Iclas - Instituto de Culturas Lusófonas
Antonio Borges Sampaio


28-08-2015

Os Bakongo de Angola, etnicidade, religião e parentesco num bairro de Luanda- Luena N Nunes Pereira,uma brasileira com raízes angolanas


Tese de doutoramento resulta em livro

Bakongo em estudo

Por André Kivuandinga
  /  Foto DR
 

Uma investigadora brasileira, mas com fortes ligações a Angola, estudou a comunidade bakongo num bairro em Luanda, no Zaire e no Uíge. As conclusões deram num livro que lançado na UAN.

Luena Nascimento Nunes Pereira, doutorada em Antropologia Social pela Universidade de São Paulo, Brasil, realizou um estudo junto da comunidade dos bakongos, vindos dos Congos, vulgarmente chamados na época (1992) de ‘regressados’. Foram pessoas que deixaram Angola no tempo colonial e refugiaram-se nos dois Congos (Brazzaville e Kinshasa). A antropóloga deparou-se no Bairro Palanca, em Luanda, com o “fenómeno” de regressados ou langas, sentindo que estavam a ser “discriminados”, sobretudo na capital. Com o apoio de familiares residentes em Angola e de algumas organizações não-governamentais, desenvolveu um trabalho de pesquisa para o mestrado, começando pelos factores políticos, ideológicos, religiosos, os mercados informais e da discriminação de que “eram alvos”. Os factores culturais e a língua foram os que lhe mais interessaram e permitiram aprender algumas palavras em lingala, no bairro Palanca, chamado na época de ‘República do Congo em Angola’.
Em 2000, defendeu a tese de mestrado e regressou para continuar os estudos, desta vez, de doutoramento. Aprofundou a pesquisa sobre os Bakongo, em Luanda, “não profundamente sobre os ‘regressados’”. Desta vez, foi ao Uíge e a Mbanza-Congo, no Zaire, inclusive a Kinshasa, Congo Democrático, “não por muito tempo, devido à guerra”. Concentrou-se no fenómeno da proliferação de igrejas. A pesquisadora assistiu a cerimónias matrimoniais, fúnebres e a cultos, em que observou como as “as igrejas interferem na estrutura familiar”.
Luena Pereira entende que existe “um estigma” quando se analisa o fenómeno religioso angolano. Considera-o “muito complicado”, mas defende que se pode vê-lo como um “fenómeno que se pode achar bom ou mau”, bastando “entender o que se passa porque as religiões são diferentes”.
Deste estudo aprofundado, resultou a tese de doutoramento, transformada no livro ‘Os Bakongo de Angola, etnicidade, religião e parentesco num bairro de Luanda’, que vai ser apresentado (ver caixa), na faculdade de Ciências Sociais da Universidade Agostinho Neto, em Luanda.
Luena Nascimento Nunes Pereira garante que existe uma dinâmica entre os bakongos ao criarem igrejas, partidos e na criação de organizações não-governamentais e de negócios. “Na abertura para o multipartidarismo, apareceram muitos de origem kikongo”, conclui. Esta situação, de acordo com a estudiosa, é originada pela forma como as pessoas pertencentes a esta etnia organizam as famílias, que mostram algumas semelhanças com o poder político. “Foi uma questão ainda não explorada no estudo”, admite.
Segundo a investigadora, no Brasil, existem leis que obrigam a implementação nas escolas de estudos sobre a África, por esta ser a “mãe do Brasil”, apesar de lamentar o facto de esta uma história profundamente ligada à escravatura.

Bakongo e política externa

Além do livro sobre os Bakongo, Luena Nunes Pereira está em Luanda para apresentar o livro do pai, José Maria Nunes Pereira, como ele dizia: "um branco de alma negra",falecido em 13 de julho de 2015. 

 

‘O paradoxo angolano – uma política externa em contexto de crise (1975-1994)’, com 450 páginas, faz uma análise de como o Governo angolano, de ideologias socialista, conseguiu conciliar com o facto do país ter uma economia consolidada na dependência do petróleo que era um produto comercializado sobretudo para o Ocidente, capitalista, dominado pelas grandes empresas francesas e norte-americanas.
José Maria Nunes Pereira foi militante da causa das independências africanas, participante do movimento negro e preso político durante a ditadura militar brasileira. Dedicou a sua vida a estimular os estudos africanos e as relações entre Brasil-África. O livro de Luena Nascimento Nunes Pereira e do pai serão lançados na Faculdade de Ciências Sociais, da Universidade Agostinho Neto, às 10 horas.

Perfil

Luena Nascimento Nunes Pereira, filha de mãe angolana e pai brasileiro, é doutorada em Antropologia Social pela Universidade de São Paulo, e professora do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Brasil.

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