Iclas - Instituto de Culturas Lusófonas
Antonio Borges Sampaio


29-06-2006

Dizíamos que esta era a expressão do futuro de Timor



Quando é que veremos, de novo, as crianças de Timor a
rirem e a brincarem?

Mais uma vez quero agradecer a Manuel Leiria Almeida (
http://tatamailau.blogspot.com/) a sua disponibilidade em me deixar "roubar" o seu artigo do dia 28 de Junho...
Também quero agradecer ao Prof. Almeida Serra (
http://www.infotimor.tl/) esta foto que nos diz muito a nós os dois, pois quando foi tirada há meses, dizíamos que esta era a expressão do futuro de Timor.
Espero muito em breve, quando as núvens negras começarem a dissipar-se naquela ilha o Sol volte, de novo, a brilhar e as crianças a rir...



"Elementar, meu caro Watson!...


Nem os partidos da oposição nem o seu líder (XG) poderiam, sequer, sonhar que a FRETILIN estivesse nos comandos do "barco" aquando das eleições de 2007.

E quando o dinheiro do petróleo ia, pela primeira vez, começar a ser utilizado "em grande" para financiamento do Orçamento e dos mais diversos projectos --- a proposta do OGE de 2006-07 do actual Governo é quase o triplo do Orçamento actual, de 2005/06 ---, é evidente que eles temeram que isso significasse uma melhoria efectiva das condições de vida da população.

Ora isso poderia significar que o seu acesso ao poder e ao "bolo" do petróleo ficaria adiado pelo menos por mais cinco --- se não vinte e cinco... --- anos. Ainda por cima com os elogios dos doadores, incluindo o Banco Mundial, na última reunião...

Por isso este foi, para a "golpada", o timing certo... O objectivo não é, pois, retirar apenas Mari Alkatiri do Palácio do Governo embora ele tenha "tudo" contra ele (é um bocado "cara de pau", esteve 25 anos no exterior e... pior do piorio para muitos, é muçulmano, embora nunca ninguém o tenha visto a fazer nenhuma das cinco rezas diárias).
O verdadeiro objectivo é retirar o poder à FRETILIN. Ponto! Só quando tal estiver conseguido é que a "obra" estará completa! O facto de ela ter a maioria no actual Parlamento Nacional é apenas um “pequeno” contratempo ultrapassável (será assim tão facilmente como alguns parecem pensar?).

Todos o sabem mas parece que é mais fácil disfarçar e apresentar as coisas "às mijinhas"!...


Mas então e a Austrália e o petróleo, etc? "Peanuts"! A maior parte do que havia a decidir sobre o petróleo com o governo australiano já está decidido. A instalação da segunda fábrica de liquefação de gás em Darwin ou no Suai não me parece ser razão suficiente para a Austrália tomar a iniciativa desta alhada toda. Mas que aproveitou a boleia e que, eventualmente, estava avisada do que ia acontecer, isso é evidente. E aqui e ali até poderá ter dado alguns "palpites" para tornar "a coisa" mais eficaz...

Mas não tenhamos dúvidas: o principal "probrema" é a luta intra-Timor Leste pelo controlo do "bolo". Ora os "pequenos partidos" nunca perdoaram à FRETILIN que ela não quisesse reparti-lo sob a forma de um governo "de unidade nacional"!

É exactamente a mesma lógica a que os timorenses estão habituados no quadro das "famílias alargadas" em que a maioria vive: quem tem alguma coisa tem de repartir com o resto da família.

Um(a) antigo(a) ministro(a) de Timor Leste chegou a confessar-me que o seu ordenado mensal mal chegava ao fim do mês porque no dia em que o recebia caía lá em casa toda a casta de "primos", "primas" e "tius" a "cobrar" a sua parte do "bolo".

Uma parte do que se passa é, pois e no limite, o resultado do confronto de duas lógicas: a da modernidade e a da "tradição". Quem quis actuar pela lógica da modernidade sem grandes concessões à lógica da "tradição" deu-se mal... Até porque o "pai de todos" --- que ultimamente tem tido principalmente um comportamento de “fura bolos” --- sempre se sentiu mais à vontade na pele de "liurai" que na de Presidente democrático.

O grande problema é saber se, a verificar-se uma efectiva alteração das lógicas dominantes, a que assumir o poder tem capacidade de resolver os problemas do país, nomeadamente o do desemprego. Tenho para mim e para os meus botões que só muito dificilmente o conseguirá.

A não ser que adopte a lógica indonésia de "distribuir" empregos na função pública para "calar" as pessoas já que não consegue criar suficientes empregos “à séria”, daqueles que o Carlos Marques --- topam o quero dizer?!... J --- considerava como os únicos verdadeiramente produtivos.
É disso que a "rapaziada" que anda na rua a atirar pedras e a deitar fogo às casas está à espera e em devido tempo apresentará a factura. A alternativa é queimar mais casas e atirar mais pedras dentro de 3-4 anos, o tempo que a “panela de pressão” leva a “encher”...

A legislação do Fundo do Petróleo, ao (erradamente...) não impor limites ao uso desses recursos para financiamento de despesas correntes do Estado, deixou a porta aberta para a implementação de tal política.

'Elementar, meu caro Watson!...'

PS - o que está acima é, quanto a mim o "pano de fundo" de toda a crise. Mas, como disse, a Austrália não é completamente alheia a estas coisas... E mesmo que seja em relação à sua origem não o será em relação à sua conclusão. A "factura" a cobrar por esta poderá incluir muitas e variegadas coisas, nomeadamente a aceitação, por Timor Leste, de que a segunda fábrica de liquefação do gás seja, de facto, instalada em Darwin. E lá se vão os sonhos de Mari Alkatiri de ela servir de base a um surto significativo de desenvolvimento do país com base na indústria petrolífera e que permitisse criar um número apreciável de empregos. Exactamente os empregos que os bandos de "putos" andam a "queimar" ao atirarem pedras e queimarem casas...
posted by Manuel Leiria de Almeida @
Quarta-feira, Junho 28, 2006 "
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Depois de ler e reler este artigo penso que ele aponta as mazelas em que aquele país caíu nos últimos anos...

Lembro-me de um artigo da Ângela Carrascalão, com o título "Petróleo Maldito" que rezava assim:

"(...) Abria-se um furo, o petróleo jorrava com força mas, logo de seguida, fechava-se o furo.
Havia duas versões para tal:
Uns, diziam que não havia petróleo em quantidade suficiente.
Outros, defendiam que Salazar preferia que não se propagasse a ideia de que Timor era rico, pois isso poderia ser mau para a “província”, atraindo as atenções externas e, por isso, deveria fazer-se de conta de que ele, o petróleo, não existia. Pensava-se que ele, o petróleo, poderia trazer a guerra. (...)"

Parece que a cobiça faz mexer gente demais... o "ouro negro" faz juz ao seu nome!