30-12-2017Genealogias que surpreendem pelas escolhas profissionais, políticas e religiosasin Genealogia brasileira e portuguesa José Araújo é linguista e genealogista amador
Comunista Muita vezes nos surpreendem nossos antepassados em razão de suas escolhas profissionais, políticas e religiosas. Este foi um caso recente de um parente com quem convivi parte de minha infância. Há casos similares em sua família? No Brasil, diz-se que futebol, política e religião são assuntos que não se devem discutir. Hoje, com o acirramento das posições à esquerda e à direita – o que quer que isso queira significar no Brasil -, mais do que nunca essa afirmação parece refletir a verdade. Em termos políticos, creio estar alinhado com o liberalismo de meu admirado e distante primo José Pinto Rebello de Carvalho, tantas vezes retratado aqui no blogue. Em família, no entanto, esse não era um assunto discutido, o que justifica minha surpresa ao descobrir, mediante pesquisa na Hemeroteca Digital, que parentes muito próximos de meu ramo materno podem ter tido relação com o Partido Comunista do Brasil. Os fatos que me levam a essa suposição ocorreram em função da eleição presidencial de 1945, momento de democratização após o fim do Estado Novo, quando o Partido Comunista do Brasil lançou o engenheiro gaúcho Yeddo Fiúza (1894-1975) a candidato. Yeddo formou-se engenheiro em Porto Alegre e radicou-se no estado do Rio de Janeiro, onde foi indicado prefeito da cidade de Petrópolis após a Revolução de 1930. Em 1936 foi eleito prefeito da mesma cidade. O interessante é que ele não militava no partido nem era comunista. A campanha pela vitória do candidato do povo mobilizou a cidade de Nova Iguaçu, onde viviam meus parentes maternos. Tanto foi que os nomes de três parentes foram citados em matéria da Tribuna Popular de 27/11/1945. A matéria pode ser lida aqui ou no anexo. Manifesto à População de Nova Iguaçu A Comissão Municipal de Nova Iguaçu Pró Candidatura Yeddo Fiúza, composta dos srs. tenente Roberto Cabral, presidente; professor Gilberto Alves dos Santos, secretário geral; Júlio Rabelo Guimarães, tesoureiro; Deoclécio Machado, dr. José Brigagão Ferreira e Dionísio Bassi, propaganda, acaba de lançar à população daquele município fluminense um manifesto sobre a atual situação política Nacional. Inicialmente, analisa o documento citado à desagregação do povo, que assistia, ora estarrecido, ora angustiado, ao desdobramento do processo político nacional, repudiando as duas candidaturas existentes, por serem elas fruto das sutilezas políticas e das maquinações partidárias. Afirma que o manifesto, que o povo só poderia voltar as costas aos dois candidatos, exemplos típicos dos velhos tempos em que os interesses do povo desapareciam no dia da eleição para surgir apenas o interesse do candidato eleito. “Para executar um programa mínimo que unirá os brasileiros, prossegue o manifesto, um nome foi encontrado com os requisitos essenciais à tarefa: Yeddo Fiúza. Tendo dirigido o município de Petrópolis durante alguns anos, sua atuação ali correspondeu a um teste de habilitação para maiores empreendimentos. Embora lançado pelo Partido Comunista do Brasil, não é no entanto, o engenheiro Yeddo Fiúza um comunista, mas um candidato de união nacional, sem distinção de classes sociais, de ideologia política, de credos religiosos e pontos de vista filosóficos”. Termina o manifesto dizendo que a Comissão Municipal tem a satisfação de apresentar ao eleitor daquele município um programa e um nome civil que correspondem àquilo que todos aspiram na esfera política, pois a personalidade de Yeddo Fiúza, civil, técnico, engenheiro, administrador e homem probo, assim como o programa mínimo elaborado com o fim de congregar todos os brasileiros, resistem a qualquer análise. E conclui: “Às urnas com YEDDO FIÚZA!” A matéria cita meus tios maternos Djalma e Rubens e meu tio-avô materno Júlio Rabello Guimarães. Eles não estão mais vivos para informar se tiveram alguma ligação efetiva com o Partido Comunista do Brasil ou se apenas apoiaram o candidato do povo, porém os filhos de Rubens confirmaram que seu pai pertenceu ao PCdoB. O candidato do povo perdeu a eleição para o general Eurico Dutra, certamente para enorme frustração de seus 570 mil eleitores, entre os quais estavam meus parentes. A página do jornal ,Tribuna Popular de 27/11/1945, onde foi publicada a matéria, pode ser vista ,anexa. Genealogia Prática - Comunista
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