Iclas - Instituto de Culturas Lusófonas
Antonio Borges Sampaio


05-06-2014

Na cidade somos quase predadores | Pedro Cardoso.


por Pedro Cardoso, jornalista luso-angolano
Longas barbas brancas e cabelo também ele branco e solto. Cara queimada pelo sol e um amor enorme pelo deserto do Namibe, região onde viveu a infância e se encantou pela areia das dunas que lhe pareciam então montanhas de ouro a brilhar ao longe. Samuel Aço é o principal impulsionador do Centro de Estudos do Deserto, associação que, no interior da província do Namibe, sul de Angola, quer descobrir os segredos de uma das mais inóspitas regiões do país.
As suas pesquisas no deserto do Namibe já são antigas. Quando começou o interesse académico por esta região?Desde 1996, tenho vindo a desenvolver uma pesquisa na região que parte do Tômbwa, estende-se até à cidade do Namibe e à fronteira sul, ao longo do rio Cunene, e que passa pela Namíbia. É um estudo sobre os comerciantes informais do deserto. Uns são mesmo comerciantes tradicionais, deslocam-se a pé, sozinhos ou acompanhados por um burro que transporta a carga. Outros já utilizam veículos. 

É uma atividade que se estende por todo o deserto, ou circunscreve-se a determinadas áreas?
Podemos encarar dois aspectos: o verdadeiro deserto, que para nós é totalmente inacessível, mas que para aquelas populações é “menos inacessível”, e a região de estepe, que eles percorrem a pé, perfeitamente à vontade, percursos que vão até 300 km. Transportam cobertores, tabaco, aguardente, entre outros bens. Ali não se usa dinheiro, é troca por troca. As populações pagam, geralmente, com cabritos, ovelhas (às vezes) e, muito raramente, cabeças de gado.
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