Iclas - Instituto de Culturas Lusófonas
Antonio Borges Sampaio


29-05-2014

ENTRE O CAOS E A CALMA de J Correia Filho Lucas Rolfsen


Autor de ‘Lisboa em Pessoa’ e ‘À luz de Paris’, João Correia Filho se debruça SOBRE A capital pa ulista com A ótica dos modernistas e outros grandes escritores em ‘São Paulo, literalmente’, nos convidando a conhecer a cidade de maneira reflexiva e sem pressa de acabarPOR: LUCAS ROLFSEN  /  05/05/2014FOTOS JOÃO CORREIA FILHOInaugurado em 1954, juntamente com o Parque Ibirapuera, o Monumento às Bandeiras, criado por Victor Brecheret, representa os bandeirantes, suas diversas etnias e a força que tinham para desbravar o país

Turismo e literatura, razões recorrentes para o fotojornalista João Correia Filho, fizeram o ganhador do Prêmio Jabuti de 2012 (categoria turismo e hotelaria), com Lisboa em Pessoa – Guia turístico e literário da capital portuguesa, se debruçar sobre as relações entre o movimento modernista na capital paulista e suas atrações turísticas, proposta do seu mais recente guia, São Paulo, literalmente.

Depois de ter retratado a capital portuguesa sob a ótica de Fernando Pessoa e a Cidade das Luzes se valendo de escritores em sua maioria franceses, chegou a vez de Mário de Andrade, Oswald de Andrade e Guilherme de Almeida, além de outros intelectuais e escritores que enxergam a cidade por meio das palavras, como José de Anchieta, Monteiro Lobato, Luiz Ruffato, Marçal Aquino e Ferréz, de conduzir os turistas e moradores pela metrópole de agora e de ontem.

O destaque dado aos modernistas ocorre por eles terem eternizado a história que viam acontecer de maneira intensa nos primeiros anos do século 20. O ar provinciano cedia espaço para a mudança no cotidiano dos paulistanos. “A modernização foi cruel, mas ainda há muita coisa escondida”, diz o autor de 42 anos, que se preocupa com o “como ver” uma atração turística e enxerga na literatura a possibilidade de puxar o leitor para histórias e mais histórias sobre a cidade. Quanto mais se conhece determinado lugar, mais há para conhecer. Natural de Leme, no interior paulista, ele acredita que mais vale conhecer três ou quatro atrações “bem” do que visitar muita coisa sem se aprofundar.

Em vários momentos, percebemos o aspecto rude dessa cidade que se diz plural e acolhe a todos. Imaginar-se turista ou morador nessas condições corresponde ao próprio espírito da capital paulista. Quando fez os guias de Lisboa e Paris, ele se recorda de uma atmosfera diferente, na qual o potencial turístico das duas capitais europeias resultou em livros menos duros quando comparados ao seu mais recente trabalho. O uso da “narrativa em primeira pessoa permite contar a história de maneira mais afetiva”, esclarece João, que enxerga no recurso a tentativa de humanizar a metrópole. A intenção é diminuir um possível impacto negativo que, à primeira vista, as pessoas possam ter.

Dificuldades para terminar o projeto também não faltaram. Uma impressão que se tem é a de que em alguns momentos os entornos não aparecem tanto quanto em Lisboa e Paris, fruto talvez da degradação gerada pela desigualdade social. Uma observação que vai de encontro à tentativa de diminuir um pouco os possíveis impactos negativos. São Paulo, literalmentetem na literatura o alento para admirarmos tudo o que existe de melhor aqui: as palavras, as pessoas e as paisagens urbanas que transitam entre o caos e a calma.  
Localizado na Barra Funda, o Theatro São Pedro, quando fundado em 1917, foi considerado o mais moderno e luxuoso da cidade, totalizando um espaço cultural para 1000 pessoas

Forno da padaria São Domingos, que comemorou seu centenário em 2013 e participou de inúmeros momentos históricos da capital

Instalado em outubro de 2008, o piano de cauda pode ser utilizado por qualquer transeunte que circula pelo hall da Estação da Luz

Instalado em 1950 ao lado da torre da Estação da Luz, este relógio, além de ser um dos cartões postais da cidade, já serviu de referência para o acerto de relógios dos moradores de São Paulo

Interior da locomotiva da década de 1960 que faz o passeio turístico a Paranapiacaba, partindo da Estação da Luz; A tradicional vila de arquitetura inglesa, localizada no município de Santo André, fez parte de uma importante fase de expansão da tecnologia ferroviária no Brasil na segunda metade do século 19

Noturna da cidade vista do metrô Sumaré, localizado em uma das regiões mais altas de São Paulo, chamada de Espigão da Paulista

O Beco do Batman, viela no bairro da Vila Madalena, ganhou fama por reunir em seus muros grafites em uma galeria a céu aberto 

O tradicional centro histórico paulistano abriga a maior parte dos prédios que retratam os fatos marcantes da terra da garoa, como o Edifício Altino Arantes, o Banespão, à direita

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