Iclas - Instituto de Culturas Lusófonas
Antonio Borges Sampaio


23-12-2018

Projeto Alicerces explora as raízes judaicas no velho continente


 

AM ISRAEL CHAI (1)

Com a proposta de interagir com a juventude judaica brasileira, vivenciando o judaísmo através de sua história, o Projeto Alicerces, já levou centenas de jovens de grandes e pequenas cidades para conhecer suas raízes em uma viagem única e envolvente.

Dividido em fases, o Projeto começa com aulas presenciais nas sinagogas Chabad-Lubavitch ou para quem está numa comunidade mais distante, com um novo recurso: as vídeos-aula pela internet.  Nelas são ensinados os conteúdos referentes aos países que serão visitados como a história, personagens, correntes filosóficas e religiosas, situando em contextos gerais como guerras, Holocausto, e Inquisição.

Através de um sistema de pontos, os alunos se classificam para a etapa final que culmina na viagem dos locais objetos de estudos. O percurso é sempre acompanhado por monitores, supervisores, médico, segurança e guias especializados.

Nesta terceira edição, mais de 100 jovens viajaram para a Europa Central. Começando pela Alemanha, o grupo saiu do Rio de Janeiro e S.. Paulo e se encontrou em Frankfurt. De lá partiu para Speyer, onde está a mikve mais antiga da Europa e depois Worms, onde viveu  Rashi, o maior comentarista da Torá, e está o seu centro de estudos; e o cemitério que foi enterrado o Rabi Meir de Rotemburgo.  À noite, de volta a Frankfurt, houve um jantar no clube da comunidade de Franfurt (aproximadamente 30.000 judeus vivem na cidade).

Pela manhã, a próxima parada foi Praga, na República Tcheca. Como não poderia deixar de ser, o destaque foi o grande Maharal de Praga, autor do Golem, construído para defender a comunidade e que, como diz a lenda, descansa no sótão da sinagoga, fechado para visitação. Durante o tour foi possível entrar na sinagoga, de forte poder espiritual; no cemitério, ver seu túmulo, observar os típicos relógios da cidade e um pequeno museu judaico em homenagem aos falecidos no Holocausto.

Nesse mesmo país está o campo de Terezin (Theresiestadt). Inicialmente uma fortaleza, foi usado pela Gestapo como campo de concentração. A maioria dos que lá estiveram foi enviada para Auschwitz ou morreram por doenças, fome e estresse.  Uma cerimônia tocante, em recordação dos que lá estiveram, aconteceu ao final da visita. De volta à capital, a despedida de Praga ocorreu com uma saída noturna de barco pelo rio Vltava, do qual era possível visualizar as belas construções iluminadas.

A caminho de Viena, uma surpresa: parada especial numa caverna da Moravia chamada Baucarka com belas paisagens naturais.

Na frente do local onde Hitler fez seus discursos após o anchluss (anexação da Áustria pelos nazistas), os rapazes se abraçaram e cantaram, expressando o sentimento de que o nazismo, por mais que tenha tentado nos eliminar, não obteve sucesso.

A manhã seguinte foi um dos pontos altos da viagem. Após duas horas de estrada, chegada ao complexo de campos de concentração de Mauthausen. Inicialmente criado para abrigar presos políticos, tornou-se o maior campo de trabalho escravo na Áustria, que alimentava os nazistas com extração de granitos na pedreira, fabricação de armas, munições e peças de aviões.

Guias especializados acompanharam o grupo pelas áreas do campo, incluindo uma seção inaugurada em maio deste ano, onde está a  Sala dos Nomes, que contém um livro grande com os nomes de quem esteve e ficou por lá.  Ao final, sob um dos monumentos erigidos no local, foi realizada uma cerimônia permeada de muita emoção: histórias contadas pelo Rabino David, entoação do Cadish e do Kel Malê Rachamim e o toque do Shofar deixou todos os jovens sensibilizados. Todos se abraçavam, muitos choravam.

De volta à Alemanha, desembarque em Berlim, estadia do final de semana. City tourpelos principais pontos da cidade, com parada em frente ao Reichtag, o parlamento alemão, aberturas do antigo Muro e passagem para o lado oriental.

No jantar de Shabat, no Beit Chabad, emocionante mesmo foram os depoimentos dos jovens de pequenas comunidades do Brasil que relataram em diversos momentos como é manter o judaísmo nesses locais. O sentimento geral era de que todos faziam parte como irmãos de uma mesma família.

No domingo visitamos o Memorial e Museu do Holocausto, com direito a foto oficial sob o Portão de Brandenburgo, e uma visita ao Museu Judaico de Berlim, um dos mais completos do mundo.

Começo da semana logo cedo, partida para Amsterdam. Foi uma visita rápida, mas diversificada. Iniciando pela Grande Sinagoga Portuguesa, casa dos judeus portugueses perseguidos pela inquisição, emendando no Museu Judaico, com muitas coisas na língua portuguesa.

À noite, partida para Bruxelas, sede das grandes instituições da união européia. Próximo destino: Paris. Dias de intensa atividade, começando pela parada na Torre Eiffel, com um tempinho livre para caminhar pela Champs Elysees, até a foto oficial sob o Arco do Triunfo; visita ao bairro judaico de Marais, onde foi lembrada in loco a queima dos exemplares do Talmud em 1244, a mando do Rei Louis XIV. No dia seguinte, duas grandes atrações: os jardins do Palácio de Versailles geometricamente estruturados e de incrível beleza e o famoso Museu do Louvre.

Mudando completamente de região, o grupo saiu de Paris e desembarcou de avião em Minsk, capital da Bielo-Rússia. Após uma extensa viagem de ônibus, chegou-se ao destino. Um lugar simples, pequeno, como se o grupo tivesse sido transportado para outros tempos. Parecido com um shtetl, mas de grande força espiritual. Momento de grande introspecção.

Enfim, mais uma sexta-feira e o ponto final desse Alicerces: Moscou. Onde antes expressar o judaísmo era motivo de prisão e até pena de morte, hoje é possível posar com kipot, sem vergonha de ser judeu, ao lado do Kremlin.

Depoimentos, sentimentos de tristeza pelo último dia, alegria por tudo que se viveu, resumo das fotos e até uma música especialmente composta por alguns participantes fizeram parte do banquete de encerramento da viagem, que acabou domingo, com chave de ouro, em uma visita ao recentíssimo Museu da Tolerância, aberto especialmente ao grupo. Nele, todas as etapas da vida judaica, nos vários períodos, com tecnologia de última geração. A viagem foi corrida, muitas vezes cansativa, mas certamente a bagagem emocional e espiritual será levada pela vida afora. Seus participantes, como é a proposta do Projeto Alicerces, estão preparados para voltar para suas cidades de origem, liderar e ajudar suas comunidades rumo ao judaísmo autêntico.

https://coletivojudaico.wordpress..com/2013/08/15/projeto-alicerces-explora-as-raizes-judaicas-no-velho-continente/