Iclas - Instituto de Culturas Lusófonas
Antonio Borges Sampaio


22-03-2015

LÁGRIMA DE PRETA António Gedeão


Um belo poema de António Gedeão / Rómulo de Carvalho, cheio de humanidade e de sabedoria, como só um cientista-poeta seria capaz de fazer.

 

"E como hoje é Dia Internacional Contra A Discriminação Racial deixo aqui o poemaLÁGRIMA DE PRETAEncontrei uma pretaque estava a chorar,pedi-lhe uma lágrimapara a analisar. Recolhi a lágrimacom todo o cuidadonum tubo de ensaiobem esterilizado.Olhei-a de um lado,do outro e de frente:tinha um ar de gotamuito transparente. Mandei vir os ácidos,as bases e os sais,as drogas usadasem casos que tais.Ensaiei a frio,experimentei ao lume,de todas as vezesdeu-me o que é costume: nem sinais de negro,nem vestígios de ódio.Água (quase tudo)e cloreto de sódio.  ANTÓNIO GEDEÃO em "Máquina do Mundo" - 196"

E porque 21 de março, foi o Dia Internacional Contra A Discriminação Racial , deixo aqui o poema

LÁGRIMA DE PRETA

Encontrei uma preta
que estava a chorar,
pedi-lhe uma lágrima
para a analisar.

Recolhi a lágrima
com todo o cuidado
num tubo de ensaio
bem esterilizado.

Olhei-a de um lado,
do outro e de frente:
tinha um ar de gota
muito transparente.

Mandei vir os ácidos,
as bases e os sais,
as drogas usadas
em casos que tais.

Ensaiei a frio,
experimentei ao lume,
de todas as vezes
deu-me o que é costume:

nem sinais de negro,
nem vestígios de ódio.
Água (quase tudo)
e cloreto de sódio.

ANTÓNIO GEDEÃO (1906-1997)

 Em 1956 publicou, com o pseudónimo de António Gedeão, o seu primeiro livro de poesia,Movimento Perpétuo (Coimbra), seguido de outros livros, Teatro do Mundo, em 1958 e Máquina do Fogo, em 1961. Em 1963 publicou a peça de teatro RTX 78/24.

Em 1964, para comemorar o 4º Centenário do nascimento de Galileo Galilei, escreveu o "Poema para Galileo", que foi traduzido para língua italiana por Roberto Barchiesi, e publicado, em edição bilingue, pelo Istituto Italiano di Cultura. Este poema, musicado e cantado por Manuel Freire, conheceu uma grande expansão, tal como a "Pedra Filosofal", ou a "Lágrima de Preta".

 

 

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