28-08-2013 Angola, História e Civilização por Simão Souindoula gte mso 9]>
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por Simão SOUINDOULA
OS PLANALTOS CENTRAIS. A GÉNESE DA HUMANIDADE
A Região de estabelecimento propício ao desenvolvimento humano, o conjunto
dos “omunda” registou, em todos tempos, uma notável dinâmica evolutiva que faz,
naturalmente, desta zona, relativamente, saudável, a mais povoada do atual
território angolano.
UM PASSADO PRÉ HISTÓRICO SIGNIFICATIVO
O atual ov’okati atestou a presença do Homo Sapiens com toda a sua bagagem
lítica, os seus conhecimentos da vegecultura, a domesticação de animais e a
expressão gravada parietal, aglutinando bem, naturalmente, as características
do tríptico da classificação Congo/Zambeze/Sudoeste.
Este “tete omanu” evolui, em entre outras linhas, em Benguela, na Baia das
Vacas, na Ponta do Sombreiro, na Praia Farta, ao longo do rio Dungo, nos
abrigos sob rocha de Ebo, Luee e Djole, em Delambira, no Galanga, nos rios
Cuengue e Xissoi, próximo da missão de Chipindo.
Este, que se tornou metalurgista, explorou os aluviões auríferos mungo, gravou
em Caninguiri, pinturas rupestres, estabeleu-se na Ganda, em Cambambi, uma zona
de inselbergs, entre as serras do Hondio e do Epale, uma oficina de fundição de
ferro.
A grande referência da pré-história da” utima” e o emblemático sítio da
decisiva idade de ferro, o Feti (génese), no planalto do Huambo, na confluência
do Cunhangama e Cunene, a cerca de 100 km da referida cidade.
A sua grande importância e revelada na sua montagem, numa inesperada pirâmide
de pedra, na tenaz mitologia de tesouro, verdadeiro cofre siderúrgico, de lugar
sagrado, local de ritos, fortes.
Com efeito, a pluviogonia, e uma das crenças fixadas neste onele, “Montagem de
Pedras para implorar a Agua”.
PLUVIOGONIA
A relevância deste sítio da Iron Age reside, igualmente, no facto que e, ali,
que os Ovimbundu baseia a origem da humanidade, com o poético casal, Feti e
Tchoya.
Os seus descendentes edificarão, numa firme sinergia, federadora, o Galangue, o
Viye, o Huambo, o Sambo, o Cuima e a Caconda, nação assinalada, jaga, em
1641.
E atestado em 1680, a existência ou a formação, em curso, na primeira metade do
seculo XVIII, desses espaços políticos.
Os Hanha reivindicam, particularmente, a gesta do lendário casal que passou por
Mbalasese, no atual Quiaca, em direção ao norte, na margem direita do rio
Cuanza. Ai, eles engendram o Rei Ngola.
A datação feita num dos contextos estratigráficos do reservatório deu a data,
interessante, do seculo VIII da nossa era.
Esse domínio da metalurgia associado ao forte crescimento demográfico das comunidades
bantu, provocou migrações estruturantes nos reconfortantes e seguros Planaltos.
Haverá, ai, uma autêntica convergência pan-bantu.
Assim, admite-se, geralmente, que uma substancial parte das populações
ovimbundu são descendentes de povos que fizeram a sua entrada pelo norte de
Angola e que os ascendentes kongo foram os primeiros a instalarem-se nas
Serranias.
Estes, juntaram-se a outros vindos do nordeste, do sudoeste e do sul do atual
território angolano; prova disto esta na língua umbundo, produto patente do
Kikongo/Kimbundu e do lunda/luba/cokwe.
Esse fim de milénio parece ser o da formação das referidas entidades politicas,
cuja indiscutível ilustração, foi a construção de fortificações, reflexo típico
dos marciais Jagas, que movimentavam na região no inicio do seculo XVII.
SOBERANIA MATRILINEAR
Vê-se, essas edificações no morro do soba Cungo, no morro da Cela, no Huambo,
na Ganda e em Samissasa, Quiaca, Quivula, Andulo, Quingolo, Caluquembe, Quipete
e Quitata.
Visivelmente, tendo em conta a sua extensão, as fortalezas foram montadas e
reforçadas, reinado após reinado, como pareceu o indicar, o 19 Rei do Huambo,
Capoco II, que governou de 1846 a 1860.
Pode-se notar alguns factos sobre essas entidades politicas.
Assim, a mais poderosa formação pareceu ser o Huambo, enquanto o Mbailundu era
a mais extensa e populosa. Esse ultimo reino tinha a volta de 1850, uma
população estimada a meio-milão de indivíduos, repartidos em 200
circunscrições, contendo de 3 a 300 aldeias.
O vigoroso Reino do Huambo tinha a sua capital, Mbola, a 7 km a norte de Caala.
E, facto confirmativo das relações com o setentrião das “Altitudes”, sobretudo
o Imbangala de Kasanje, um jaga conhecido como Huambo Calunga, vindo do vale do
rio Queve, reinou, ai, pelo menos, em 1635 ou 1640.
Os títulos políticos tais como ngolambolo ou tendala corroboram o referido
relacionamento.
Uma entidade com uma governação particular foi o Ganda, dirigido, durante por
algum tempo pela Rainha Caue.
Os Planaltos jagaizados, sobretudo depois da sua expulsão do Reino do Kongo, em
1573, transformaram-se como a placa giratória, frenética, do tráfico
caravaneiro de escravos, marfim e cera, já a partir do seculo XVIII, entre o
hinterland e a costa.
AI OS JAGAS
A fim de parar as repetidas incursões dos ukwalomunda, tornados perigosamente
expansionistas, a Colónia de Angola empreendeu uma autêntica guerra, entre 1774
e 1776, contra Mbailundo, Andulu e Bié.
O conflito que revelou um equilíbrio militar, desembocou numa aliança
estratégica, de razão, eminentemente, comercial, entre a entidade portuguesa e
o tríptico ovimbundu.
De facto, os efuli reforçaram as suas linhas de longa distancia de
abastecimento se bem que e certificado, em 1795, a sua presença no território
lwena, e em 1840, na capital do Império Lunda e no Reino Lozi e, alguns anos
depois, atingira, o vale do Kasai.
O perfil dos produtos das quibucas que estava a mudar ate, pelo menos, 1880,
fixou-se na opção, mais lucrativa, da borracha vermelha, que os kangundu
descobriram a leste do Cuanza, em 1886. A corrida dos kangweta para esta renda
foi geral e só foi interrompida, a partir de 1890, pelos confrontos armados
luso-ovimbundu, as guerras do Nano ou as guerras pretas, que alastram-se em
1896 e 1902, mas também, pela terrível fome de 1911.
Nas memórias dos Planaltos, este ano aponta o fim do negócio de longa
distância, que foi, arduamente, animado pelos mambari ou quimbáre, mbali,
ovimbali.
O termo deste ciclo económico resultou, igualmente, da situação politica,
militar e social, instável, numa extraordinária recorrência, no litoral,
exutório, estratégico, de Benguela, Catumbela, Lobito, Egito, Quicombo, Novo
Redondo e Benguela - a -Velha.
Os ofumbelo levaram, uma luta permanente contra a consolidação e a expansão
coloniais, tal como nos presídios de Hanha, Caconda, Quilengues, nos Reinos do
Dombe Grande e dos Seles.
DE SOL A SOL
Uma das causas deste estado de insurreição permanente e a continuação de um
tráfico humano com as ilhas de São Tome e Príncipe e o abastecimento em
mão-de-obra das plantações de algodão do litoral, resultante da forte demanda
internacional deste produto, na sequência da guerra de secessão nos Estados
Unidos de América.
Esses trabalhadores laboravam na qualidade de verdadeiros “omumbe” ou
“neo-upika”, obrigados a labutar de “sol a sol”.
Outro fator que de desagrado económico e social foi a usurpação das terras
agrícolas pelos colonos.
As últimas lutas de resistência foram tenazes no coração dos Planaltos,
alastrando-se entre 1890 e 1904.
Vários ependa vão destacar-se na defesa da soberania dos territórios tais como
Cikunyu (1888 1890) que bem autointitulou-se Ndunduma, “a Faisca”, Numa II
(1895 – 1896), Samba Iolundungo, o famoso Samacaca “O Feiticeiro” (1902 –
1904), que notabilizou-se nas ataques das caravanas, ao longo do rio Cuvo e, no
ano de todas as resistências, 1902, Mutu ya Kevela , Libongue, Tchibaba e
Caimbuca.
O conjunto dos Estados do centro perdera a sua independência e será submetido à
ordem colonial moderna, com as suas exigências políticas, os seus alinhamentos
económicos e as suas imposições sociais.
Este desenvolvimento terá como espinha dorsal, o Caminho de Ferro de Benguela,
cujo contrato de construção foi, justamente, assinado, em 1902.
Esta solida ligação chegara no Huambo, dez anos depois, e, em 1903, no Bié,
criando, no coração de Angola, uma nova configuração planáltica que marcara a
historia contemporânea do pais.
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Vansina, Jan, Les anciens royaumes de la savane, Léopoldville, 1965.
Simão SOUINDOULA
Historiador e Perito da UNESCO
C.P. 2313 Luanda – Angola Tel.
+ 929 74 57 34
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