07-08-2014Revolução dos Rabelados estreia em Cabo VerdeEm Cabo Verde, a película só tinha sido exibida para a Comunidade dos Rabelados de Espinho Branco. Mas lá fora, a “Revolução dos Rabelados” já foi mostrada em vários festivais internacionais: Festival Itinerante da Língua Portuguesa (FESTin) e Cine’Eco (Portugal), Bage da Fronteira (Brasil) e Kugamo (Moçambique). É a história de cabo-verdianos que, marginalizados, “escolheram viver em locais de difícil acesso, longe e sem qualquer contacto com a sociedade”, indica a sinopse. O filme “Revolução dos Rabelados”, de Mário Benvindo, já está a caminho de Cabo Verde, sendo que a sua estreia para o grande público acontece por altura das festas do município da Praia (19 de Maio), no Centro Cultural Português. O documentário revela como as tradições, lutas e crenças da comunidade dos Rabelados de Espinho Branco sofreram na última década por uma verdadeira revolução cultural. É a viagem a uma das facetas mais excepcionais da história contemporânea de Cabo Verde. Durante décadas os «rabelados» não iam à escola, não registavam os filhos nem recorriam aos hospitais. "Este não reconhecimento do Estado" foi interpretado como uma forma de revolução, logo com "fins políticos". Uma suspeita que levou a que fossem perseguidos e até presos. Hoje os rabelados são “o símbolo da resistência” do povo das ilhas ao regime colonial, lê-se ainda na sinopse. No filme de Mário Benvindo, a história dos Rabelados começa com a morte de Nho Agostinho, até então líder da comunidade de Espinho Branco. A incerteza que pairou nessa altura sobre o futuro da comunidade, a sua ténue abertura à sociedade, o fim de uma geração e o rito de passagem de testemunho para um novo ciclo são os aspectos que alimentam a trama do documentário. Durante três anos, Mário Benvindo foi descobrindo e registando mudanças inesperadas, muito mais profundas do que o resto da sociedade cabo-verdiana esperava. As mulheres emanciparam-se, alterando de modo significativo o seu status comunitário e a própria estrutura social do grupo. Mizá, artista plástica, foi a principal mentora dessa mudança que ninguém antes ousou tentar e que poucos acreditavam ser possível. Penetrou na comunidade, levou água, luz e arte àquela povoação até então fechada ao mundo. Acompanhou esta mudança de paradigmas a que Mário Benvindo Cabral chama “revolução criativa feminina”, em que as artes serviram de meio de realização e emancipação pessoal das mulheres e de todo o grupo dos Rabelados. Aliás, a comunidade sustenta-se com a arte: “Hoje a maior parte dos rabelados são artistas e as suas obras têm um certo valor”, sublinha o realizador que só conheceu Espinho Branco em 2008. Conquistar a confiança dos Rabelados, que permanecem “desconfiados”, foi o primeiro desafio de Mário Benvindo. Assim, durante um ano não levou câmara. Todos os fins-de-semana voltava lá para falar, estabelecer laços de confiança e amizade. Queria que lhe contassem as suas histórias na primeira pessoa. Um ano mais tarde começou a filmar. Documentou testemunhos pessoais sobre o isolamento por vontade própria e a necessidade de preservarem as suas tradições. Registou a Ladainha, esta singular cerimónia religiosa que acontece de madrugada, e, mais importante ainda, filmou a história dos Rabelados em plena mutação. O resultado é este documentário de 26 minutos, em que mostra a nova realidade dos Rabelados. Hoje, quando ficam doentes vão ao hospital, as mulheres saem da comunidade para ir trabalhar, os jovens já podem frequentar a universidade. Tudo coisas que ninguem pensou até há pouco tempo ver acontecer a um Rabelado. Mário Benvindo Cabral também é o realizador de “Rua Banana”, filme com o qual marcou presença na mostra de cinema lusófono “Mostralíngua”, bem como de “Areias da Morte” - um documentário sobre dezenas de baleias mortas numa costa de Santa Cruz- que apresentou na edição 2013 do Cine’Eco, em Portugal. Silvia Frederico http://asemana.publ.cv/spip.php?article99136&ak=1 |