Iclas - Instituto de Culturas Lusófonas
Antonio Borges Sampaio


03-03-2005

Embaixada Galega da Cultura-Renovação- Núm 14


RENOVAÇÃO

 

Núm.14 Dezembro, Janeiro e Fevereiro de 02-03

Boletim cultural e informativo da Embaixada Galega da Cultura

 

 

 

Redação

: apartado dos correios, 24034-28080 Madrid.

monchodefidalgo@terra.es

suzanacouceiro@hotmail.com

Conselho: Moncho de Fidalgo, Tomé Martins, Suzana Couceiro, R. Queixomariu Fidalgo, Roi da Bolandeira, J.L. Galego, J. Luís A. Fernando do Savinhão. Ricardo A. Windor.

Nem Renovação nem as pessoa que compõem a

Embaixada Galega da Cultura se responsabilizam das opiniões individuais assinadas ou de grupos identificados cujas

idéias possam ser referenciadas ou comentadas

sem qualquer cumplicidade.

Nota do Conselho.

*Bandeira autonomista da GALIZA.

Noutros números de Renovação temos amostrado a bandeira dos patriotas galegos que é a que leva uma estrela vermelha no centro, também o brasão. Esta informação e outras vão dirigidas aos leitores lusófonos não galegos.

 

 

Conteúdos deste número:

Televisão portuguesa para a Galiza. Relato breve. Especial Olivença. "Prestige", uma praga. Falo português da Galiza. Poucas palavras sobre Euclides da Cunha.

Campanha já está em curso

Galiza quer ver televisão portuguesa 2002-09-17 12:15:57

Galiza - A organização reintegracionista Assembléia da Língua está a promover uma campanha para ter acesso à televisão portuguesa a partir da Galiza, chamando a atenção para as vantagens que as transmissões poderão trazer e enfatizando a «cidadania comum européia». A solicitação vai mesmo seguir para o Governo português e para a Xunta de

Galicia.

(c) PNN - agencianoticias.com

"Jornal Digital"


A campanha da Assembléia da Língua pretende conseguir a instalação de retransmissores para permitir receber na Galiza os dois canais públicos portugueses (RTP1 e RTP2), a SIC e a TVI. A organização reintegracionista defende que receber as emissões das televisões lusas facilitaria o conhecimento da língua portuguesa, «a segunda língua românica em número de utentes», sublinham no texto de apresentação da campanha.

Xico Paradelo, membro da Assembléia da Língua, em declarações ao «Canal Lusofonia», referiu que «o que acontece em Portugal é importante para empresários, médicos ou titulados em português, mais do que acontece em Canárias, Málaga ou Lazarote». Para o responsável, a possibilidade de ver canais portugueses poderá contribuir para a «normalização da língua galega».

Para a Assembléia da Língua, as dificuldades técnicas para a recepção dos canais televisivos de Portugal nas casas da Galiza podem ser solucionadas, tendo em conta a tecnologia atual, «mas é preciso que os respectivos governos tenham a suficiente sensibilidade e vontade política», salienta.

Em termos legais, tendo em conta a legislação estatal e, em especial, a comunitária européia, existe atualmente possibilidade de solicitar a recepção da televisão portuguesa na Galiza. A União Européia (UE) fomenta a «livre prestação de serviços de mercadorias», na qual se inclui o serviço da recepção de televisão.

http://www.jornaldigital.com/index.php

Ao Daniel de Ferreiro, meu amigo…

 

 

- Deus, que é aquilo?

Era um homem montado num aparelho estranho... Tinha umas rodas traseiras enormes, para nós eram gigantescas. Nossas apreciações dimensionais ficavam ultrapassadas.

- Bota fume!

O Daniel exclamou indicando com o dedo "fura-bolos"... Os dedos tinham seu nome, o senhor Antônio de Ferreirinho ensinara-nos a denominá-los "cientificamente": pequenino, medianinho, pai de todos, fura bolos e mata piolhos!

O senhor Antônio de Ferreirinho era um grande tipo, certamente seu filho retrocedera na escala humana com respeito a seu pai. Foi um grande amigo dos miúdos de Vila velha.

A chuva apertava, a névoa mais espessa fora-se lá detrás do Cotarelo, quiçá naquela altura da manhã estaria chegando a Sárria.

- Em Sárria sempre há névoa, não se pode madrugar para ir à feira!

Dizia o senhor Antônio.

E o homem montado no estranho aparelho seguia seu caminho, ruidoso e monótono. As rodas gigantescas iam abaulando naquele caminho estreito e ziguezagueante. Alguns homens seguiam à máquina também admirados do fato de que "sessenta cavalos" mecânicos foram tão ruidosos!

Aquele é que foi o nosso primeiro encontro com os tratores, com efeito, uma novidade. E após aquela fugida de Vila Velha havia que regressar! Lembras, Daniel? Eram tempos nos que os pais que tinham a possibilidade, além de lhes dar aos filhos chouriços, ovos, manteiga... também lhes davam vinho com açúcar, afirmavam ser ele bom para a "anemia"! E tu bem dele que engolis-te, mas não lho tomes a mal, eles faziam-no com boa fé. Mas tu ficas-te bêbedo para a vida, além desse mal que te atacava sem piedade... Agora é que aproveito para que desde arriba me escuses o meu pânico àquele mal estranho que che fazia tremer daquele jeito, que medo passava!

E havia que regressar a Vila velha, o homem da máquina lá ia caminho da Matança e nós éramos tão miúdos que nossos pais andariam na nossa procura. Como naquela outra vez que lá nos marcháramos seguindo a linha de alta tensão que havia chegar à França... Asseguram que umas vezes é para trazer e outras para levar energia elétrica. E assim é que deve ser! Lembras-te?

- Em chegando àquela montanha vê-se a França! - alguém de nós comentara.- Boa asneira.

A um e a outro lado do caminho havia árvores que soltavam água com as suas canas penduradas como se fossem guarda-chuvas. Giestas gigantes em giesteiras escuras lembrava-nos a incerteza, o medo, o lobo ou quem sabe! Já ficava longe o rugir do trator, o monótono rugido daquela primeira máquina que nós tínhamos descoberto apenas se ouvia. Eu já não lembro bem como terminara aquela nossa aventura da perseguição do trator? Porém se tu recordas conta-lho a meu pai e desculpa-te em meu nome.

Há macacos onde tu estás? E porquê aquele nosso medo aos macacos?

A cozinha dos pais do Daniel achava-se naquela altura à esquerda uma vez que se tinha traspassado a porta de entrada do prédio. Um recinto amplo precedia à porta da cozinha, desse mesmo passadiço partia a escada para o andar superior assim como uma porta que conduzia para as cortes... A cozinha era típica, chamavam-se "econômicas", ignoro o porquê? Havia uma janela que dava para o horto.

E ali estávamos, Daniel, os dous sozinhos e de súbito descobrimos que tínhamos medo, ou melhor dito, eu ia-me para minha casa mas tu para não ficares só inventas-te aquilo dos macacos:

- Não te vás, aí fora há macacos e podem-te comer!

O pânico invadiu-me e fiquei em silêncio, lembro que estávamos pintando com uma caneta nos azulejos brancos da própria cozinha, os que faziam de mesa. Mas tu deveste contagiar-te do meu medo que exclamas-te então:

- Mas como andam sempre com a boca aberta, metemo-lhes um tição ardendo se entram na cozinha.

Grande tipo aquele, mas também muito maluco o Daniel, segundo era ele de bom assim era de tolo, mas não merecia o final que o destino traidor lhe tinha assinado...Não é que acredite muito nisso do "destino" mas se o há, com o Daniel "passou-se" da raia!

Era um dia cinzento, quiçá de outono ou quem sabe, é possível que de primavera, a "senhorita" andava nervosa, algo se passava pela sua cabeça que o ar estava carregado de partículas elétricas! A "senhorita", assim nos obrigava a que a chamáramos, era a mestra da escola, em paz esteja, afortunadamente para os miúdos daquelas terras!

- Demo de bicha, malhou nele como se fosse um cão ao que arrebatar uma peça de caça! - assim é que falou o Daniel.

Ele foi o meu melhor defensor, minha melhor testemunha para demonstrar que era inocente...Que não faria o rapaz para que a "senhorita" malhara nele até que o sangue lhe chegara aos pés? Mas eu nada fizera ainda que possa resultar impossível de crer... Aquelas mestras ao serviço da causa franquista e também, não esqueçamos, ao serviço da causa castelhanista mais radical e absolutista... Por falares em galego o mesmo che rompiam um dedo da mão que che abriam a cabeça como fizera a "senhorita" comigo...Eu apenas tinha onze anos e Daniel estava ali também para comprovar a crueldade dos servidores do ministério da educação espanhol. Mas eis o triste, a atitude dos inocentes "súbditos"; submissa e até considerando-se eles próprios os culpáveis... O que faltava.

Se a vês lá, Daniel, dá-lhe recados da minha parte! Diz-lhe que afinal a verdade sempre chega, ainda que seja tarde, mas chega... Triste consolo, pois a verdade também chegou para as tribos índias da América, mas avondo tarde. Que digo, como vás tu estar no mesmo lugar, ela não era boa, se realmente Deus é justo não a terá enviado ao mesmo lugar que a ti, tu és bom, melhor, eras. Mas quem sabe, já vês que pelas alturas políticas há muita corrupção e ao melhor Franco tem aí montado um grupo de pressão, vai tu saber!!

Faço-me a pergunta de se Deus será "castelhano" porque na Galiza seus "ministros" sempre exercem como se Deus ignorara que os galegos também somos da "bezerra"... Não sei o que significa essa expressão mas meu pai sempre a usava:

- Nós também somos de "Deus como a bezerra"!!

E meu pai era homem de muito mundo, sabe-lo... Um dia disse:

- Jorginho, agora que te vás do ninho como um pássaro, a esvoaçar polo mundo, cumpre-me avisar-te dos problemas que podes vir a ter se te não comportas, meu filhinho. Sempre pacífico, sempre educado. Arreda-te da farfalha. Desconfia do muito requintado sem fundamento, - ainda o estou escutando, com aqueles olhos sempre vivazes e a espreitar.- Assim como a Terra gira à volta do Sol, a verdade sempre chega a seu destino.

Lembras-te, Daniel? Os macacos andam com a boca aberta e não há problema! Metemo-lhes um tição ardendo... Daniel era o meu colega de jogos infantis, seus brinquedos eram meus brinquedos. Quantas desventuras, meu amigo. Lembras-te? Quantos quilômetros andamos aquela vez seguindo as rodeiras estranhas numa manhãzinha fria e molhada, possivelmente num mês do inverno, mas daqueles invernos de tamancos e sobretudo de linho. Aqueles sim eram invernos frios! E lá nos fomos pelo caminho da Poça até chegarmos ao Agro e as rodeiras daquela máquina infernal seguiam o caminho ocupando-o e até ultrapassando-o, como um corpo voluptuoso que não entra no trajo... O cheiro da combustão inundava o espaço e gostávamos dele! E passamos o Agro e entramos no monte desde o que se olham vários povos da outra banda do vale... Cousinho, Abeledo... E de súbito num recanto da corga que já entrava nos limites do Cousinho nossos olhos quase que ficam sem pálpebras...

Moncho de Fidalgo

http://bvg.udc.es/ficha_autor.jsp?id=JosRodri&alias=José+Ramom+Rodrigues+F

Do chefe de imprensa do DESPORTIVO DA CORUNHA (Deportivo de La Coruña) recebemos este correio em resposta a uma comunicação nossa onde nos amostrava-mos indignados pela política castelhanista desta equipa galega. A mensagem está redigida em "galego" macarrónico ou castrapo, nome com que se conhece na Galiza à língua portuguesa ou galego-portuguesa escrita com ortografia castelhana e cheia de castelhanismos:

De: Rafel Carpacho <

Estimados amigos:

Ademais de xefe de prensa, son un acérrimo defensor da nosa cultura galega, como o proba a miña extensa biblioteca en galego. Seguide loitando. Moito ánimo.

Rafa Carpacho-Xefe de Prensa.

rafael.carpacho@canaldeportivo.com>
Para:
monchodefidalgo@terra.es <monchodefidalgo@terra.es>
Fecha: lunes, 21 de octubre de 2002 19:22
Asunto: R.C. DEPORTIVO

 

ESPECIAL OLIVENÇA

De seguido publicamos uma série de trabalhos que tratam da Olivença, essa porção de terra que a Espanha ocupou a Portugal.

"…Quando eu estudava nos Salesianos de Atocha em Madride, havia um rapaz (Pacheco se apelidava se me não lembro mal?), com quem eu falava na língua da Galiza… Então ignorava o porquê ele sabia falar "galego" agora sei que é porque ele nascera na Olivença…"

Moncho de Fidalgo.

Olivença, Nobre, Leal e Notável terra portuguesa

(Vice-Presidente do Grupo dos Amigos de Olivença)

Bibliografia:<O:P</O:P Olivença, Matos Sequeira e Rocha Júnior;<O:P</O:P Compilação para o Estudo da Questão de Olivença, Embaixador L. Teixeira de Sampayo;<O:P</O:P Olivença, Reflexões sobre Usurpação e Aculturação, Carlos Consiglieri;<O:P</O:P Nos Caminhos de Olivença, Carlos Luna;<O:P</O:P A Ponte da Ajuda, Estudo Arqueológico, Manuel Cid.

 

<O:P</O:P 20 de Maio de 1801: O exército espanhol, comandado pelo favorito da rainha, Manuel Godoy, assedia e toma a Praça de Olivença. Na circunstância, o reino vizinho, aliado à França napoleónica e apoiado por esta, invade e ocupa grande parte do Alto-Alentejo. Portugal, em situação dramática, é compelido a subscrever, em 6 de Junho, o Tratado de Badajoz que, «em qualidade de conquista», atribui a Espanha «a Praça de Olivença, seu território e povos desde o Guadiana». Pelo Manifesto de 1 de Maio de 1808, Portugal declara nulo aquele Tratado, o que também é decidido no Tratado de Paris de 30 de Maio de 1814. Finalmente, reunindo-se as Potências beligerantes, entre elas Espanha e Portugal, no Congresso de Viena de 1815, reconhece-se absolutamente a justiça das reclamações portuguesas sobre Olivença. Conforme se fixou no art.º 105.º do Tratado de Viena, foi entendido impor-se «a restituição da mesma» e todos os signatários se comprometeram aos «esforços mais eficazes» para que a sua retrocessão se efective «o mais brevemente possível».! Vão passados dois séculos... Frequentemente, mesmo aqueles que conhecem a nossa História, sublinham as nossas realizações e se interessam pela geo-política peninsular, esquecem a existência desta terra tão genuinamente portuguesa que, por tão infelizes e indignas vicissitudes, se encontra actualmente sob a administração espanhola. Povoação das mais importantes do reino até á sua usurpação (ombreava com Elvas e conjuntamente com esta fazia frente a Badajoz), coube-lhe sempre papel de destaque, designadamente durante os Descobrimentos e na Restauração. Dela era originária o pai de Vasco da Gama; famílias portuguesas de melhor nome tinham ali origem e morada; foi sede do bispado de Ceuta e dali saiu o seu prelado, D. Frei Henrique de Coimbra que, acompanhando Cabral na descoberta do Brasil, em 26 de Abril de 1500 oficiaria a primeira missa em terras de Vera Cruz. Ali nasceu o grande compositor renascentista Vicente Lusitano. Não admira, por isso, que a perspectiva da velha vila seja tão pronunciadamente portuguesa, com aquela fisionomia lavada de qualquer burgo alentejano: a alvenaria, a cal, a cantaria, as imponentes chaminés dominando no aprumo das paredes brancas. Publicitando a castiça nobreza de Olivença, entre o casario e em qualquer praça, rua ou viela, evidenciam-se casas apalaçadas: a dos Duques do Cadaval (hoje sede do Ayuntamiento) com magnífico portal manuelino, a dos Marçais, a dos Sousas e outras; em muitas brilham brasões que exibem egrégias raízes portuguesas. Estratégico nesta terra de afrontamento com Espanha, o antigo e pombalino Quartel de Cavalaria, dos Dragões de Olivença, com instalações para 400 montadas e cavaleiros. E, continuando com as construções militares, eis o Castelo dionisino, coroado pela Torre de Menagem mandada levantar por D. João II e na qual, com atrevimento arquitectónico, 17 rampas interiores permitem que canhões sejam puxados por cavalos até ao cimo dos seus 37 metros; depois, os baluartes seiscentistas cingindo toda a vila, com a magnífica Porta do Calvário. Por aqui e por ali, inúmeros escudos portugueses, muitos deles picados barbaramente, falam-nos na sua mudez. Tudo nos ressoa como um grito da memória portuguesa sequestrada... Num brilhante manuelino, rivalizando com as melhores realizações neste estilo, aparece-nos a igreja da Madalena, antiga Sé da Diocese de Ceuta; tal como a igreja de Santa Maria do Castelo, matriz da vila, em estilo renascentista tardio e enriquecida com grande contribuição barroca. Mais adiante, a Santa Casa da Misericórdia, fundada logo em 1501, com a sua igreja forrada a azulejos datados de 1723 e de riquíssima talha, instituição que durante os dois séculos de espanholização foi esteio da cultura e dos valores portugueses. Sobre o Guadiana, comunicando Olivença com Elvas, a ponte manuelina de Nossa Senhora da Ajuda, monumental e robusta nos seus 450 metros de extensão e 4,20 metros de largura, ligou as duas margens desde 1509 até 1709, quando, no decorrer da Guerra da Sucessão de Espanha, a tropa borbónica fez explodir os seis arcos centrais. Em alvenaria argamassada, com silharia nas aduelas, abóbadas e talha-mares, é um belo trabalho de engenharia civil que se mostra nos 13 arcos que desde então se mantêm de pé. Trezentos metros a jusante, levanta-se agora, elegantemente, uma nova ponte em betão, construída por Portugal e inaugurada em 2000, restabelecendo o contacto físico e directo de Olivença com o território nacional. Por todo o termo oliventino, nas aldeias de Vila Real, S. Domingos, S. Bento da Contenda (palavra premonitória...), S. Jorge de Alor e Táliga, tão iguais a Juromenha, Terena ou Alandroal, ouve-se falar português com a mesma entoação da banda de cá do grande rio do sul. Sem esforço, percebe-se o espírito português sustentando uma identidade tão distinta da de Espanha... No silêncio ensurdecedor das gentes e dos velhos brasões, das casas e dos montes, das ruas e dos caminhos de Olivença, ressoa o grito pungente e mudo de uma terra refém, de uma terra por resgatar... Lx., 09-12-2002. António João Teixeira Marques

Olivença: Padrão da consciência portugalaica

Olivença - uma parcela inalienável do Alentejo - permanece cativa nas mãos
expansionistas e imperialistas de Madrid, em violação dos mais elementares
princípios do Direito Internacional Público e da convivência entre os
Estados, lançando sobre Castela o opróbrio das contradições insanáveis
quando reivindica Gibraltar e submetendo todos os portugalaicos a uma
aviltante subjugação.
É o Mundo Portugalaico que se humilha com a continuidade desta ocupação. É
a Lusofonia que se vilipendia com esta ilegalidade. É a Portugaliza que jaz
amputada enquanto perdurar este esbulho.
Com razão se tem definido a Galiza como "uma Grande Olivença". Une-as a
trágica semelhança de uma ocupação estrangeira, a intolerável colonização
imposta por Castela, a miserável perseguição à língua portugalaica. Mas
também a resistência heróica contra o impiedoso ocupante, o esforço ingente
pela defesa da sua identidade, o anseio inquebrantável de alcançarem a
liberdade, o projecto irreversível de ambas se reunirem à Portugaliza.
A mesma luta que une os homens e mulheres das duas margens do rio Minho na
libertação inexorável de toda a faixa ocidental da Península Ibérica
congrega-os no combate por ver reunida à Mãe-Pátria galaico-portuguesa o
Território de Olivença, junta-os na pugna da dignidade dos povos contra a
subjugação exterior, associa-os na peleja pela vitória do Direito sobre o
poder da força.
O sangue comum impõe-nos a irmanação neste projecto. A consciência de
formarmos a mesma Nação sistematicamente atacada e perseguida pelos
poderosos de Castela exige-nos que partilhemos este desiderato libertador.
Olivença, uma nesga terra alentejana, é parte irredenta da Portugaliza.
Todos não seremos demais na recuperação de Olivença: a reparação da nossa
inte-gridade, a restauração da nossa dignidade!
Mário Rodrigues
http://www.olivenca.online.pt

PRESTIGE,UMA PRAGA

(Tirado do jornal português "Público")

"

Viva Portugal"
Por DANIEL DEUSDADO
Terça-feira, 26 de Novembro de 2002

(Público,
http://www.publico.pt )

Doze dias depois do "Prestige" ter iniciado o derrame, ter vagueado sem
rumo, se ter afundado e ter descarregado já mais de 10 mil toneladas de
"fuel" na costa galega, o primeiro-ministro espanhol, José Maria Aznar,
ainda não foi lá ver

Há um local do mundo onde Portugal é um país profundamente amado e
respeitado. Não, obviamente não é dentro de fronteiras. É na Galiza. Na
Corunha é possível ver-se pintado nas paredes frases tão surpreendentes
como "Viva Portugal".

Frases como estas parecem não passar de "fait-divers" de grupos
nacionalistas até nos confrontarmos com a realidade. Com o pesadelo. Um
pesadelo de esquecimento que, como escrevia Torrente Ballester no seu "El
Rey Pasmado" quinhentista, tornava a Galiza na terra do nevoeiro, das
bruxas e das mulheres de má fama.

Quinhentos anos depois, o comportamento do Governo de Madrid face à Galiza
parece inacreditável, mesmo para nós, portugueses, já vacinados para um
certo autismo centralista. Doze dias depois do "Prestige" ter iniciado o
derrame, ter vagueado sem rumo, de se ter afundado e libertado mais de 10
mil toneladas de "fuel" na costa galega, o primeiro-ministro espanhol, José
Maria Aznar, ainda não foi lá ver. Não foi dizer às suas gentes galegas,
que andam a recolher "fuel" com as mãos, que se trata de uma tragédia,
dando uma palavra de apoio. Pior: o seu número dois no Governo, depois de
400 quilómetros manchados, nega existir uma maré negra.

Que não haja equívocos: quando isso sucede na principal costa pesqueira de
Espanha e junto ao principal porto de pesca da Europa - Vigo -, o desprezo
e inércia de Madrid correm o risco de ser lidos como uma afronta.

Infelizmente, o escândalo não se fica por aqui. Só ontem o ministro das
Pescas espanhol se deslocou ao local. Mais: alguns jornais espanhóis (e os
seus "sites" na Internet) continuam a publicar em permanência os dados do
Instituto Hidrográfico português, por não confiarem numa espécie de censura
estratégica (ou pura incompetência?) das instituições científicas de
Madrid.

Além destes factos, falta ver o que fazem os tribunais espanhóis ao capitão
do "Prestige"; afinal, bem vistas as coisas, o homem que tentou evitar a
todo o custo um derrame total - caso tivesse sido tomada a decisão difícil
mas necessária de sujar uma baía, retirar o "fuel" e evitar a tragédia que
acabou por acontecer nestas dimensões.

Os galegos só não se podem queixar mais porque, por detrás de toda esta
embrulhada, e numa notável falta de liderança, esteve o seu presidente
autonómico, Fraga Iribarne, que não influenciou as decisões essenciais e
mostrou o que é o desgaste de 13 anos de poder.

"Pedimos desculpa a Portugal pela merd... que lhe íamos mandar. Mas não foi
o povo galego, foram os nossos políticos. Por isso pedimos desculpa". A
frase de um galego à reportagem da RTP, no domingo passado, diz tudo. É
preciso dizermos também que sentimos a tragédia da Galiza como se fosse a
da nossa terra.

LONDRES, OS GALEGOS REAGEM

Ontem, domingo 15 de dezembro, teve lugar uma manifestação de protesta
diante da Organização Marítima Internacional, pelas incompetências diversas
que permitiram a catástrofe do Prestige por parte do governo espanhol, da
Junta da Galiza e dos organismos internacionais. Em total seriam umas 60 e
tal pessoas, galegas salvo alguns ingleses, uma estudante alemã e mais uma
senhora que em certo momento se uniu ao ato sem falar com ninguém, envolta
numa bandeira espanhola: as demais bandeiras eram galegas, umas com estrela,
outras sem ela; também havia cartazes, faixas, etc., alusivas à catástrofe.
Repartiu-se uma proclama da plataforma Nunca Mais, em galego e em inglês,
ademais doutra exclusivamente em inglês, dirigida ao Secretário-Geral da OMI
(na que também se mencionava Portugal): as duas foram entregues
posteriormente aos guardiães do prédio (únicas pessoas que estavam ali no
domingo), quem prometeram encaminhá-las ao seu destinatário.

Foram convocados diversos meios informativos (a BBC, a TVE, etc.), ademais
de Greenpeace, mas só assitiram El País e EFE. O tempo estava malíssimo:
grisalho, com chuva, vento, justo à beira da Tamisa. Apesar disso, o
ambiente era algo festeiro, co Grupo de Gaitas do Centro Galego a amenizar a
juntança. Houve duas alocuções, uma em galego e outra em inglês; cantou-se
o hino galego: uma pessoa perguntou quem eram esses "imbecis e escuros" da
letra, e outra disse-lhe que eram "os que votam no PP". Berrou-se: "o do
bigote, que limpe o chapapote". Repartiram-se autocolantes que diziam
"Prestige Petroleum", salientando as letras PP.

Havia bastante gente nova, estudantes, profissionais, mulheres e homens por
um igual, além de veteranos da emigração e/ou do exílio. Nas conversas
contavam-se as derradeiras notícias dos familiares afetados, com raiva por
não lhe ser concedida à Galiza o reconhecimento de zona danificada, e um tom
geral de impotência hoje como de país colonizado, mas sem excluir amanhã a
revisão do estatuto de dependência do Estado Espanhol.

Carlos (Londres)

 

To the Secretary-General of the International Maritime Organization

We don’t see safer shipping and cleaner oceans on the coasts of Galiza and Portugal!

Instead we see that the Oil Pollution Conventions are not applied effectively, rogue ships are still allowed to sail and IMO Member States turn a blind eye to flags of convenience.

Yet again we witness an "incident" like the Prestige oil spill, which will ruin thousands of households who depend on the sea for their livelihood, to say nothing of the repercussions on the rest of the local economy and the impact on the marine environment.

How long do we still have to listen to pious words and good intentions when we know full well that there are many more of these so-called "incidents" waiting to happen and nothing really effective seems to be done in order to ban old single-hulled tankers?

Are the fishermen, shellfish gatherers and harvesters of Galiza being taken for a ride once again? How many more disasters like the Aegean Sea, the Erika, etc. etc., and now the Prestige, perhaps the worst of them all, before real action is taken to stop this kind of international economic terrorism?

Do the concepts of maritime safety, marine environment protection, or oil pollution preparedness, response and co-operation mean nothing to global interests after all?

In the name of decency: until when?

NUNCA MAIS: NEVER AGAIN!

Publicamos este artigo em catalão do jornal "Balears".

Balears, 17 /12/2002
Vessament
Aznar admet que l'ordre d'allunyar el «Prestige» de la costa la donà
ell en persona
Zapatero ofereix al Govern un Pacte d'Estat per aconseguir ajuts de
la UE

AGÈNCIES. Palma.
El president del Govern, José María Aznar, va parlar ahir al Congrés
dels Diputats sobre el «Prestige» en informar de la Cimera de caps
d'Estat i de Govern de la Unió Europea realitzada a Copenhaguen. En
aquest marc, va assumir personalment i «amb totes les conseqüències»
la polèmica decisió d'allunyar el vaixell de la costa gallega.
També va rebutjar la possibilitat de dimitir, com va apuntar IU,
presentar una moció de confiança o el ple monogràfic que li continua
reclamant l'oposició. El líder socialista, José Luis Rodríguez
Zapatero, va oferir a l'Executiu un nou pacte d'Estat que inclou una
acció coordinada en la UE per aconseguir més ajuts.

Aznar va centrar les conclusions de la Cimera, en el «Prestige». Es
va felicitar que el Consell Europeu donàs suport a l'adopció de
mesures pressupostàries «que tinguin en compte la futura evolució
dels danys, perquè el mal, lamentablement, no ha cessat». Va
assegurar que va ser ell «personalment» qui va fer veure els seus
socis europeus la necessitat d'evitar per sempre esdeveniments com
els del «Prestige».

El Fons de Cohesió, el Fons Europeu de Desenvolupament Regional,
l'IFOP per a la pesca i el Fons de Solidaritat s'aplicaran, va dir,
per emparar en part els efectes del desastre. En total, uns 265
milions d'euros. A això s'hauria de sumar la proposta de crear un
Fons per a la indemnització de danys provocats per abocaments de
petroli que, segons va explicar, compta amb el suport dels Quinze per
aconseguir-ho abans que acabi el 2003 amb una dotació de 1.000
milions d'euros.

Malgrat les xifres esgrimides per Aznar, el secretari general del
PSOE, José Luis Rodríguez Zapatero, li va oferir un pacte d'Estat que
inclou tres propostes fonamentals: la unió de Govern i oposició per
reclamar ajuts a la UE; demanar al president nord–americà, George W.
Bush, col·laboració científica i tècnica contra l'abocament; i reunir-
se amb tots els presidents de les comunitats autònomes per articular
la solidaritat amb Galícia.

Galiza indefesa

Escrevemos-lhe esta carta num momento particularmente triste para toda a península ibérica. Como sabe a contaminação emitida pelo barco petroleiro Prestige está a afectar praticamente toda a costa da Galiza e ameaça as costas nortenhas Portuguesas.

O governo da Espanha demonstra falta de solidariedade para com os povos do ocidente peninsular ao permitir que um barco com graves deficiências mecânicas contamine irreversivelmente ao longo dos próximos anos um dos mais belos litorais da nossa península. A decisão de levar este barco danificado e carregado de fuel para o sul e para o oeste demonstra uma total indiferença pelas consequências que as populações costeiras da Galiza e de Portugal vão sofrer nas próximas décadas.

Este sucesso infeliz e desastroso para a economia local da Galiza e de Portugal faz-nos lembrar um outro acontecimento que está presente na nossa memória.

Durante os anos 1807 a 1811 decorreram as três invasões dos exércitos franco-espanhóis e napoleónicos, as quais ocuparam transitoriamente parte do território português e que provocaram a perda do território de Olivença. O governo espanhol dessa época não soube acautelar nem defender intransigente os povos peninsulares enfrentado o estado napoleónico francês e também não mostrou nenhuma solidariedade com o povo irmão que é Portugal.

Passaram 200 anos destes acontecimentos e em certa maneira Olivença ficou refém do tempo, sendo a prova viva da ignóbil atitude do governo espanhol em aliar-se ao invasor Francês. O governo espanhol não honrou todos os documentos e tratados que os reinos medievais peninsulares fizeram de defender a integridade e liberdade da Península Ibérica sempre que fosse necessário.

Com este desconcerto no destino deste barco petroleiro o governo espanhol mostra novamente que não está à altura de honrar os compromissos de defender os povos da Espanha e de pugnar por uma Península Ibérica solidária.

Augusto B. Manuel Alonso.

J. Abreu Mário R.

Excelentíssimo Senhor Dom Manuel Fraga Iribarne

Dizer O Intocável

Celso Alvarez Cáccamo
[18 Dezembro 2002]
[Enviado a A Nosa Terra • Publicado no

As catástrofes e crises colectivas oferecem-nos, infelizmente, muitos motivos para reflectirmos sobre a linguagem. Levo um mês observando e registrando o discurso público sobre a agressão económica e política a este país causada polo desastre do Prestige, sobretudo nos médios de comunicação, e o que observo confirma-me nas teses de Pierre Bourdieu sobre o carácter construtor e dominador do Discurso. Muitas das minhas observações, suponho, são de senso comum, e nem se comentam por óbvias: por exemplo, a coerente insolência desses locutores legítimos da televisão espanhola a pronunciarem em espanhol os topónimos "Muksía", "Lákse" ou, como não, "La Korúña". Aqui o exercício de apropriação simbólica não pode ser mais evidente: "Muxía" e "Laxe" são palavras espanholas, pois pertencem a uma das "lenguas españolas" consagradas na sua Constitución. A pronúncia dos "x" por esse locutor é a correcta, as outras são dialectais.

Mais ricos em significados são os contrastes simbólicos e sociais entre o português de muitos marinheiros e o espanhol dos locutores da TVG, variante regional do espanhol da TVE. Bourdieu destaca que a legitimação duma nova língua de autoridade não consiste apenas na sua regularização formal, mas, sobretudo, na geração de novos discursos com novos vocabulários e novos universos conceptuais para representar o mundo social. A Língua Espanhola que se está a normalizar na Galiza sob duas variedades formais gera o discurso democrático da Modernidade, do Estado, da Eficácia, do Voluntariado, da Responsabilidade Cívica. Em programas de televisão sobre o desastre do Prestige mostra-se nos intervalos propaganda oficial sobre a segurança no trabalho no mar: barcos limpos, grandes e totalmente equipados. A voz que nos fala, em espanhol ou galego-espanhol, é um acento grave e masculino, regular, profundo, sério e (como não), ceceante como España. Os discursos de ministros, jornalistas e científicos baralham cifras sobre ajudas macroeconómicas, cifras sobre graus de toxicidade e viscosidade do "fuel-óleo", sobre profundidades submarinas. Por contra, o discurso galego-português de marinheiros e mariscadoras fala em termos quotidianos dos ganapães, os trueiros, as redes de almofadas caseiras, o Monstro do chapapote, a necessidade de comer ou emigrar. Eufemismo e materialismo associam-se assim correlativamente com duas cosmovisões de classe intrinsecamente antagónicas, com duas linguagens e duas línguas irreconciliáveis no espaço deste Estado, em definitivo com dous projectos sociais em conflito.

Contudo, os protocolos da tolerância ocidental permitem um certo grau de crítica a esse próprio Discurso que tenta tornar a agressão económica e social sistemática em imponderável "natural", como no caso dos temporais que estragam vilas mal condicionadas, como no caso das epidemias de vacas loucas causadas pola cobiça económica, como no caso dos terramotos vinculados a monstruosas barragens antiecológicas. As fendas que permite o Discurso são cousas como a utilização pública da acusação de "MENTIREIROS", a própria petição de "demissão" (que, não paradoxalmente, legitima os governantes como os nossos governantes), ou os jogos de palavras com "bigote" (sic) e "chapapote", como se o que caracterizasse o totalitarismo fosse o pêlo facial. A personalização das culpas da catástrofe não ajuda para a compreensão das suas causas e para o seu combate. Sabemos também, por exemplo, da rápida apropriação por parte da oligarquia política do lema Nunca Mais. Tentam esvaziá-lo de conteúdo, como com toda a imaginação popular, e agora há que lutar para destinar-lhe novos sentidos, ligar esse Nunca Mais a outro projecto social e económico desafiante e potencialmente emancipador. O Poder sabe bem o quê são e como são as armas do Discurso.

Mas as grandes palavras ausentes de toda esta confrontação social são a palavra rei, a palavra monarquia, o nome próprio Juan Carlos de Bourbon. Eis o imenso tabu que nos sobrevoa como uma imensa maré negra discursiva, obturando os coídos da consciência. Avonda com cartografar brevemente a colonial conduta do rei de España (e, quando escrevo estas linhas, do seu filho) contra as suas palavras na sua visita a Muksía: Manchou de piche os seus sapatos pagos também por nós, para fazer-se a foto enquanto criticava os que se faziam a foto. Veu como representante dum Estado que é na realidade miserável, um longo fracasso histórico que desde há décadas os governantes espanhóis tentam paliar em Europa. Mas no quadrículo do televisor a imagem era outra: o Estado engrandece-se polo zoom preciso dos jornalistas lacaios do Discurso focando o rosto real afectado por tanto sofrimento nos seus domínios. Logo, a cena televisiva elegida para ré-legitimar um chefe de estado colonial é, de novo, a do cidadão ou cidadã "popular" que louva o Rei e o venera nataliciamente como se fosse o quarto Melchior ou Gaspar. O Chefe do Estado espanhol desceu ex-machina, como no teatro clássico espanhol, para citar-nos Fuenteovejuna, uma referência tão remota para nós (polo menos para mim) como os Ananda Randa ou o mito do Tempo dos Sonhos dos aborígenes australianos. Porque na realidade a mensagem real não ia dirigida a nós: ia dirigida a España, para que, desde abaixo, desde o "pueblo", desde "los pueblos de España", chegassem procissões de voluntários e caixas de turrão a demonstrarem a inutilidade do pouco autogoverno da Galiza que ainda se gere desde aqui.

Não lamento intrinsecamente a debilitação desse pedaço de Estado, dessa Xunta desaparecida nas fauces do chapapote espanhol. Só tento destacar que as práticas de auto-organização que contemplamos, como defesa material, estão também ligadas a uma linguagem, uns discursos e uma língua que contêm o potencial da revolta, paralela a este Estado, e portanto contra dele. E que o Intocável, o Inominável, portanto, o adversário histórico desse espírito de revolta, deveria ser já também nomeado e tocado por essas linguagens. Por exemplo: o Reino de España, como não podia ser doutro jeito, "falhou-nos" de novo porque nunca foi concebido para não nos "falhar". A Juan Carlos de Bourbon, responsável constitucional máximo para as boas e para as más, por essa dignidade que declara ter a realeza deveria dar-lhe vergonha ser Chefe desse Estado.

Por princípio, não posso nem sequer ser republicano, defender qualquer forma de estado. Mas devo constatar que a resistência actual contra o chapapote -símbolo e produto da lei capitalista- é uma forma de república. Quando lhe comentei a um conhecido intelectual independentista na manifestação contra Aznar na Corunha que a consigna deveria ser Juan Carlos, Abdicação, não só Políticos, Demissão, ele tentou desactivar: "Claro que estou de acordo, mas essa não é a questão agora". Não, o regime monárquico nunca é a Questão. O Discurso fagocita também as elites intelectuais, já o vemos. Mas lembrem os nacionalistas galegos que nunca poderá haver soberania sob um regime e com um Chefe de Todos os Exércitos que, por lealdade constitucional, poderia enviar o mesmo exército que agora está a escarvar nas praias para matar marinheiros independentistas se ao Reino lhe fosse necessário. Isto é constitucionalmente assim de claro, não nos enganemos. Ou é que alguém ainda pensa que a forma do Estado moderno pode ser neutral? O Intocável é agora o rei e a monarquia, uma forma de estado que é essencialmente antidemocrática porque glorifica o privilégio do sangue masculino de família e porque consagra a propriedade privada do Reino e as suas colónias, incluindo as nossas costas infectadas. Digamo-lo, a ver quem escuta, e sobretudo a ver se se entende, para que os partidos que dizem "defender-nos" não defendam em lugar disso os privilégios do autoritarismo monárquico: Nunca Mais. Nunca Mais monarquia capitalista na Galiza. Em nenhuma parte. Sempre preferirei o idealismo das palavras deste tipo a esse "realismo pragmático" dos políticos que, dia a dia, não deixa de ser uma derrota.

 

Portal Galego da Língua]

DO "DIARIO DIGITAL":

O caso "Prestige"
Reis Lima Quarteu

http://www.diariodigital.pt/news.asp?id_news=50146


Nos últimos dias, tivemos a oportunidade de comprovar o "grande" respeito que o governo espanhol tem pelo nosso país, e de testemunhar o quanto eles (os membros do governo espanhol) gostam de contar a verdade aos seus cidadãos e às pessoas de todo o mundo. Estou a falar, como deverão imaginar, do caso do petroleiro "Prestige".

É necessário ser-se completamente desenvergonhado para despudoradamente tentar enviar o navio a derramar fuel para as nossas águas!!! Para a nossa sorte, ainda bem que, apesar de todo o silêncio e de todo o cuidado com que as nossas autoridades oficiais abordavam o assunto (as "falinhas mansas" politicamente correctas), o Governo Português decidiu, em boa hora, enviar para o limite norte da nossa Zona Económica Exclusiva unidades da Armada para impedir a entrada do navio nas nossas águas territoriais.

Durante os primeiros dias da catástrofe, muitos portugueses tiveram a oportunidade de conhecer o representante do governo de Madrid na Galiza, cargo semelhante ao Ministro da República existentes na Madeira e nos Açores, Sr. De la Mesa.

Essa personagem apenas fala castelhano, o que demonstra à saciedade a total falta de respeito que esse senhor nutre pela língua da região que diz representar e respeitar! Para muitos ingénuos que vão existindo em Portugal, aqui está mais um bom exemplo de como a nossa língua e cultura seriam respeitadas se, por hipótese absurda, estivéssemos inseridos dentro de um mesmo estado dominado por Castela.

Mas vá lá, quando um jornalista galego fazia alguma pergunta em língua galega àquela personagem, ele lá lhe respondia, muito embora em castelhano. Quando um jornalista português lhe fazia uma pergunta, na mesma língua que os jornalistas galegos (a nossa língua galaico-portuguesa!, mas, obviamente, com outro sotaque), o senhor De la Mesa "armava-se aos cucos", punha-se "em bicos de pé", e respondia-lhe: "No le entiendo!".

Como se nós falássemos chinês ou alguma outra língua parecida, sem uma mesma origem latina comum! Como se um "digníssimo" representante do "Reino de España" tivesse que descer tão baixo ao ponto de ter de compreender uma língua falada pelo povo que habita um pequeno e atrasado país ali ao lado de Espanha.

Essa atitude do Sr. De la Mesa mereceu e continua a merecer o mais vivo repúdio em variadíssimos estratos sociais de toda a Galiza. O directo que a RTP1 fez durante o Jornal de Tarde de dia 24 de Novembro deste ano, domingo, a partir de uma praia contaminada nos arredores da Corunha, é uma prova disso.

Para as autoridades espanholas, não havia nenhuma maré negra nas costas galegas:então, para que enviar meios de combate à poluição? Portanto, aquelas pessoas que andavam naquela praia fria, num domingo de manhã, a retirar fuel da areia, de modo voluntário, deveriam estar à procura de alguma coisa valiosa que alguém tivesse esquecido na areia durante as últimas férias de verão...

Uma dessas pessoas disse então à jornalista portuguesa Maria Cerqueira (à qual quero deixar as minhas sinceras felicitações pelo excelente trabalho jornalístico que executou), mais ou menos, o seguinte: "O povo galego quer pedir desculpas ao povo português pela merda que vos enviámos às vossas águas. Quero dizer, não o povo galego, mas as autoridades espanholas." Ah, e falou em língua galega! Para compreendermos o que ela disse, não foram necessárias legendas, apenas bons ouvidos e ausência de pré-conceitos.

Penso que a tragédia do Prestige pode ter um lado positivo para a ajuda que podemos dar à valorização da língua galega na Galiza. Com os diversos directos televisivos desde a Galiza, muitas pessoas certamente começaram a reparar que os do "outro lado" falam um português muito parecido ao nosso, talvez com um sotaque "espanhol".

Não seria possível que nós, portugueses, procurásseos incentivar as nossas televisões a explorar mais este tema: Afinal, que língua se fala na Galiza? O português e o galego são a mesma língua? O que o Estado Português poderia ou deveria fazer para promover o uso da língua galega na Galiza e nas outras regiões espanholas onde se fala galego-português? A defesa da nossa língua não é estratégico para o futuro desenvolvimento do nosso país? Penso que seria muito importante que as nossas televisões e outros meios de comunicação social procurassem debater esta problemática da língua galega e a sua relação com o espaço da Lusofonia.

Seria importante que nesses debates estivessem presentes políticos portugueses, galegos e espanhóis, linguistas, membros de associações cívicas, etc.... E o mais importante: o povo que fala a língua!

Esta é a minha sugestão. É preciso falar dessas coisas, para que as pessoas comecem a pressionar os nossos sucessivos governos a perderem o medo de Espanha, e começarem a defender os nossos próprios interesses, que não têm de ser iguais aos deles.

Termino por esclarecer que, na minha modesta opinião, a defesa da língua galega não tem nada a ver com reivindicações territoriais sobre o território da Galiza ou sobre outras regiões espanholas aonde ainda se fala a língua galaico-portuguesa. Defender a língua não tem nada a ver com reivindicações territoriais. Se assim fosse, ainda hoje estaríamos a reclamar de volta o Brasil, os PALOPs e Timor Loro Sae.

A única reivindicação territorial que Portugal continua a ter sobre Espanha está relacionada com o Território de Olivença, cuja ocupação pelo Estado Espanhol não é reconhecida pelo nosso país desde o início do século XIX, e cuja devolução é indispensável para que as relações entre os dois páises possam ser realmente fundadas sobre a amizade, a confiança e o respeito mútuos.

Viva a Galiza e a Língua Galego-Portuguesa! Viva Portugal!

24-12-2002 12:20:39

O SR. LULA, UM GRANDE PRESIDENTE PARA UMA COMUNIDADE GRANDE, A LUSOFONIA:

Da Folha de São Paulo, Terça-feira, 03 de Dezembro de 2002:

Luiz Inácio Lula da Silva fez sua estréia internacional como presidente eleito se referindo a uma única palavra em espanhol durante toda a sua agenda em Buenos Aires: "hambre" (fome).

Aos parlamentares argentinos, com os quais se encontrou no final da tarde, afirmou: "Vou trabalhar 24 horas todos os dias enquanto houver gente passando "hambre'". Não explicou que era o equivalente à fome e ainda repetiu a expressão.

Nas duas vezes em que o protocolo referiu-se a ele como "dom Luiz Inácio" -um pronome de tratamento mais formal para o equivalente a "senhor" em português- Lula sorriu. No Congresso, chegou a cochichar algo a respeito com o presidente da Câmara, Eduardo Camaño.

Camaño, que apresentou o presidente eleito em discurso aos parlamentares, por sua vez, chamou-o de "dom Inácio Luiz".

Em três discursos -um na Residência Oficial da Presidência, outro na Prefeitura de Buenos Aires e o último no Congresso- Lula falou em português, com tradução total apenas do primeiro deles. Na prefeitura, a intérprete se confundiu, e o presidente eleito discursou sem que fosse traduzido. No Congresso, falou por cerca de dez minutos sem tradução.

No Chile, Lula leu seu discurso no La Moneda em português, sem tradução simultânea.

REPRODUZIMOS UMA ENTREVISTA AO EURODEPUTADO Camilo Nogueira pelo jornal português "Correio da Manhã"

 

Correio da Manhã: http://www.correiomanha.pt

FALO PORTUGUÊS DA GALIZA

Poucas palavras sobre Euclides da Cunha

Nascido a 20 de janeiro de 1866, no Distrito de Santa Rita do Rio Negro (hoje Euclidelândia), município de Cantagalo – Estado do Rio de Janeiro – Euclides Rodrigues da Cunha, filho de Manuel Rodrigues Pimenta da Cunha e de Eudóxia Moreira da Cunha, não foi exatamente o que se poderia chamar de um homem feliz. Na mais tenra infância, contando apenas três anos, ficou órfão de mãe e, daí por diante, sua infância e adolescência foram de um ir e vir constante, em casa de parentes e escolas diversas, sem pouso fixo, o que, acredito, em muito contribuiu para torna-lo uma pessoa introspectiva e tristonha.

Embora tímido e reservado, era possuidor de grande sensibilidade que já se manifestava na adolescência quando, aluno do Colégio Aquino, no Rio de Janeiro, passou a colaborar com o jornal de estudantes "O Democrata", com artigos e alguma poesia.

Corria o ano de 1888 e as relações entre o Império e os quartéis, onde era cada vez maior o número de abolicionistas e republicanos, andavam muito tensas. Os cadetes da Escola Militar da Praia Vermelha, onde Euclides estudava, combinaram um ato de protesto a ser realizado no momento em que o Ministro da Guerra passasse a tropa em revista.Chegado o momento, ninguém fazia nada.Euclides, indignado com a falta de atitude dos companheiros, dá um passo a frente e atira o seu sabre aos pés do Ministro. A 14 de dezembro, depois de submetido a conselho disciplinar, foi expulso da Escola Militar. Em razão do "episódio do sabre", como ficou conhecido o fato, ao transferir-se para São Paulo, no mesmo mês, foi muito bem recebido pelos republicanos paulistas. Convidado a escrever para o jornal "Província de São Paulo", sob o pseudônimo de Proudhon, Euclides publicou, em janeiro de 1889, uma série de artigos em que pregava a queda da monarquia. Após a Proclamação da República (15 de novembro de 1889), Euclides voltou ao Rio de Janeiro, onde foi reintegrado ao Exército.

Casou-se, em agosto de 1890, com Ana Emília Sólon Ribeiro, a qual passou a assinar Ana Emília Ribeiro da Cunha, filha do então Major Sólon Ribeiro.

Em julho de 1893 Euclides tornou-se adjunto do ensino da Escola Militar. Em agosto do mesmo ano o então Presidente da República, Marechal Floriano Peixoto, mandou chamá-lo para que, em função de sua recente formatura e entusiasmo republicano, escolhesse a posição que desejava ocupar. Euclides então, demonstrando a sua retidão de caráter, disse-lhe que desejava, apenas, aquilo que previa a lei para os engenheiros recém-formados: um ano de prática na Estrada de Ferro Central do Brasil.

Após três meses na Central do Brasil, devido a Revolta da Armada, voltou ao Rio de Janeiro, para trabalhar nas fortificações do morro da Saúde contra os navios sublevados; trabalho esse que exercia sem entusiasmo. Por essa época, Euclides publicou dois artigos na Gazeta de Notícias, onde criticava o senador governista João Cordeiro, por este haver pedido o fuzilamento sumário dos inimigos do governo que sabotaram a Central do Brasil e o jornal "O Tempo". Sendo uma época de radicalização extrema, Euclides, pela publicação dos artigos, foi punido com a transferência para a cidade mineira de Campanha, onde trabalhou na construção de um quartel. Desiludido com a carreira militar, reformou-se em 1896 no posto de capitão. Transferiu-se no mesmo ano para São Paulo, indo trabalhar na Superintendência de Obras do Estado, tendo exercício, a princípio, em São Carlos do Pinhal. Suas funções de engenheiro obrigavam-no a constantes deslocamentos.

As notícias que chegavam das sucessivas derrotas das forças governistas na luta contra os jagunços de Antônio Conselheiro em Canudos, levaram-no a publicar dois artigos, um em março e outro em julho de 1897, no jornal "O Estado de São Paulo", sob o título de "A Nossa Vendéia". Até então Euclides, como a grande maioria da população, era de opinião de que se tratava de uma guerra entre os defensores da república e os monarquistas, a serviço de quem estaria Conselheiro.

Na condição de enviado d’O Estado de São Paulo, a 14 de agosto de 1897 Euclides da Cunha embarcava para Salvador, agregado à comitiva do Ministro da Guerra, Marechal Carlos Machado Bittencourt, para cobrir os acontecimentos em Canudos. De sua chegada a Salvador até o dia em que partiu para Canudos, Euclides gastou seu tempo pesquisando sobre a região, conseguindo mapas, ouvindo relatos, procurando a verdade. Mesmo tendo chegado a Canudos a 16 de setembro, quase no fim da luta, Euclides conseguiu captar todo o seu barbarismo. Os prisioneiros, embora poucos, recusando-se a dar vivas a república eram degolados. Soldados incendiavam casas ocupadas por velhos e crianças. Diante de tantos atos de pura barbárie, Euclides resolveu escrever a verdadeira história de Canudos, denunciando os desmandos cometidos e mostrando que, muito mais do que uma questão política, Canudos era uma questão social, conseqüência da miséria, da fome, da seca. A guerra terminou a cinco de outubro, quando ocorreu o último combate: 5000 soldados contra um velho, dois homens adultos e uma criança. Cansado, acabrunhado, desiludido e sem a visão romântica que tinha da república, Euclides voltou a São Paulo.

A 14 de março de 1898 mudou-se para São José do Rio Pardo (cidade em que nasceu o único de seus filhos a deixar descendência – Manuel Afonso), onde, além de construir uma ponte de ferro sobre o rio Pardo, escreveu aquela que viria a ser sua obra prima, o seu "livro vingador": Os Sertões, cuja primeira edição foi publicada a dois de dezembro de 1902, obra esta que, cem anos depois de publicada, ainda continua atual, sendo estudada e discutida.

Euclides morreu no bairro da Piedade, no Rio de Janeiro, em 15 de agosto de 1909, assassinado por Dilermando de Assis.

Nádia Povoa Chaia

 

Outras Obras Publicadas:

- Relatório da Comissão Mista Brasileiro-Peruana de Reconhecimento do Alto Purus –

- Castro Alves e seu Tempo (conferência)

- Peru Versus Bolívia,

- Contrastes e Confrontos

- À Margem da História,

Editora Lello & Irmão, Porto, Portugal (edição póstuma).
, Empresa Literária Tipográfica, Porto, Portugal, 1907.
Livraria Francisco Alves Editora, Jornal do Comércio, Rio de Janeiro, 1907.
, Imprensa Nacional, Rio de Janeiro, 1907.
Imprensa Nacional, Rio de Janeiro, 1906.

18/12/2002

CAMILO NOGUEIRA: FALO PORTUGUÊS DA GALIZA
Correio da Manhã - O eurodeputado Camilo Nogueira utiliza o português, na
maioria das suas intervenções no Parlamento Europeu, com o intuito de
promover o galego ou com a intenção de reforçar o português?


Camilo Nogueira - Eu tenho o galego como língua da minha família e do meu
país e pretendo que a principal língua da Galiza, mesmo em termos políticos
e económicos, seja o galego. Nesse sentido, tenho a sorte de, ao contrário
do que acontece com os catalães ou os bascos, a língua original da minha
região ser uma língua universal e uma das oficiais do Parlamento Europeu,
que é o português.

Agora, respondendo à questão, eu acabo por fazer as duas coisas, porque
promovendo o português vou impondo o galego.

- Quer isso dizer que o galego e o português são a mesma língua?

- O galego é português com sotaque. Um pouco como o brasileiro. Na altura
da fundação de Portugal o povo de toda a região da 'Galécia' falava a mesma
língua, a que eu costumo chamar o galaico-português.

E mesmo hoje, as diferenças são apenas fonéticas ou morfológicas, porque no
léxico e na gramática, são exactamente a mesma língua.

- No Parlamento Europeu fala sempre em português?

- Quase sempre. Como, ao falar em português, sou traduzido e todos ouvem,
na sua língua, o que estou a dizer, aproveito para ser mais uma voz da
nossa língua nesta câmara europeia. No entanto, há algumas situações em
que, em termos estratégicos, é importante utilizar o castelhano e, nessa
altura, falo a língua oficial de Espanha. Digo-lhe, no entanto que, nas
intervenções por escrito, utilizo sempre o português.

- É o único eurodeputado eleito por Espanha a falar português no Parlamento
Europeu?

- Penso que sim. Creio que os eurodeputados galegos eleitos pelos outros
partidos utilizam o castelhano. No entanto, não sou o único a utilizar a
língua de outro país para tentar divulgar a da minha região. Os flamengos
da Bélgica falam holandês e, como no meu caso, é a mesma língua, mas com
sotaque diferente.

- Não se sente, portanto, isolado nesta sua postura?



- De forma alguma. Por um lado, há os flamengos da Bélgica a utilizar o
mesmo truque, se lhe quiser chamar assim, e em português, como sabe, somos
bastantes a falar.

- Tratando-se de um eurodeputado eleito por Espanha, nunca lhe foi colocado
qualquer problema por falar em português?

- Não, claro que não. Eu até já debati esta questão com José Maria Aznar,
sobretudo quando a Espanha tinha a presidência da União Europeia e ele teve
de pôr os auscultadores para compreender a minha intervenção. Eu disse-lhe
que é legítimo que os galegos lutem pela sua língua de origem. De resto,
devo dizer-lhe que, curiosamente, eu posso fazer as intervenções na minha
língua no Parlamento Europeu, graças ao português, mas não o posso fazer no
parlamento espanhol em Mardid, onde o castelhano é obrigatório.

- Qual é o seu objectivo?

- O meu desejo, para além de ter o prazer de utilizar esta língua que é a
minha, é que um dia o galego possa ser considerado como parte comum da
língua portuguesa, dessa forma, ser oficial, tal como o castelhano, no
Parlamento Europeu. No fundo, o que eu estou a fazer é falar a minha
língua, tal como um eurodeputado de Lisboa, só que com pequenas diferenças
fonéticas.

- Quer dizer que o Parlamento de Estrasburgo vai continuar a ouvi-lo (e a
traduzi-lo) em Português?

- Sem qualquer dúvida. Ao contrário de muitos colegas das mais diversas
regiões europeias, eu tenho a sorte de ter uma língua original que é
oficial na Europa e universal no mundo. Repare que o português é universal
desde as descobertas, desde finais do século XV. No século XVI, a língua de
Camões era mais importante do que o inglês e eu tenho a sorte de ter
nascido num berço que fala essa língua.

É certo que, nessa altura, até a pronúncia era praticamente igual e que
hoje, devido à crescente influência do castelhano, através do ensino, dos
meios de comunicação e etc., as diferenças são um pouco mais acentuadas
mas, não me canso de dizer, no essencial, falamos a mesma língua.

- Acha que Portugal e a Galiza se têm aproximado?

- Penso que sim e acho que isso é inevitável. Tenho para mim que, do ponto
de vista histórico, cultural e até social, a Galiza está mais próxima de
Portugal do que de Madrid. Esta lamentável questão do 'Prestige' veio
realçar isso mesmo.

- Como galego e nacionalista, partilha da revolta dos seus conterrâneos
para com o Governo espanhol?

- O comportamento político e humano do Governo espanhol foi simplesmente
catastrófico. Os heróis têm sido os cidadãos que, com as suas mãos e os
seus barquinhos, enfrentam corajosamente a tragédia. Aqui, estou certo, o
Governo português foi mais enérgico e inteligente.

PERFIL

Nome: Camilo Nogueira Román

Idade: 66 anos

Local de Nascimento: Vigo (Galiza)

Cargo: Deputado Europeu (BNG) e presidente do Intergrupo das "Nações sem
Estado" do Parlamento Europeu.

Carreira: É engenheiro industrial (foi quadro superior da Citroën Hispania,
em Vigo) e licenciado em Ciências Económicas pela Universidade de Santiago.

Autor do livro "Gallaecia: a memória da nación" e de vários ensaios sobre a
chamada "Questão Nacional", fez parte da "Comissão dos 16" que redigiu o
projecto do Estatuto de Autonomia da Galiza, ainda hoje em vigor.

Membro da direcção do Bloco Nacionalista Galego, desde a sua fundação, foi
eleito Deputado Europeu em 1999.

Camilo Nogueira, que exerceu o cargo de deputado no Parlamento da Galiza
durante as três primeiras legislaturas, foi, entre 1973 e 1997, responsável
pelas áreas de promoção industrial e relações internacionais na Sociedade
Para o Desenvolvimento Industrial da Galiza.

http://www.ldc.com.br/iclas
embgalega@hotmail.com