Iclas - Instituto de Culturas Lusófonas
Antonio Borges Sampaio


21-08-2017

Salé, um Lago no Baixo Amazonas Renato Athias


Por Renato Athias

Já faz alguns anos que me dedico a entender a presença e a 

cultura dos judeus marroquinos na Amazônia, isso por que meu avô Jacob Athias era um deles. Jacob deixou o Mellah de Salé como tantos outros que 

atualmente vivem na Amazônia ou espalhados pelo mundo.

Vários intelectuais investigaram e contribuíram com 

importantes estudos sobre esse grupo social muito antes de 

mim. Esses estudos históricos são importantes e geralmente 

tem uma abordagem que eu costumo chamar de memorialista. 

Entre esses investigadores, eu gostaria de citar três. 

O pioneiro desses estudos são trabalhos de Abraham Ramiro 

Bentes (1912–1992), nascido em Itaituba no Pará, general do 

Exército Brasileiro, que muitos anos esteve à frente da 

Sinagoga Shel Guemilut Hassadim no Rio de Janeiro. 

Eu tive a oportunidade de conhecê-lo brevemente no Rio de 

Janeiro, pois vivia na mesma rua em que meu pai. 

Ele escreveu vários livros muito bons, entre os quais:

 “Das Ruínas de Jerusalém à Vederjante Amazônia”. 

Outro pesquisador importante e fundamental para dar 

um caráter mais acadêmico para esse campo de estudos sobre

 Amazônia foi o professor Samuel Benchimol (1923–2002). 

Ele nasceu em Manaus, economista e cientista social, ensinou 

mais de 50 anos na Universidade Federal do Amazonas, 

foi membro da Academia Amazonense de Letras e um dos 

fundadores do Comité Israelita do Amazonas (CIAM). Eu tive 

o imenso prazer de conhecê-lo no CEDEAM (Centro de 

Estudos e Documentação sobre a Amazônia/UFAM) que ele 

havia fundado nos anos 1970 quando eu ainda morava em 

Manaus. Entre os seus livros encontram-se o mais famoso

 “Eretz Amazônia” (o único traduzido para o hebraico) 

sobre os judeus marroquinos na Amazônia, com uma impressionante lista de nomes de judeus sepultados nos cemitérios da Amazônia. 

O terceiro autor, também importante, é o historiador Reginaldo Heller, do Rio de Janeiro, que escreveu “Judeus do Eldorado: 

reinventando uma identidade em plena Amazônia:

 a imigração dos judeus marroquinos do norte da África

 para o Brasil (Pará e Amazonas) durante o século XIX”.

Jan Janszoon ( Murat Reis), renegado holandês a serviço da República de Salé                          (1650). Pintura de Pier Francesco Mola 

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Nesses livros, vamos encontrar nomes, fatos, situações 

etnográficas e uma lista muito grande de nomes de judeus 

marroquinos que se estabeleceram na Amazônia, todos eles 

comerciantes, mestres em fazer negócios 

e, sobretudo, especialistas do extrativismo amazônico, 

instalados nas principais cidades ribeirinhas do baixo 

Rio Amazonas e afluentes. Esses comerciantes foram os 

expoentes do desenvolvimento dessa região, como assinala os irmãos David e Elias Salgado em seu livro “História e Memória : Judeus e a 

Industrialização do Amazonas”.

O jornalista Henrique Veltman e fotógrafo Sergio Zalis escrevem uma reportagem fotojornalística em 1983, intitulada “Os Hebraicos 

da Amazônia”, encomendada pelo Museu da Diáspora de 

Tel-Aviv

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Notas:

[1] Agradeço a minha prima Gisèle Fhima Rainglas, nascida em Salé, de ter me apresentado a Haïm                                               Zafrani e a toda a sua literatura sobre o Marrocos Judaico.

[2] Agradeço a Emilie Stoll por me mostrar esse mapa, em um delicioso almoço em um restaurante 

ao lado do Museu de História Natural, Jardin des Plantes, em um início da primavera de 2017,

 em Paris. Para ser melhor  visualizado basta clicar nesse link abaixo. Tem uma ótima resolução 

através do site da Universidade de  Stanford nos E.U. 

https://searchworks.stanford.edu/view/2940277

[3] Obrigado a Yehuda Benguigui por lembrar outros nomes  de judeus marroquinos que vieram de 

Salé.

[4] Négocier dans les souks marocains en 7 étapes - Explore le Monde /Renato Athias, 

é Etnólogo, professor Associado do Programa de Pós-Graduação em Antropologia e coordenador

 do Núcleo de  Estudos e Pesquisas sobre Etnicidade (NEPE) da Universidade Federal de Pernambuco e Professor do Master 

Interuniversitário da Universidade de Salamanca, na Espanha.

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leia o artigo na íntegra aqui» Salé, um Lago no Baixo Amazonas – Renato Athias – Medium