15-06-2015Xigubo José Craveirinha Edições 70
José Craveirinha, 1922-2003,moçambicano, foi um auto-didacta que desempenhou ao longo da sua vida diversas atividades tais como funcionário da Imprensa Nacional de Lourenço Marques, jornalista, futebolista, tendo também colaborado em diversas publicações periódicas, nomeadamente O Brado Africano, Itinerário, Notícias, Mensagem, Notícias do Bloqueio e Caliban. É uma figura incontornável e de referência da escrita em língua portuguesa e da literatura africana. Da sua obra destacam-se Xigubo (1964), Cântico a um Dio de Catrane (1966), Karingana Ua Karingana (1974), Cela 1 (1980), Maria (1988), e Haminas (1997).
Xigubo Minha mãe África meu irmão Zambeze Culucumba! Culucumba! Xigubo estremece terra do mato e negros fundem-se ao sopro da xipalapala e negrinhos de peitos nus na sua cadência levantam os braços para o lume da irmã lua e dançam as danças do tempo da guerra das velhas tribos da margem do rio. Ao tantã do tambor o leopardo traiçoeiro fugiu. E na noite de assombrações brilham alucinados de vermelho os olhos dos homens e brilha ainda mais o fio azul do aço das catanas. Dum-dum! Tantã! E negro Maiela músculos tensos na azagaia rubra salta o fogo da fogueira amarela e dança as danças do tempo da guerra das velhas tribos da margem do rio. E a noite desflorada abre o sexo ao orgasmo do tambor e a planície arde todas as luas cheias no feitiço viril da insuperstição das catanas. Tantã! E os negros dançam ao ritmo da Lua Nova rangem os dentes na volúpia do xigubo e provam o aço ardente das catanas ferozes na carne sangrenta da micaia grande. E as vozes rasgam o silêncio da terra enquanto os pés batem enquanto os tambores batem e enquanto a planície vibra os ecos milenários aqui outra vez os homens desta terra dançam as danças do tempo da guerra das velhas tribos juntas na margem do rio. José Craveirinha
Quero ser Tambor Tambor está velho de gritar Oh velho Deus dos homens |