18-11-2017Elvas não esqueceu os seus judeusO antigo Açougue Municipal foi, possivelmente, a sinagoga de Elvas no tempo em que os judeus eram cerca de um quarto da população. Hoje ajuda a recordar algumas das famílias mais poderosas e influentes da terra. E até o chocolate em barra entra nesta história. MÁRIO LOPES PEREIRA
18 de Novembro de 2017, 1:47
Caminhamos pelo centro de Elvas, a zona chamada da Judiaria Velha, ruas estreitas, onde os carros têm dificuldade em passar, e só precisamos de imaginar como seria há alguns séculos. Vamos até à Idade Média e, de repente, as ruas animam-se numa azáfama, homens, mulheres, crianças, todos pertencentes à comunidade judaica da cidade, às compras, a caminho de casa, alguns dirigindo-se para a sinagoga, outros para o trabalho nas oficinas de ourives, no boticário ou noutros comércios Seria assim Elvas provavelmente desde o período islâmico, a partir do século X, admite Rui Jesuíno, responsável pelo Património e Turismo na Câmara Municipal, estudioso da história dos judeus elvenses e autor do livro Elvas – Histórias do Património, que reúne crónicas sobre a cidade. Logo no século XIV ficou famoso um judeu, de nome Vidal, pelos seus poemas, “cantigas que ficaram célebres e que estão hoje transcritas, embora incompletas, nos cancioneiros da Biblioteca Nacional e da Vaticana” e que “demonstram claramente uma mescla da cultura hebraica com a cultura moçárabe”, lê-se numa das crónicas, em que Rui transcreve a declaração de amor de Vidal a “ua dona d’Elvas/que me trage tolheito”. Conversamos com Rui enquanto nos dirigimos para o edifício do Açougue Municipal, no centro da Judiaria Velha, que acaba de ser inaugurado como espaço dedicado à história judaica depois de ter sido identificado (por Rui, a sua colega Tânia Rico e a já falecida professora de ambos Carmen Balesteros), como o local da antiga sinagoga que há muito tempo procuravam localizar.
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