28-08-2013Contos tradicionais africanos Francisco Amorimgte mso 9]> São muitos os contos tradicionais africanos, donde sempre se pode tirar uma lição. Muitas das vezes a principal lição é a da esperteza! O sujeito mais vivo é quem leva a melhor. O primeiro conto é do livro Quilandoquilo do grande escritor Angolano Óscar Ribas, uma das maiores figuras de Angola de todos os tempos. O segundo foi encontrado em Janeiro de 2000 na Internet e não indica o nome do autor. A senhora Maria era exigente na aceitação do homem que a desposaria. Diversos pretendentes se lhe declararam, mas nenhum logrou sua simpatia. Para a senhora Maria, todos eram desprezíveis, sem envergadura física. Em sua ambição, só um a interessava: - o senhor Elefante. Esse, sim, esse é que lhe convinha. Grande, imponente, ninguém ousaria desrespeitá-lo. Vivia a senhora Maria nessa ansiedade, quando o senhor Elefante se lhe apresenta por sua vez. Cheia de satisfação, respondeu-lhe : - Sim, aceito-te para marido, só tu me agradas pela tua corpulência! Dias volvidos, o senhor Sapo aparece em casa da senhora Maria, para mulher também a queria. - Tu, Sapo, é que me vens pretender? Não sabes que aceitei o senhor Elefante, o teu superior? Então tu, assim tão insignificante, nem sequer lhe tens respeito? - Amesquinhou-se a senhora Maria. Desdenhosamente, o senhor Sapo retorquiu-lhe: - Respeito?! Ele é o meu cavalo!... Monto-o quando me apetece!...- E gargalhou zombeteiramente. Como as mulheres não guardam segredo, a senhora Maria contou ao senhor Elefante a prosápia do senhor Sapo. Furioso, o senhor Elefante saiu à cata do senhor Sapo. Encontrou-o numa lagoa, gostosamente cantando sua cantiga. - Xe, salta cá para fora, preciso de falar contigo! Depressa! - Intimou-o o senhor Elefante. O senhor Sapo não se amedrontou. - Fale com calma, tio! Então que coisa, é essa de berrar comigo em minha casa?- Volveu-lhe o senhor Sapo, vagarosamente saindo da água. - Vem comigo, vais repetir à senhora Maria o que lhe disseste a meu respeito! Puseram-se a caminho. O senhor Sapo, dificilmente acompanhando as passadas do senhor Elefante, propõe-lhe: - Como vês, tio, ando devagar. Para chegarmos depressa, deixa-me agarrar-me ao teu rabo. O senhor Elefante assentiu. E o senhor Sapo lá se segurou à cauda do companheiro. A certa distância, queixou-se: - Tio, estou a escorregar, sou capaz de cair. Deixa-me subir um pouco mais acima!... O senhor Elefante anuiu de novo. E o senhor Sapo avançou até ao lombo. - Pára um pouco, tio, está um galho a bater-me na vista, - pediu mais adiante, num sitio coberto de árvores. O senhor Elefante fez-lhe a vontade. E o senhor Sapo cortou uma haste. Quando a senhora Maria os viu - o senhor Sapo, de vergasta na mão, montado sobre o senhor Elefante – desgostosamente excalamou: Agora acredito no que o senhor Sapo me disse! Tu, afinal, senhor Elefante, és mesmo o cavalo dele! Já não te quero ! E o senhor Sapo ficou sendo o marido da senhora Maria.
Velho Mene-Malakaze
Era uma vez, um velho chamado Mene-Malakaze e sua esposa Khengue tinha uma filha chamada Manzalele. Ela era muito bonita e a partir dos seus desasseis anos anos, começou a criar confusão entre os mocos da sua aldeia e das aldeias vizinhas. Tinha muitos pretendentes, mas como o velho Malakaze, seu pai, lhe havia ordenado para não aceitar qualquer proposta de casamento, sem que tivesse completado vinte anos de idade, não passava bola a ninguém. No vigésimo aniversário natalício da Manzalele, Mene-Malakaze chamou Khengue, sua esposa, e perguntou-lhe: - Tu tens ouvido as lutas que tem havido entre os moços desta causa da nossa filha? . . - Sim, meu marido - respondeu a esposa. - Isto quer dizer que a nossa filha é a mais linda, de todas as garotas desta área... A Senhora Khengue ficou alguns instantes sem dizer um nem dois e, de repente, perguntou: - Velho Malakaze! Que tipo de negocio tencionas fazer com a nossa filha? - Negocio, não! - respondeu o velho. Sabes como o rio onde buscamos água fica muito longe daqui, vamos exigir água permanente ao nosso futuro genro. Pôr água aquié a condição indispensável para quem quiser ser marido da nossa filha. . Depois de alguns minutos de silencio, o velho precisou: - Ao moço que quiser ser marido da minha filha vou pedir para trazer-me aqui uma porção do rio para nunca mais andarmos os vinte quilómetros à procura de água. - A velhice está a estrambelhar-te o miolo. Achas que ha alguém que possa, fazer isso? - interrogou-lhe a esposa, um tanto nervosa. - Bom, para ti tudo é impossível, mas para os espertos, não. Se a nossa filha tiver sorte e, com a sua beleza, certamente vai encontrar um moço esperto que vai fazer tudo por pôr-nos água aqui -respondeu o velho. Assim, a todos os moços que foram pretender Manzelele, o velho exigia, insistentemente, a porção do rio. Mas por essa uma ser uma exigência impossível, quase todos acabavam por desistir da pretensão sua de casar com a moça. Finalmente apareceu um moço que disse chamar-se Kudimuka (esperteza) a quem o velho fez a mesma exigência. Por sua vez, Kudimika pediu ao velho para que colocasse à sua disposição uma enxada, pá e picareta e também um moço para lhe mostrar o rio. O velho, todo satisfeito, preparou o material e o moço que serviria de guia do futuro genro. Por volta das dezoito horas, Kudimuka enviou o moço ao futuro sogro, com o seguinte recado: "Vais ao velho e diz-lhe que já cortei o pedaço do rio e que ele prepare uma rodilha feita defumo para eu poder pôr a porção do rio no cabeça". Quando o velho recebeu o recado, ficou surpreendido e disse consigo mesmo: "Esse Kudimuka e mesmo esperto. A minha, exigência foi muito absurda". Depois virou para o portador do recado e ordenou-lhe: "Vai imediatamente, ao rio e diga ao Kudimuka para vir". Logo que Kudimuka chegou, o velho pôs-se de pé e abraçou-o efusivamente. Em seguida, disse-lhe: "A partir de hoje, Manzelele, minha filha, é tua esposa. Não precisas dar-me mais nada, porque eu apenas estava à procura de um rapaz esperto que fosse marido da minha filha".
10/07/2013 http://www.fgamorim.blogspot.pt/ gte mso 9]> |