Iclas - Instituto de Culturas Lusófonas
Antonio Borges Sampaio


18-04-2015

África Literatura moçambicana - O último voo do flamingo


Mia Couto

 

Capa

Dupla Design

Páginas
232

Formato
14.00 x 21.00 cm

Peso
0.29500 kg

Acabamento
Brochura

Lançamento
16/02/2005

ISBN
9788535906028

Selo
Companhia das Letras

Leia um trecho

Mia Couto é um dos escritores africanos de maior destaque da atualidade. O último voo do flamingo, publicado originalmente em 2000, é seu quarto romance, e foi lançado quando Moçambique comemorava 25 anos de independência de Portugal. 
Depois de um longo tempo de guerra civil, soldados das Nações Unidas estão em Moçambique para acompanhar o processo de paz. O romance narra estranhos acontecimentos de uma pequena vila imaginária, Tizangara, ao sul do país, onde militares da ONU começam a explodir subitamente. 
O autor elabora uma crítica ácida aos semeadores da guerra e da miséria, mas também uma história em que poesia e esperança dependem da capacidade narrativa de contar a própria história com vozes africanas autênticas. Só elas sabem que o vôo do flamingo faz o sol voltar a brilhar depois de um período de trevas e opressão.

- Leia a análise de O último voo do flamingo

O livro começa com uma carta do “tradutor”, que é o narrador do livro, onde ele conta os motivos que o levaram a narrar essa história. Pouco tempo depois da guerra terminar em Moçambique, alguns soldados da Tropa de paz da ONU que estavam na região começaram a explodir. Para tentar entender o que estava acontecendo, o italiano Massimo Risi é enviado à Tizangara, cidade fictícia onde se passa a narrativa, para investigar os estranhos acontecimentos. Para tanto, o governante local contrata o tradutor para acompanhar Risi em sua investigação.

Há um pênis decepado largado no chão da cidade e resolve-se fazer uma vistoria para tentar descobrir a origem do órgão ali jogado. Como ninguém sabia o que fazer, resolvem chamar Ana Deusqueira, a primeira e única prostituta de Tizangara, para reconhecer o pênis. Após olhar com ares de especialista, ela informa que o órgão não é de nenhum morador local. Todos partem e Risi dirige-se à pousada local com seu tradutor.

Lá chegando, o italiano é advertido que se aparecer um louva-deus pelo local, não deve mata-lo. Ao ir para o quarto, Risi se depara com Temporina, uma estranha mulher com belíssimo corpo de jovem, mas rosto de velha. Antes de dormir, o tradutor conta histórias de sua infância e de seu pai, o velho Sulplício, para Risi.

No outro dia, o italiano encontra Temporina no corredor e ela diz estar grávida dele, o que Risi nega, já que apenas havia sonhado com a mulher. O hospedeiro, que ouviu a conversa, entra no quarto e adverte Risi para tomar cuidado com Temporina. No meio da conversa, o hospedeiro repara que tem um louva-deus morto no chão e começou a gritar “Hortênsia! Você matou-lhe!”. Risi, sem nada entender, expulsa o homem do quarto e pede explicações para o tradutor. 

Então, ele conta que naquela terra acreditava-se que um louva-deus era um ancestral morto voltando para visitar seus parentes vivos. Aquela seria Hortênsia, tia de Temporina e última neta dos fundadores de Tizangara. O tradutor então chama Temporina e pede para que essa conte sua história. A jovem conta que na realidade não tem nem vinte anos e que havia ficado com a cara cheia de rugas e velha por ter recebido castigo dos deuses, uma vez que quando jovem ela recusara todos os homens e acabou passando o “prazo de sua adolescência”. Ela resolve então conduzir Risi à casa de Hortênsia, que fora usada pelos soldados da ONU e talvez lá ele pudesse descobrir algo.

Hortênsia havia sido uma bela mulher que passava os dias na varanda de sua casa toda bem arrumada, somente para se exibir. Nunca tinha saído com nenhum homem e permaneceu sua vida toda solteira. Ao morrer, deixou tudo para um sobrinho tonto. Dizia-se que mesmo após morrer Hortênsia continuava cuidando dele e toda manhã tinha um prato de comida à mesa.

Enquanto isso, Estêvão Jonas, o governante local, escreve uma carta ao Chefe Provincial para informar o que estava acontecendo em Tizangara. Na carta em tom confessional, Jonas conta que os soldados estão explodindo, mas que ninguém sabe o porquê ainda. Além disso, diz ele que quando sua mulher o toca, suas mãos se esquentam como se fossem carvão aceso, chegando um dia inclusive a pegar fogo. Ele teme um dia explodir também.

Massimo Risi e o tradutor vão ao gabinete de Jonas para ouvir o depoimento de Deusqueira, que havia sido gravado pelo governante. A fita começa a tocar e nela a prostituta conta que os homens realmente explodem e o que causa as explosões são as mulheres. Porém, Jonas para a fita diversas vezes e não se entende exatamente o que ela sabe sobre o assunto. Até que a reunião é interrompida por outra explosão.

Sem mais saber o que fazer, Risi e o tradutor resolvem ficar andando pela cidade para se distraírem, ao que encontram o hospedeiro. Ele estava a procurar o irmão tonto de Temporina, que havia saído de casa dizendo que ia matar o italiano. Num dado momento, Risi tem uma visão de Temporina vindo em sua direção e tem um desmaio. Eles resolvem voltar para a pensão e o hospedeiro conta as histórias das primeiras explosões.

Conta ele que quando teve a primeira explosão, as pessoas acharam que ainda era a guerra e se esconderam na floresta. Lá, ele encontrou sua mãe, que lhe contou uma velha história sobre o flamingo. Num tempo em que não havia noite, era sempre dia, um flamingo disse que faria seu último voo e que iria para outra terra, a terra das estrelas. Quando o flamingo partiu, o bater das asas fundiu-se com o horizonte; até que o flamingo se extinguiu e a noite nasceu naquela terra.

No outro dia, prendem o padre Muhando, que dizia ter sido quem causou as explosões. Quando conseguiram conversar com ele, Risi e o tradutor ouvem sua história incerta e não lhe dão confiança. Eles percebem que Muhando, que vivia a xingar Deus pelas ruas, realmente enlouquecera e não sabia direito o que estava falando.

No dia seguinte, o tradutor resolve visitar seu pai e Risi pede para acompanha-lo por temer ficar sozinho. O velho Sulplício não os recebe bem e se recusa a falar com o estrangeiro. Por fim, ele acaba fazendo uma série de críticas à presença estrangeira no país, à colonização e aos dirigentes locais, que se dizem salvadores, mas também fizeram muita coisa ruim. O tradutor conta logo depois que Estêvão Jonas assumiu o comando, Sulplício, na época policial, prendeu o sobrinho de Jonas. Dona Ermelinda ficou furiosa e em um instante o moço estava solto e Sulplício é que ficou preso com as mãos amarradas. Ermelinda ainda tacou sal nas feridas e ordenou que só o soltassem no dia seguinte. Após essas histórias ouve-se uma nova explosão e Sulplício diz que essa não era uma explosão de estrangeiros, mas sim uma das explosões reais, de gente ali da terra mesmo.

Quem havia explodido era o sobrinho tonto de Hortênsia, irmão de Temporina. Risi e o tradutor foram para a cidade tentar entender o acontecido e encontraram o padre Muhando, já liberto, a praguejar contra Deus por ter deixado o moço morrer. Em seguida, encontraram o maior feiticeiro da cidade, Zeca Andorinho, que contou a eles que havia feito sobre encomenda dois feitiços para Risi. Um deles era um likaho de sapo, que faria ele inchar e explodir. O outro, um likaho de cágado, que o protegeria.

Então, Zeca Andorinho diz que fez o likaho de sapo para os homens que explodiram e começa a contar sobre eles, mas sua fala é incerta e não se sabe exatamente o que ele quer dizer com aquilo. Porém, deixa Risi avisado que, apesar de Zeca ter feito o likaho de cágado para protege-lo, o italiano deveria tomar cuidado onde pisava.

Um dia, o tradutor entra no quarto de Risi e o descobre arrumando suas malas para partir. Sem mais saber o que fazer, perdido em um labirinto, ele resolvera ir embora. Então, ele mostra uma gravação que fez de Deusqueira onde ela conta como foi quando o zambiano explodiu.

No dia seguinte o italiano sai com Temporina para ir se despedir do padre Mujando e o tradutor resolve ir à casa de Estêvão Jonas para informa-lo da partida de Risi. Chegando lá, estava uma grande confusão, pois ele gritava e xingava Ana Deusqueira dizendo que ela que havia causado as explosões. Ela, por sua vez, diz que ele é que era o culpado, pois ele desviava o dinheiro destinado para remoção das minas e plantava mais ainda para conseguir mais dinheiro. Dona Ermelinda chega e, para o espanto de todos, acode Deusqueira e expulsa Estêvão de casa. 

O tradutor vai informar aos outros o que havia acontecido e Temporina decide ir se juntar à Deusqueira. Um tempo depois, ela volta dizendo que Estêvão e seu capanga, Chupanga, decidiram fugir para outro país e que iriam explodir a barreira para que a cidade toda fossem inundada e não sobrassem provas das minas. O tradutor e outros resolvem ir atrás para impedir, mas Risi deveria ficar ali, pois o negócio deveria ser resolvido por gente ali da terra. Apanharam Chupanga no meio da estrada e o levaram à Tizangara na presença de Zeca Andorinho e do velho Sulplício. Decidem não matar Chupanga, mas ele deve ir embora e levar Ermelinda junto.

Voltam Risi, o tradutor e Sulplício para casa. À noite, o tradutor vê seu pai tirar os ossos para dormir, coisa que o velho sempre disse que fazia, mas ele nunca tinha acreditado nessas histórias do pai. Dormem os três ali fora sob a árvore e, ao despertarem no meio da noite, descobrem que não há mais país. Tudo tinha sido engolido por um grande abismo. Chega, então, um barco carregando os ossos de Sulplício, que os coloca de volta ao lugar e chama Risi para ir ver onde os explodidos se encontravam. O italiano nega e Sulplício entra no barco e vai embora. Risi então escreve seu último relatório dizendo que o país havia sumido. Ele faz um avião com o papel e joga em direção ao abismo. Os dois se sentam e ficam esperando um novo barco chegar, esperando um outro voo do flamingo.

Lista de personagens
Massimo Risi: italiano encarregado pela ONU de investigar as estranhas explosões em Tizangara.
Tradutor: homem designado pelo governante locar para acompanhar Risi e servir de tradutor.
Sulplício: pai do tradutor.
Temporina: mulher com esbelto corpo de jovem e rosto de velha.
Dona Ermelinda: primeira-dama local, esposa de Estêvão Jonas.
Estêvão Jonas: governante local.
Ana Deusqueira: primeira e única prostituta de Tizangara.
Padre Muhando: padre que enlouquecera e vivia pela rua gritando injúrias a Deus.
Zeca Andorinho: maior feiticeiro de Tizangara.
Chupanga: capanga de Estêvão Jonas.

Sobre Mia Couto
António Emílio Leite Couto (Mia Couto) nasceu em 5 de julho de 1955 na cidade da Beira, Moçambique. Aos 14 anos, publicou seus primeiros poemas no jornal “Notícias da Beira”. Em 1971 mudou-se para a cidade de Lourenço Marques (hoje, Maputo), onde começou a estudar Medicina. Porém, abandonou a carreira médica e passou a trabalhar no jornalismo. Após a independência de Moçambique, trabalhou como diretor da Agência de Informação de Moçambique e também dirigiu a revista “Tempo” e o jornal “Notícias de Maputo”.

Em 1985 abandonou a carreira jornalística e se formou em Biologia pela Universidade Eduardo Mondlane. Durante a década de 1980 publicou suas primeiras obras literárias, sendo a primeira delas o livro de poemas Raiz de Orvalho (1983). Em 1992 publica seu primeiro romance, "Terra Sonâmbula", que ganhou o Prêmio Nacional de Ficção da Associação de Escritores Moçambicanos em 1995 e é considerado um dos doze melhores livros africanos do século XX. Além desse, também já recebeu o Prêmio Vergílio Ferreira (1999) e o Prêmio Literário Mário António (2001), entre outros. Atualmente, Mia Couto concilia a vida de biólogo e professor com a de escritor.

Suas principais obras são: "Terra Sonâmbula" (1992), "Mar Me Quer" (1998), "O último voo do flamingo" (2000) e "Um Rio Chamado Tempo, uma Casa Chamada Terra" (2002).

(http://guiadoestudante.abril.com.br/estudar/literatura/ultimo-voo-flamingo-resumo-obra-mia-couto-701943.shtml)

 ============

http://www.companhiadasletras.com.br/detalhe.php?codigo=11968