17-12-2004

Candidatura à UNESCO de Património Galaico -Português quer parceiros

Só em Junho do próximo ano é que se saberá se a UNESCO aprova ou não a Candidatura Multinacional do Património Imaterial Galaico-Português, mas, ontem, os responsáveis pela Associação Pedagógico-Cultural Ponte nas Ondas, que deu corpo à candidatura, estiveram em Braga a convidar as autarquias daquele distrito a serem "parceiras" no projecto.

Iniciada pela associação Ponte nas Ondas ( composta por setenta escolas da Galiza e do Norte de Portugal), a candidatura foi posteriormente apoiada pelos Governos dos dois países. Agora, depois do apoio de todos os municípios da região da Galiza, é altura de as autarquias portuguesas formarem parcerias com vista à divulgação e preservação do património imaterial da "Gallaecia Romana", a antiga região que, actualmente, é composta pela Galiza e pelo Norte de Portugal.

De acordo com o organismo das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura, o "património imaterial" que galegos e nortenhos querem ver protegido não é mais do que o " conjunto de formas de cultura tradicional, popular ou folclórica que emanam de uma cultura e se baseiam na tradição transmitida oralmente ou mediante gestos", constituindo " um processo de recreação colectiva". E é esta cultura popular que os professores e alunos das setenta escolas que compõem a associação querem ver preservada. "A UNESCO pôs em segundo plano as pedras e quer dar destaque às pessoas e preservar o património vivo", referiu Xavier Prado, vice-presidente da " Ponte nas Ondas". As festas de S. João, os tapetes de flores, os cantares ao desafio, as lendas e tradições, os bordados, os chás e as mezinhas são apenas alguns dos itens que constam da candidatura entregue na sede da UNESCO, em Paris. "No fundo, o que é urgente preservar é a identidade colectiva do povo", salienta Lurdes Carita, uma das portuguesas que fazem parte da associação.

Como condição para aceitar as candidaturas, o organismo das Nações Unidas, para além das questões formais, exigia que apresentassem "uma cultura viva", mas " em perigo de desaparecimento". A galaico-portuguesa foi aceite. Com ela, mais oito candidaturas multinacionais serão votadas no próximo mês de Junho. Contudo, a Candidatura Multinacional do Património Imaterial Galaico-Português é, de acordo com os promotores, a primeira, em todo o mundo, a ser elaborada pela comunidade escolar de dois países. Aos estabelecimentos de ensino juntaram-se já museus, universidades e autarquias. Tudo para que a cultura possa ser transmitida e salvaguardada para as gerações mais novas. "O património está sobretudo nas mãos dos mais velhos e é preciso passá-lo para os mais novos", disse ainda Lurdes Carita, que, para além da perda de algumas artes e ofícios com a morte das pessoas mais velhas, lamenta também a perda de vocabulário. "Há muitas palavras, por exemplo, relacionadas com o linho que deixaram de ser usadas porque muitas das tarefas ligadas ao cultivo do linho deixaram de se fazer", explica.

Daqui para a frente, a associação " Ponte nas Ondas" quer cativar cada vez mais parceiros na defesa do património cultural. " É importante preservar e ensinar a gostar do património", finaliza Lurdes Carita. O exemplo desde " amor" à cultura popular pode ver-se numa escola de Valença que, este ano, vai ter aulas de cantares ao desafio para os seus alunos.

Fonte : www.pontenasondas.org/outras actividades