Iclas - Instituto de Culturas Lusófonas
Antonio Borges Sampaio


11-09-2014

Lisboa - Cante alentejano «conquista» a capital até Novembro



Lisboa vai tornar-se palco para as interpretações de diversos grupos de cante alentejano. Estes vão actuar nas ruas, estações de metro, barcos e restaurantes da capital. A iniciativa denomina-se Rota do Cante e decorre de 12 de Setembro a 29 de Novembro.Sara Pelicano | sexta-feira, 5 de Setembro de 2014
Rota do Cante quer «conquistar o país com o Cante alentejano», afirmou Sérgio Tréfaut, realizador do documentário «Alentejo, Alentejo», um dos protagonistas do evento que vai animar a capital até Novembro próximo. «Existem poucos meios de promoção da candidatura do Cante a Património da Humanidade e do filme que realizei. Temos, assim, de “inventar”», comentou o documentarista no decorrer da apresentação da Rota do Cante, na Casa do Alentejo, em Lisboa, a 4 de Setembro.

O programa da rota é diversificado e alia as paisagens sonoras do Alentejo à gastronomia. Na Casa do Alentejo, na Igreja de São Domingos, nas ruas da capital, nas estações de metro, comboios e barcos, que fazem a travessia do rio Tejo, vários grupos de cante alentejano, quer do Alentejo, quer da região de Lisboa, vão entoar as modas arreigadas a esta expressão musical.

Restaurantes da capital dedicados à gastronomia alentejana juntam-se à iniciativa, convidando alguns grupos a actuarem nos diversos espaços. Isto enquanto os participantes degustam pratos da cozinha alentejana como a sopa de tomate e beldroegas, as bochechas de porco alentejano, o ensopado de borrego com hortelã.

No dia 18 de Setembro chega às salas de cinema - UCI El Corte Inglês, em Lisboa, UCI Arrábida, no Porto, e Cinema NOS Almada Fórum, em Almada - o filme «Alentejo, Alentejo» de Sérgio Tréfaut. Alguma da informação recolhida para este documentário foi utilizada para a realização do filme, de curta de duração, de apoio à candidatura do cante alentejano a Património Cultural Imaterial da Humanidade, classificação atribuída pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO).

A decisão da UNESCO será anunciada em Novembro, altura em que terminará esta Rota do Cante, que «invade» Lisboa ao longo de três meses para celebrar um género musical cuja «vitalidade é inquestionável», refere Sérgio Tréfaut.

O realizador «lamenta» a falta de apoios da Secretaria de Estado da Cultura e do Turismo de Portugal relativamente à candidatura do Cante alentejano a Património da UNESCO e sublinha «que o seu filme foi apoiado pela Câmara Municipal de Serpa, que me lançou o desafio de o fazer, pela RTP - Rádio Televisão Portuguesa e Fundação Calouste Gulbenkian».

O realizador, filho de pai alentejano, sublinhou ainda o apoio da Entidade Regional de Turismo do Alentejo e Ribatejo. «O Turismo do Alentejo apoiou fortemente num momento em que tinha um pouco mais de meios. Espero que tenham [Secretaria de Estado da Cultura e Turismo de Portugal] margem e tempo para se retratarem».

Uma tradição rejuvenescida:
Entre 2011 e 2014, Sérgio Tréfaut acompanhou grupos de cantares alentejanos, neste momento são 150, filmando-os e perpetuando o cantar polifónico desta região. No final, o documentário «Alentejo, Alentejo» mostra a alma de duas dezenas de grupos e, sobretudo, «a identidade alentejana».

O trabalho, já distinguido, em Maio, com o Prémio Allianz - Digimaster para Melhor Longa-Metragem Portuguesa, do Festival IndieLisboa, deambula entre o cantar e contar. «A minha maneira de pôr as pessoas a falar foi à volta de uma mesa. Se as sentasse e pusesse a falar tinham um discurso de telejornal». Como se fala da identidade da região, Sérgio colocou alguns entrevistados a confeccionar um prato típico: açorda. «Não havia de mais emblemático do que a açorda. A açorda vai pontuado o filme, é feita por uma senhora de Baleizão, por um poeta de Safara e por uns jovens de Beja».

O realizador, que passou algum tempo da juventude em Amieira, Alentejo, não tem dúvidas que o Cante alentejano é uma tradição «rejuvenescida» e cuja «vitalidade é inquestionável». «Houve um período, e o filme foca isso, em que cantar já não era de tão bom-tom porque era uma coisa de velhos, os cafés impediam as pessoas de cantar porque as tabernas foram convertidas em pastelarias. Mas hoje essas coisas mudaram e o cante mudou de prestígio. Há um movimento de rejuvenescimento do cante», comentou ao Café Portugal, à margem da apresentação da Rota do Cante.

Os grupos corais contam hoje com membros jovens, assim como nasceram dois grupos com membros com idades compreendidas entre os 17 e os 22 anos. «São jovens que não querem estar no grupo dos antigos e formaram recentemente os seus próprios grupos, mas ensinados pelos antigos. São Os Bubedanas, de Beja e os Os Mainantes, de Pias», afirma o realizador.

A Rota do Cante é uma organização da FAUX, a produtora de Sérgio Tréfaut.
http://www.cafeportugal.pt/pages/noticias_artigo.aspx?id=8162