16-04-2004AVE, Dulce Pontes Xico Xadrezcantora arrasa em São Paulo artigo especial de Xico Xadrez (Fórum Elos) * Desde que lançou LUSITANA, aos 23 anos, seu canto nunca mais parou. Ave, Dulce Pontes, agora em São Paulo, no Direct TV Music Hall. Sua voz ressoa no Music Hall, como já ressoou em imensas catedrais, em palcos espalhados mundo afora, em trilhas que os cinéfilos extasiam-se de admiração. Dulce Pontes em São Paulo é um lenitivo para esta cidade, um polvo com mais de 20 milhões de habitantes. Dulce Pontes... Ela que ao gravar Lágrimas em 1993 evidenciou o que pode um artista de seu porte. Leva e traz sonhos, evoca fados tradicionais, resgata músicas brasileiras e lusitanas, traz em seu bojo canções de Astor Piazolla. Quem não quer ouvir Dulce Pontes? Talvez só ela possa cantar o que Amália sobejava;seus registros agudos encantam a platéia, que mal sabe onde ir. Ela que já cantou com Carreras, com a brava Cesária Évora e com o inefável Caetano Veloso, agora urge, dirimi, alavanca e vem de atalaia com o maestro Enrico Morricone, 75, que em Cinema Paradiso evidenciou como é magistral em elaborar composições. Esta união de talentos evidenciou-se no CD Focus, acolhido pelos lusófonos do mundo inteiro. Se em Paradiso, era grande a nostalgia pelas telas, agora remonta-se a uma outra e urgente temática. Ave, Dulce Pontes, que ao entoar Nosso Mar e Amália Por Amor só faz chorar. Onde fostes beber esta fonte inesgotável de sabedoria, criatividade, inspiração que faz a todos, lusófonos ou não, portugueses ou brasileiros, europeus, americanos e tantos mais se renderem diante tamanha harmonia, empolgação e alegria que se traduz em uma voz privilegiada? Ave Dulce Pontes.Que em seu canto reproduz caminhadas, antigas serestas, navegações que se foram, vão e volta, caravelas ousadas que fazem sonhar. Em sua garganta bate todo este Portugal imenso. Soa Fátima, oa Açores, vem Coimbra, és o Porto, Dulce Pontes. E és Lisboa,és Fátima, és Figueira da Foz e és Tentúgal, em cada canto teu, vislumbramos tantas lutas desesperada, parece que gira também o mundo todo. É um devaneio, é um delírio, e é um colírio ouvir e apreciar Dulce Pontes. Em especial, este mundo lusófono que se descortina aos nossos olhos. Seja a Praia, ou Porto Alegre, Luanda, Belém ou Moçambique. Salta aos olhos Porto Príncipe. E, há Dili. O mundo que as grandes navegações forjaram não morreu. Sobrevive em cada lágrima, em cada solfejo, em cada registro agudo, em cada voleio que Dulce Pontes emana. Dulce Pontes, além de doce, traz pontes que unem e fazem nascer flores do chão cinzento de Metrópole, que traz de volta os antigos romances, amores que já tinham ido embora e agora tem mais sentido no coração de São Paulo, esta cidade que há 450 anos Padre Anchieta deu-lhe forma e deu sentido. Agora, Dulce Pontes devolve-lhe uma parte do coração que nunca deveria ter sido roubado.Este legado lusitano que, às vezes, os brasileiros sentem tanta falta. Esta melancolia incontida, esta dor de não saber o que é, esta vontade imensa de vencer mares, suportar agruras, vencer temores... Ave, Dulce Pontes. Os que amam a Arte te saúdam. * Francisco José dos Santos Neto, o autor, (Xico Xadrez) é jornalista e presidente do Elos Clube de Uberaba, entidade fundada pela engenheira e ativista cultural Maria Margarida de Castro |