22-07-2015Significado corrente, mas também exploratório das palavras»»vocabulares (18) Inácio R AndradeInácio Rebelo de Andrade
Significado corrente, mas também exploratório das palavras
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Labirinto
Estrutura composta por caminhos diversos que se cruzam de tal forma que é difícil encontrar a saída. Os que entram lá inadvertidamente podem perder-se e ficar condenados a permanecer aí para sempre. Quem ignora que há labirintos de alma e de corpo, como a tristeza, a solidão, a descrença, a doença, o sofrimento, a discriminação (a série é extensa, quase infindável), de onde é muito difícil sair? Labirintos que são corredores longos e escuros, sem uma luz que brilhe, que tremule, mesmo que bruxuleie, nem que seja por um momento, capaz de deixar ver o que há em frente...
Lar
Lugar onde uma família mora. Tão fácil e breve de definir. E no entanto, como ninguém ignora, esse espaço de residência e convívio (sumptuoso para uns, remediado para outros, miserável para terceiros), é como que o palco de um teatro para a representação de peças de géneros diversos (tragédias, comédias, farsas). As interpretações cabem aí a maridos e mulheres, a pais e filhos, por vezes a avós e netos, que atuam sem necessidade de ouvir antes as pancadas de Molière, nem de respeitar as ordens do contrarregras, nem de ouvir o bichanar do ponto.
Lei
Princípio ou conjunto de princípios que regulam determinados sistemas. No ordenamento jurídico de um país, há-as boas e há-as más. O mesmo é dizer as que defendem a preservação do bem comum e as que são incapazes de atingir esse objetivo. A diferença entre umas e outras não se torna sempre percetível na altura da promulgação, mas mais tarde, face aos efeitos produzidos. O que não sucede em sistemas do âmbito da Biologia, da Física ou da Química. Nesses casos, a lei ou as leis nunca são «más», mas «boas» (passem os termos), porque «traduzem corretamente» (passem de novo os termos) a «lógica inerente» (passem mais uma vez os termos) dos processos respetivos. Daqui que não possam ser revogáveis. Quem irá amanhã pôr em causa que «o calor dilata os corpos»?, que «os corpos mergulhados nos líquidos são submetidos a uma impulsão vertical debaixo para cima igual ao peso do volume do líquido deslocado»?
Liberdade
Direito de agir segundo o livre arbítrio, conforme a própria vontade, mas sem prejudicar terceiros. Nas Constituições dos países democráticos, é um dos direitos humanos fundamentais: o segundo, depois da vida, que é o primeiro Tem servido de tema a muitos autores, que em prosa ou em verso, com mais ou menos talento, a consideram algo de inalienável e lhe prestam a veneração devida. Como Miguel Torga, que declara enfaticamente: «Livre não sou, mas quero a liberdade./ Trago-a dentro de mim como um destino./ E vão lá desdizer o sonho do menino/ que se afogou e flutua/ entre nenúfares de serenidade/ depois de ter a lua!»
Lisboa
Cidade capital de Portugal. Aquela que é para Alexandre Herculano «de mármore e granito»; a que fica à beira do Tejo e se estende por sete colinas (São Jorge, São Vicente, São Roque, Santo André, Santa Catarina, Santa Ana e Chagas); a dos bairros populares (Alfama, Madragoa, Marvila, Mouraria, tantos mais), onde se canta o fado para deleite dos alfacinhas e dos forasteiros; a das ruas a cheirar a manjerico no dia de Santo António; a do Terreiro do Paço, do Rossio e do Mercado da Ribeira, aonde se vai logo pela manhã aviar do peixe, da carne e dos legumes que faltam em casa; a que foi arrasada pelo terramoto de 1755, mas que o Marquês de Pombal mandou reconstruir; a de Cesário Verde e muitos outros poetas, que a retrataram, retratam e retratarão em verso, nunca lhe poupando elogios; a do cais de partida das caravelas que foram em busca de terras e gentes desconhecidas — Lisboa que se visita uma vez e fica para sempre na lembrança. «Ó Cidade da Luz! Perpétua fonte/ de tão nítida e virgem claridade,/ que parece ilusão, sendo verdade,/ que o sol aqui feneça e não desponte», nas palavras inspiradas de Alberto Oliveira.
Livro
Reunião de folhas de papel, manuscritas ou impressas, cosidas ordenadamente, formando um volume encadernado ou brochado. Plural: livros. Os tais que o poeta da Mensagem diz que «são papéis pintados com tinta», e que estudá-los «é uma coisa em que está indistinta a distinção entre nada e coisa nenhuma». Talvez sim, talvez não. Por eles, conhecemos pessoas e sentimentos antes ignorados, descobrimos terras e lugares nunca vistos. Através das suas páginas, atingimos destinos remotos sem dar um passo, nenhum sequer, porque caminhamos só com os olhos, palavra a palavra, linha a linha, período a período, parágrafo a parágrafo, até ao fim. Livros são vozes silenciosas que falam aos que precisam de ouvir, janelas impressas abertas aos que precisam de ver.
Lucro
Ganho que provém de uma venda, investimento ou serviço prestado. O contrário de perda. Os negócios fazem-se para esse fim, para a obtenção de lucros. Quem esteja à sua frente, se não é capaz de atingir tal desiderato, deve «fechar a loja», como o povo diz. E com razão, porque correrá o risco de ir à falência, se ignorar o conselho. O abc da Economia, que até os analfabetos, que contam pelos dedos e têm banca nas feiras, sabem de cor e salteado...
Luta
Combate com ou sem armas, travado entre dois ou mais contendores. Onde há vencedores e derrotados, os que ganham e os que perdem. Isto desde que o mundo é mundo e os seres viventes, racionais ou não, pretendem para si uma coisa que não chega para todos. Mas nem todas as disputas se devem ao desejo de possuir um bem material; há também aquelas que se travam com fins diferentes, como o de impor a um país um regime político ou uma crença religiosa. Não se pense que as primeiras são mais acesas e danosas do que as segundas. Longe disso: líderes carismáticos, quando chamaram a si a missão de defender o povo contra o que chamavam de ideologias ou doutrinas «perniciosas», portanto inaceitáveis, foram responsáveis por sevícias e mortes em série. A História regista o facto em muitas das suas páginas. Lembrem-se a propósito Adolf Hitler e o Nazismo, Tomás de Torquemada e a Inquisição, de tristíssima memória...
Luxúria
O mesmo que lascívia, concupiscência, lubricidade. É considerada um dos pecados maiores da carne. O homem e a mulher luxuriosos são escravos da sua sensualidade. O seu sexo parece um corcel desenfreado, que galopa, galopa, galopa, sem se cansar. Incontinentes e desregrados, ambos alimentam essa voluptuosidade a favor ou contra a natureza, solitários ou acompanhados. Com cada parceiro, entregam-se à exploração de todos os recantos escusos do corpo; com os olhos, a boca, as mãos, levados pela febre, vasculham, devassam e corrompem aí as partes mais íntimas, sempre curiosos, sempre insatisfeitos. Até quando dormem, sonham com o prazer venéreo, rebolam-se na cama no êxtase de um orgasmo imenso. Procedem como os animais: não há para eles pai, nem mãe, nem filho, nem irmão, mas unicamente o macho para a fêmea, a fêmea para o macho. IRDEA |