Iclas - Instituto de Culturas Lusófonas
Antonio Borges Sampaio


15-12-2014

Direitos Humanos-Brasil precisa rever como trata os negros, diz professor ativista


Direitos Humanos

Brasil precisa rever como trata os negros, diz professor ativista

Professor da Universidade de Brasília (UnB), Nelson Inocêncio vê contradição: de um lado, Estado garante as cotas raciais nas universidades; de outro, permite o extermínio de jovens negros

POR CONGRESSO EM FOCO | 14/12/2014 13:00 
CATEGORIA(S): DIREITOS HUMANOSQUESTÃO DE FOCOVIOLÊNCIA

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Divulgação

Nelson Inocêncio: “Precisamos de medidas mais enfáticas em relação à violência, porque estamos numa situação limite”

 

Sionei Ricardo Leão, especial para o Congresso em Foco

Doutor em artes plásticas, o professor da Universidade de Brasília (UnB) Nelson Inocêncio é um ativista da causa da igualdade racial reconhecido nacionalmente.  Para ele, é inegável o avanço conquistado pelos negros no país desde a implantação das cotas nas universidades. Mas o momento, acredita, é de reavaliar as políticas afirmativas, voltadas sobretudo para a população afrodescendente.

Um dos maiores desafios, aponta, está na área da segurança pública em razão dos dados alarmantes sobre homicídios de jovens negros. Em Brasília, para cada jovem branco assassinado, há sete jovens negros vítimas de homicídio, exemplifica o professor. Uma realidade que se repete em todo o país, segundo as estatísticas. “Os governos, com uma mão, oferecem e implementam medidas para o avanço; e com a outra, agridem. Isso é muito estranho”, diz Nelson Inocêncio.

De acordo com o último Mapa da Violência, divulgado este ano, houve um salto assustador no número de vítimas de assassinato negras na última década. Enquanto diminuiu de 19.846, em 2002, para 14.928, em 2012, o contingente de vítimas brancas, o de negras aumentou de 29.656 para 41.127 no mesmo período.

“Precisamos de medidas mais enfáticas em relação à violência, porque estamos numa situação limite. Esse dano terrível que é a mortalidade da população negra precisa ser enfrentado”, defende. Militante do PSB, mesmo partido do governador eleito, Rodrigo Rollemberg, o professor diz que é preciso reformular a secretaria distrital de Promoção da Igualdade Racial para enfrentar problemas de gestão e aproximá-la das demandas da sociedade.

Congresso em Foco - A seu ver, qual é o contexto em que estamos quando se trata da defesa da igualdade racial e combate ao racismo no Brasil?
Nelson Inocêncio – Estamos num momento em que precisamos avaliar o alcance dessas políticas, pois nos falta compreensão mais abrangente sobre os êxitos delas. Além disso, precisamos nos situar do ponto de vista institucional. É inquietante verificar que, ao mesmo tempo em que o Estado adota ações avançadas nessa área, por outro, conduz e mantém um aparato que reprime de forma extremamente violenta a população afrodescendente, principalmente, a juventude negra. Ou seja, os governos, com uma mão, oferecem e implementam medidas para o avanço; e com a outra, agridem. Isso é muito estranho.

O que o leva defender que é momento de reflexão?
Em primeiro lugar, temos que reconhecer que o Brasil é outro desde a adoção dessas políticas afirmativas, até porque se passaram pelo menos dez anos de que essas ações vêm sendo adotadas na área da igualdade racial, um conceito que se consagrou. Portanto, é chegada a hora de verificarmos os resultados disso tudo. Ao mesmo tempo, é preciso mais diálogo com os movimentos sociais propiciados pelas estruturas de governo que estão à frente desses projetos. Estou me reportando à Seppir nacional (Secretaria de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República) e às pastas correlatas nas esferas estaduais e municipais. Um bom exemplo é o Juventude Viva, adotado pelo governo federal, que tem um papel preventivo, que pode ser um mote para compreendermos a qualidade dessas políticas. Em resumo, penso que não basta adotar essas ações. Precisamos de medidas mais enfáticas em relação à violência. Repito isso sempre porque estamos numa situação limite. Esse dano terrível que é a mortalidade da população negra precisa ser enfrentado.

Um dos maiores alcances dessas políticas tem a ver com as cotas nas universidades…
Sim. A UnB onde leciono é um espelho disso. Hoje ao caminharmos pelo campus da instituição é evidente que houve uma mudança marcante. Quero dizer, não se pode ignorar que as reservas de vagas garantiram o ingresso de milhares de jovens negros nos cursos, o que é um dado novo, uma realidade importante. Isso também está ocorrendo em praticamente todos os estados, o que nos leva a refletir e considerar sobre novas relações acadêmicas em todos os sentidos.

Falando um pouco agora da sua militância partidária, como o PSB trata internamente temas como diversidade, tolerância religiosa e combate ao racismo?
O PSB possui na sua estrutura um conjunto de segmentos que constituem o movimento social, como o movimento de mulheres, LGBT, juventude, sindical, popular e movimento negro. Tais segmentos vêm alimentando o projeto político do partido há anos. De modo que um governo protagonizado pelo PSB deve contemplar as demandas apresentadas pelos próprios núcleos do partido. É nesse sentido que eu vejo a futura gestão Rollemberg, ou seja, que não prescindirá do compromisso com a causa negra e outras causas.

Qual é o perfil do movimento negro no PSB?
Dentro de nossa legenda esse segmento chama-se Negritude Socialista Brasileira (NSB), que está organizado nacionalmente e que possui uma executiva nacional composta por dez membros. No DF a NSB teve papel relevante há quatro anos na discussão juntamente com PCdoB, PDT e PT, que se traduziu numa carta ao governador e que derivou na criação da atual Secretaria para a Promoção da Igualdade Racial do DF.

leia o artigo na íntegra em Brasil precisa rever como trata os negros, diz professor ativista