alemã, pode-se estudar português em universidades, universidades populares, politécnicos, em liceus e, nos níveis primário e secundário, em escolas europeias (ensino bilingue), assim como na rede de Ensino do Português no Estrangeiro (EPE). Há ainda muitas escolas de línguas (privadas). As motivações são variadas: gostar da língua, ter estado num país lusófono, ter amigos, namorados portugueses, brasileiros, etc., querer arranjar um emprego, dever realizar trabalhos de qualquer natureza num país lusófono…
A Associação Alemã de Lusitanistas (DLV), qual tem sido, concretamente, a sua ação?
Há associações que defendem os interesses do português no espaço de língua alemã: a AIL- Associação Internacional de Lusitanistas e a DLV. Fui cofundador das duas: a AIL, num Congresso em Poitiers, em 1984; e a DLV, em Frankfurt, em 1998. Ambas fomentam estudos de língua portuguesa, organizam congressos na Alemanha e no estrangeiro, publicam atas, colaboram com universidades e outras instituições nacionais e estrangeiras… Carla Ferreira
http://da.ambaal.pt/noticias/?id=7071
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