01-11-2018Geminação entre Lagos e Alcácer Quibir une duas cidades «ligadas pelo destino»Comitiva da cidade marroquina visita Lagos durante três dias, para estabelecer bases para a cooperação futuraImprimir
«Com esta geminação, queremos preservar o património comum entre Alcácer Quibir e Lagos». As palavras são de Mohammed Simou, presidente do Conselho Municipal de Ksar El Kebir (Alcácer Quibir), na cerimónia de assinatura, desta vez em solo português, do protocolo de geminação entre as duas cidades. A sessão solene, que contou com a presença de uma comitiva marroquina que integrava membros da comuna de Alcácer Quibir, mas também artistas, historiadores e outros intelectuais, teve lugar na sexta-feira, nos Paços do Concelho de Lagos, a assinalar o início das comemorações do feriado municipal da cidade algarvia. Antes da assinatura, houve um pequeno concerto por um grupo de músicos da cidade marroquina, constituído sobretudo por mulheres, que interpretou canções tradicionais de amor, em árabe, uma delas adaptada e com uma letra elogiosa para Lagos. No seu discurso, o autarca Mohammed Simou, que em Abril passado tinha sido o anfitrião da comitiva de Lagos, acrescentou ainda esperar que «o acordo de geminação tenha resultados práticos para o desenvolvimento dos nossos dois países e cidades». «Alcácer Quibir tem uma ligação particular com duas cidades do Algarve: Lagos e Silves. Esta ligação, no caso de Lagos, gira à volta do vosso rei D. Sebastião e da Batalha que nós chamamos “Dos Três Reis”. Mas hoje queremos transformar a memória do conflito numa relação de amizade entre os dois povos e os dois países. Que isto seja uma festa de unidade entre todos nós», disse. Por seu lado, a anfitriã, a presidente da Câmara Joaquina Matos, começou por dizer que «Lagos e Alcácer Quibir encontram-se ligados pelo destino». «Queremos, sem negar ou esquecer o passado, transformar esse passado de conflito numa relação de amizade e de aproximação para o futuro». Por isso, acrescentou a autarca, o protocolo de geminação, que já tinha sido assinado em Abril, durante a visita da comitiva de Lagos a Ksar el Kibir, e que agora voltou a ser assinado na cidade algarvia, vai ser um «instrumento de realização de iniciativas comuns, em benefício das nossas duas comunidades». Para tal, está a ser ultimado um «programa de ação a curto, médio e longo prazo», com o apoio da embaixada de Portugal em Marrocos, que prevê diversas iniciativas, nomeadamente no plano da cultura, do património e do turismo. Paulo Morgado, presidente da Assembleia Municipal lacobrigense, recordou que, «da História de Lagos, fazem parte muitos povos, um deles é o povo de Marrocos. Também o povo português faz parte da História de Marrocos». No entanto, «por alguma razão estranha, estamos afastados há demasiado tempo. Há que voltar a aproximar-nos!» «Todos podemos e devemos aprender uns com os outros. A humanidade só evoluiu porque os povos comunicaram, inventaram o comércio, viajaram. A História é feita de migrações». Porém, salientou, «o que impede esta comunicação é a política, a má política». «É importante que todos os povos respeitem a Declaração Universal dos Direitos do Homem», fez ainda questão de sublinhar Paulo Morgado, que recordou: «a paz, o desenvolvimento social e humano, como o Rei de Marrocos gosta de dizer, são muito importantes». Chamando a atenção para o muito que une os dois povos, até a nível genético e étnico, o presidente da AM de Lagos, concluiu: «se nos olharmos todos ao espelho, veremos que somos muito parecidos, que temos de certeza muitos antepassados comuns».. José Alberto Alegria, cônsul honorário do Reino de Marrocos no Algarve, frisou que «Portugal e Marrocos têm muito boas relações e partilham visões comuns em muitas questões regionais». Além disso, salientou, «é impressionante o número de acordos de parceria e geminação assinados entre municípios portugueses e marroquinos». Depois da longa sucessão de discursos, pontuada pela necessidade de traduzir para português, francês e árabe, seguiu-se uma não menos longa entrega de presentes do presidente da Comuna de Alcácer Quibir à presidente da Câmara de Lagos e a outras personalidades que participam na cerimónia, como o presidente da Câmara da Ribeira Grande, de Cabo Verde, e a vereadora Cláudia Ferreira, da Câmara de Torres Vedras, municípios com os quais a cidade algarvia também está geminada. Mohammed Simou fez questão de explicar o significado de cada presente, a começar por uma brochura sobre a geminação entre Alcácer Quibir e Lagos, e onde não faltou sequer uma bandeira de Marrocos, um pano artesanal usado pelas mulheres berberes do Norte do país e muitas outras peças do belo artesanato local. Ontem, feriado municipal de Lagos, houve ainda outros momentos culturais e de convívio com a delegação marroquina, que esteve presente nas cerimónias oficiais. Este domingo, o arquiteto Frederico Mendes Paula, da Câmara de Lagos, um dos grandes obreiros desta aproximação entre as duas cidades, será o guia da visita dos convidados de Marrocos à Fortaleza de Sagres e ao Castelo de Silves. Como sublinhou Maria Joaquina Matos, dirigindo-se ao seu homólogo Mohammed Simou, «quando saí de Alcácer Quibir disse-lhe que saímos com a sua cidade no nosso coração. Espero que quando saírem de Lagos, também levem Lagos no vosso coração».
Fotos: Elisabete Rodrigues | Sul Informação Geminação entre Lagos e Alcácer Quibir une duas cidades «ligadas pelo destino»
|