26-12-2016Devemos reconhecer e acarinhar a nossa herança judaicaAGÉNCIA LUSA/LISBOA /19 DEZ 2016 / 22:00 H.
____________________________________________________________ O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, visitou hoje a Sinagoga de Lisboa e considerou que Portugal deve reconhecer e acarinhar a sua herança judaica, salientando o seu papel na formação da identidade nacional. “A esta herança, que nos enriqueceu no passado e que teve um papel importante na formação da nossa identidade, nunca é de mais manifestar uma palavra de gratidão”, declarou Marcelo Rebelo de Sousa, no final de uma cerimónia religiosa que incluiu orações pelo Presidente e pelos governantes da República Portuguesa e pela paz em Israel. Num discurso de sete minutos, perante dirigentes e membros da Comunidade Israelita de Lisboa, o chefe de Estado acrescentou: “Devemos reconhecê-la e acarinhá-la, pois sabemos que quando o não fizemos ficámos todos a perder. Foi Antero de Quental quem chamou calamidade nacional à expulsão dos judeus de Portugal”. De “kippah” na cabeça, como os restantes homens, o Presidente da República terminou o seu discurso com algumas palavras em hebraico: “Ouve, Israel, o Senhor é nosso Deus, o Senhor é um só”. Durante esta cerimónia na sinagoga “Shaaré Tikvá”, localizada junto ao Largo do Rato, em Lisboa, foi também proferida uma oração fúnebre em memória de Shimon Peres, antigo Presidente e primeiro-ministro de Israel, que morreu em setembro deste ano, e foi descerrada uma lápide em sua honra. Na sua intervenção, Marcelo Rebelo de Sousa recordou-o como “um humanista” e “um ser excecional que lutou sem cessar pela paz, pelo diálogo, pela visão ecuménica da relação entre pessoas, povos e nações”, manifestando o desejo de que “o legado de Shimon Peres se mantenha e aprofunde”. O Presidente da República lembrou que os dois se conheceram, “brevemente”, em Israel, há 35 anos, e que tinham combinado encontrar-se em Portugal no dia 20 de outubro, lamentando: “Infelizmente, deixou-nos entretanto. Que Deus guarde a sua alma”. Marcelo Rebelo de Sousa, que antes desta visita esteve numa igreja anglicana em Lisboa, afirmou estar na Sinagoga de Lisboa “com grande prazer” e “num espírito de abertura, de paz e também de reencontro”, na senda da presença dos seus antecessores Jorge Sampaio, Mário Soares e Cavaco Silva. A vice-presidente da Assembleia da República, Teresa Caeiro, e deputados daAssociação Parlamentar de Amizade entre Portugal e Israel assistiram a esta cerimónia. Após as orações, o presidente da Comunidade Israelita de Lisboa, Gabriel Steinhardt, falou da história dos judeus em Portugal e questionou: “Quem em Portugal é que pode ter a certeza absoluta de não ter na sua genealogia uma costela secreta dessa descendência?”. Em seguida, o Presidente da República falou igualmente nos judeus que foram figuras da história portuguesa e naqueles que foram forçados a converter-se ao cristianismo, mas “conseguiram preservar, ainda assim, sigilosamente, a sua identidade religiosa”, e contou que também ele tem “sangue judaico” na sua linhagem materna. Sobre os judeus que deixaram Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa referiu que muitos “mantiveram acesa a esperança do regresso a terras lusas, esperança essa que foi passando de geração em geração”. “É com alguma emoção que me apercebo que esta ligação ainda hoje existe, um pouco por todo o mundo, conforme demonstra o interesse manifestado por muitos destes descendentes em adquirir a nacionalidade portuguesa, recorrendo à recente legislação que o permite”, acrescentou.
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