Iclas - Instituto de Culturas Lusófonas
Antonio Borges Sampaio


28-08-2013

Contos tradicionais africanos Francisco Amorim


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São muitos os contos tradicionais africanos, donde sempre se pode tirar uma lição. Muitas das vezes a principal lição é a da esperteza! O sujeito mais vivo é quem leva a melhor.

O primeiro conto é do livro Quilandoquilo do grande escritor Angolano Óscar Ribas, uma das maiores figuras de Angola de todos os tempos.

O segundo foi encontrado em Janeiro de 2000 na Internet e não indica o nome do autor.

A senhora Maria era exigente na aceitação do homem que a desposaria. Diversos pretendentes se lhe declararam, mas nenhum logrou sua simpatia. Para a senhora Maria, todos eram desprezí­veis, sem envergadura física. Em sua ambição, só um a interessava: - o senhor Elefante. Esse, sim, esse é que lhe convinha. Grande, imponente, ninguém ousaria desrespeitá-lo.

Vivia a senhora Maria nessa ansiedade, quando o senhor Elefante se lhe apresenta por sua vez. Cheia de satisfação, respon­deu-lhe :

- Sim, aceito-te para marido, só tu me agradas pela tua corpulência!

Dias volvidos, o senhor Sapo aparece em casa da senhora Maria, para mulher também a queria.        

- Tu, Sapo, é que me vens pretender? Não sabes que aceitei o senhor Elefante, o teu superior? Então tu, assim tão insignifi­cante, nem sequer lhe tens respeito? - Amesquinhou-se a senhora Maria.

Desdenhosamente, o senhor Sapo retorquiu-lhe:

- Respeito?! Ele é o meu cavalo!... Monto-o quando me apetece!...- E gargalhou zombeteiramente.

Como as mulheres não guardam segredo, a senhora Maria contou ao senhor Elefante a prosápia do senhor Sapo. Furioso, o senhor Elefante saiu à cata do senhor Sapo. Encontrou-o numa lagoa, gostosamente cantando sua cantiga.

- Xe, salta cá para fora, preciso de falar contigo! Depressa! - Intimou-o o senhor Elefante.

O senhor Sapo não se amedrontou.

- Fale com calma, tio! Então que coisa, é essa de berrar comigo em minha casa?- Volveu-lhe o senhor Sapo, vagarosa­mente saindo da água.

- Vem comigo, vais repetir à senhora Maria o que lhe disseste a meu respeito!

Puseram-se a caminho. O senhor Sapo, dificilmente acompa­nhando as passadas do senhor Elefante, propõe-lhe:

- Como vês, tio, ando devagar. Para chegarmos depressa, deixa-me agarrar-me ao teu rabo.

O senhor Elefante assentiu. E o senhor Sapo lá se segurou à cauda do companheiro.

A certa distância, queixou-se:

- Tio, estou a escorregar, sou capaz de cair. Deixa-me subir um pouco mais acima!...

O senhor Elefante anuiu de novo. E o senhor Sapo avançou até ao lombo.

- Pára um pouco, tio, está um galho a bater-me na vista, - pediu mais adiante, num sitio coberto de árvores.

O senhor Elefante fez-lhe a vontade. E o senhor Sapo cortou uma haste.

Quando a senhora Maria os viu - o senhor Sapo, de vergasta na mão, montado sobre o senhor Elefante – desgostosamente excalamou:

Agora acredito no que o senhor Sapo me disse! Tu, afinal, senhor Elefante, és mesmo o cavalo dele! Já não te quero !

E o senhor Sapo ficou sendo o marido da senhora Maria.

 

Velho Mene-Malakaze

 

Era uma vez, um velho chamado Mene-Malakaze e sua esposa Khengue tinha uma filha chamada Manzalele. Ela era muito bonita e a partir dos seus desasseis anos anos, começou a criar confusão entre os mocos da sua aldeia e das aldeias vizinhas. Tinha muitos pretendentes, mas como o velho Malakaze, seu pai, lhe havia ordenado para não aceitar qualquer proposta de casamento, sem que tivesse completado vinte anos de idade, não passava bola a ninguém.

No vigésimo aniversário natalício da  Manzalele, Mene-Malakaze chamou Khengue, sua esposa, e perguntou-lhe:

- Tu tens ouvido as lutas que tem havido entre os moços desta causa da nossa filha? . .

- Sim, meu marido - respondeu a esposa.

- Isto quer dizer que a nossa filha é a mais linda, de todas as garotas desta área...

A Senhora Khengue ficou alguns instantes sem dizer um nem dois e, de repente, perguntou:      

- Velho Malakaze! Que tipo de negocio tencionas fazer com a nossa filha?

- Negocio, não! - respondeu o velho. Sabes como o rio onde buscamos água fica muito longe daqui, vamos exigir água permanente ao nosso futuro genro. Pôr água aquié a condição indispensável para quem quiser ser marido da nossa filha.                      .

Depois de alguns minutos de silencio, o velho precisou:

- Ao moço que quiser ser marido da minha filha vou pedir para trazer-me aqui uma porção do rio para nunca mais andarmos os vinte quilómetros à procura de água.

- A velhice está a estrambelhar-te o miolo. Achas que ha alguém que possa, fazer isso? - interrogou-lhe a esposa, um tanto nervosa.

- Bom, para ti tudo é impossível, mas para os espertos, não. Se a nossa filha tiver sorte e, com a sua beleza, certamente vai encontrar um moço esperto que vai fazer tudo por pôr-nos água    aqui  -respondeu o velho.

Assim, a todos os moços que foram pretender Manzelele, o velho exigia, insistentemente, a porção do rio. Mas por essa uma ser uma exigência impossível, quase todos acabavam por desistir da pretensão sua de casar com a moça.

Finalmente apareceu um moço que disse chamar-se Kudimuka (esperteza) a quem o velho fez a mesma exigência. Por sua vez, Kudimika pediu ao velho para que colocasse à sua disposição uma enxada, pá e picareta e também um moço para lhe mostrar o rio.

O velho, todo satisfeito, preparou o material e o moço que serviria de guia do futuro genro.

Por volta das dezoito horas, Kudimuka enviou o moço ao futuro sogro, com o seguinte recado: "Vais ao velho e diz-lhe que já cortei o pedaço do rio e que ele prepare uma rodilha feita defumo para eu poder pôr a porção do rio no cabeça".

Quando o velho recebeu o recado, ficou surpreendido e disse consigo mesmo: "Esse Kudimuka e mesmo esperto. A minha, exigência foi muito absurda".

Depois virou para o portador do recado e ordenou-lhe: "Vai imediatamente, ao rio e diga ao Kudimuka para vir".

Logo que Kudimuka chegou, o velho pôs-se de pé e abraçou-o efusivamente. Em seguida, disse-lhe: "A partir de hoje, Manzelele, minha filha, é tua esposa. Não precisas dar-me mais nada, porque eu apenas estava à procura de um rapaz esperto que fosse marido da minha filha".

 

10/07/2013

http://www.fgamorim.blogspot.pt/

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