Iclas - Instituto de Culturas Lusófonas
Antonio Borges Sampaio


17-12-2001

Culturas Lusófonas


"A arte de bem escrever e de bem falar não deve ser um hobby e sim uma condição preliminar para alguém entender-se com seu semelhante". - Já dizia o eminente médico e escritor brasileiro, prof. Hélio Silva, quando defendia a idéia de que os médicos modernos, mais jovens, deviam ser menos técnicos e mais cultos.

Com o evoluir da tecnologia , com o aumento e velocidade com que aparecem os conhecimentos científicos, os estudantes passaram a ter uma formação acadêmica mais restrita à área de escolha profissional em detrimento da cultura geral.

Na Medicina, o estudo das línguas, das artes, da filosofia, da literatura, enfim, das letras, no Brasil, foi praticamente eliminado do curriculum ,ficando unicamente, o estudo científico . Assim é que, hoje, é raro ver-se um jovem profissional com cabedal cultural geral razoável, o que era natural nos médicos de antigamente, quando um indivíduo de nível superior, qualquer que fosse a área, era, antes de tudo, um sujeito culto.

No lazer, a TV substituiu a leitura, atrofiando o raciocínio e empobrecendo o vocabulário. A impressão visual, a informação rápida e semi-digerida, não permite a meditação e o julgamento próprio. O vocabulário restrito e muitas vezes inadequado é assimilado, e na hora da comunicação , não há grande diferença na maneira de um universitário ou de um jogador de futebol se expressar.

A perda da cultura geral, em quase todas as áreas científicas, inclusive na Medicina, tem formado superespecialistas, excelentes técnicos, em indivíduos com uma grande dificuldade de se bem comunicar , por vezes , pela falta de leitura, de sensibilidade e da palavra certa ao tratar com seu semelhante.

Devemos, pois, ler mais e estimular a curiosidade dos mais jovens para os bons livros, a fim de que, a PALAVRA seja de fato o maior e genuíno veículo de comunicação entre os Homens.

( Eduarda Fagundes Nunes, açoriana, Médica ginecologista, membro Elos Clube de Uberaba)


Os Enigmas de Goa

O homem que subiu o Mandovi, em direção a Velha Goa, em 1847, chamava-se Richard Francis Burton e vinha com o objetivo de seguir as pegadas de Camões; encontrou o outrora centro cosmopolita mais cobiçado do Oriente em avançado estado de ruína e devastado por febres endêmicas.

Uma particularidade típica das antigas colônias portuguesas e que não escapou aos goeses, a mestiçagem deliberada como maneira de melhor subordinar os nativos, acabou criando a “ raça mais feia e de aparência mais degradada da Ásia”, segundo Burton, que continuou despejando seu sarcasmo sobre as mestiças que pareciam decrépitas aos 35 anos e os homens que viviam bêbados resumindo que não passavam de “uma mistura estranha de características européias e asiáticas, de civilização antiquada e barbárie moderna”.

Essa aliás não era a opinião só dele. Era também a de seu herói, Camões, que chegara à Índia como exilado e com o firme propósito de enriquecer facilmente através do comércio de especiarias, a exemplo de outros conterrâneos seus. O poeta comparava Goa à Babilônia, terra dos patifes e da corrupção.

O resultado foi que ambos cansaram-se rapidamente do lugar. E apesar disso, Burton necessitava satisfazer suas curiosidades antropológicas –e sexuais. Descendo o rio até Panjim, a Nova Goa, esbarrou com dois oficiais britânicos e em sua companhia, foram visitar o mais conhecido bordel da cidade.

(Pesquisa feita por Daniel Oliveira e Cunha, uberabense, estudante, membro do Elos Clube de Uberaba)


Pai Nosso em kimbundu

Tat'etu uala mu diulu, dijina diê adiximane, ungana ué uize kokuetu, abange kioso kia mesena boxi kala mu diulu. Kudia kuetu kua izua ioso a-tui-bane-ku lelu, a-tu-lloke ituxi ietu, kala ki tuloloka a tu-bange kia íba, ka-tu-ehelele kudibala mu ituxi, a-tu-bulule ku ia iba. Amem.

(Moxi kandandu, da Nádia Povoa Chaia, Professora , bisneta de Euclides da Cunha, membro Fórum Elos)


Expo Fotográfica "Olhares Catarinenses em Solo Açoriano"

Belas memórias devem ser registradas. Foi o que fizeram oito catarinenses que

visitaram o arquipélago dos Açores entre 1997 e 2001. O resultado está nas imagens da exposição fotográfica "Olhares Catarinenses em Solo Açoriano -
O que vimos, ouvimos e sentimos na terra de nossas raízes", que ocorreu no Arquivo Público de Santa Catarina, na avenida Mauro Ramos, 1.264.

Serão expostas 10 fotos feitas por cada um dos participantes, mostrando
diferentes aspectos das nove ilhas que compõem o arquipélago: São Miguel,
Santa Maria, São Jorge, Terceira, Graciosa, Faial, Pico, Flores e Corvo. São
flagrantes do cotidiano dos ilhéus, das festas populares, do artesanato e da
diversidade da paisagem, repleta de vulcões, montanhas e praias.
Os fotógrafos amadores têm diferentes profissões, mas uma coisa em comum: o
interesse pela cultura açoriana, motivo que os levou a participar do curso
"Açores: À Descoberta das Raízes", realizado anualmente pela Direcção
Regional das Comunidades com o objetivo de promover a integração do
arquipélago com as comunidades da diáspora açoriana, especialmente Brasil,
Estados Unidos e Canadá. Os participantes são a jornalista Ana Cláudia Menezes; o cantor lírico Charles Prochnow; a artista plástica e educadora Cilésia Nascimento Inácio; a bibliotecária Cleuza Regina Costa Martins; a arquiteta Eliane Veras da Veiga; o funcionário público e oleiro Gilberto João Machado; a bibliotecária Neusa Rosane Damiani Nunes e a historiadora Sileide Maria da Silva Lisbôa.
Além das 80 fotografias, foram expostos objetos pessoais pertencentes ao
acervo dos participantes, todos trazidos dos Açores. São livros, miniaturas
de casas da arquitetura local, moedas, pedras vulcânicas e artesanato, com
trabalhos em cerâmica, couro, lenços, flores de escama de peixe e bonecas de
palha de milho.

( Ana Cláudia Menezes, Jornalista em Florianópolis, membro do Fórum Elos)






Fado Virado a Nascente

Em CD do grupo Rão Kyao * Polydor 016 354-2 * uniaolisboa@gruporeuniao.pt 2001

Lindo e esclarecedor sobre a riqueza dos sons do fado. Origens ....Sons que valem mais que muitos discursos sobre a interculturalidade dos povos e a nossa crença na democracia .

Rão Kyao , nos diz que PARA O MESTRE DE MUSICA e CANTOR ,DE BOMBAIM, PRADEEP CHATERJEE ,Amália Rodrigues era uma grande cantora com uma belíssima voz e toda a sonoridade LHE lembrava a musica iraniana.

Rão diz que não pode esquecer este comentário, de um grande cantor que pouco sabia sobre Portugal.

Esta foi a grande certeza de Rão de que o Fado verdadeiro vem de "nascente" ou seja de musicas que os portugueses encontraram nas viagens- a Persa, a Indiana e principalmente a Árabe, com a sua presença secular na Península Ibérica. Com elas, formamos a nossa própria raiz musical e a nossa identidade.

Rão alimentou o sonho de gravar um disco revelador de sua crença, e o CD testemunha o sonho.

Rão chamou o grande violonista marroquino GAZI .Um grande 'FADISTA" A SUA MANEIRA, NAS SUAS INTERVENCOES COM O VIOLINO.

Convidou Barmaki, percussionista

Fadistas - Deolinda Bernardo, Teresa Salgueiro

Fernando Silva na guitarra portuguesa

Carlos Macieira, o viola.

Renato Júnior no acordeão

Carlos Gonçalves cantou o fado oásis. E muitos mais talentos participaram nesta gravação tão original.

(Margarida Castro, Engenheira Agrônoma, Coordenadora do Fórum Elos)


Recordações de Infância
Sou de Goiás e pelo que sabemos, os goianos tem costumes que se assemelham muito aos de minas... além do mais, tinha avós paulistas (misturadas ao francês e espanhol).... e avôs portugueses...

A toada do carro de boi (tenho esta na memória auditiva); os toques da viola; a fogueira; o pratinho de doce dado à vizinha; a pipoca à volta do rabo do fogão à lenha; as histórias contadas pelas avós que duravam horas (os causos!); a meninada (inclusive eu até aos 17 anos de idade !) brincando na rua (de pega-pega, de rodas, boca de forno, barra manteiga, esconde varinha, etc...); os banhos nos rios (só de calcinha); o silêncio mortal na semana santa; à tarde todos sentados em cadeiras, mas nas calçadas de suas casas; o forno de barro do lado de fora da casa, as grandes mesas com diversos pratos nas horas das refeições; os vestidos novos (e todos os domingos) para ir à igreja; as bandeirinhas dependuradas nas festas dos santos; os fogos artificiais; a pamonha; o pão feito em casa; o vestidos de festa de São João; o respeito pelo padre-pastor e pelo professor? e pelo médico da família? As pinturas nas rochas; os pés descalços; o sentar de cócoras , etc...

Quanta recordação gostosa que marcaram o meu (quem sabe o seu e de tantos aqui...) lado afetivo-puro-ingênuo-sonhador-compatilhador...

todas recordações cunhadas na alma...

Penso que teríamos que recuperar os costumes antigos dos avós e dos idosos que passavam para nós suas histórias Vividas e as imaginárias....

por meio dos seus causos quilométricos...

Tudo isto e mais formam nossa cultura brasileira misturada ao índio (eu tinha uma 'mãe preta' - assim era chamada - que era filha de índios), português, espanhol, francês, africano... estamos deixando passar...

(Vera Pessoa, psicóloga, membro do Fórum Elos )