10-06-2013Descolonizações X SecessõesDescolonizações X Secessões
Daniel Cunha
As independências da América foram verdadeiras SECESSÕES; as da África, DESCOLONIZAÇÕES, mesmo em termos jurídicos. Os africanos mais esclarecidos de hoje sabem muito bem da fatalidade que foi sua história recente, ao herdarem sem grandes capacidades um modelo de Estado moderno com engrenagens complexas que sobretudo os antigos colonizadores dominavam e ainda dominam mais que os atuais emancipados.
Nós, latino-americanos, tivemos as elites crioulas substitutas (naturais ou voluntárias), aliás (em casos como o brasileiro) intelectualmente mais preparadas que as elites que permaneceram na ex-metrópole. Grandes intelectuais, como Sarmiento, Alberdi (Argentina), Zavala (México-Texas), os viscondes do Império e outros tornaram-se grandes estadistas, institucionalizaram sua vontade e projeto nacional, e deixaram legado.
Mas há um contraste a ser analiticamente desdobrado: Os colonialismos foram bastante diferentes, pois baseados em tipos diferentes de capitalismo e de tecnologia de exploração e comércio. As independências do primeiro continente foram sob a primeira revolução industrial, e as do segundo foram nos alvores da terceira. A divisão internacional da produção e exploração de matéias-primas foi portanto radicalmente diferente. O Congo-Léopoldville foi a tragédia que foi por uma razão básica - possuía uma das poucas reservas de cobalto do mundo, que ia direto para a grande indústria bélica norte-americana, durante a corrida armamentista bipolar. Nos séculos anteriores, o cobalto era irrelevante. Mesmo o cobre. O ouro e os diamantes sul-africanos só foram descobertos há um século - e sua exploração muito menos rudimentar que a da América de antes. Estas são apenas ponderações prévias, para uma leitura ulterior e mais detida da história.
Outra ponderação prévia: O colonialismo chegou a Angola na virada do século XIX para o XX, mas já antes a economia internacional mudou radicalmente as relações econômicas e de poder no interior daquele território (Huambo, Bié, Moxico, Lunda), com a demanda internacional pela borracha, mesmo que de pior qualidade que a amazônica e depois asiática. As mercadorias que as grandes caravanas africanas conduziam no século XIX já eram outras, com relação às anteriores.
O comércio de outra mercadoria, os escravos, também mudou com o tempo. Suponho que a qualidade de vida deles tenha mudado muito entre os séculos XVI e XIX. Para pior ou para melhor, não sei. Só há um jeito de saber por alto sobre isso: lendo os bons historiadores. Devem ser poucos, mas acredito que existam. |