Iclas - Instituto de Culturas Lusófonas
Antonio Borges Sampaio


28-08-2016

Apenas 2.424 sefarditas solicitaram a nacionalidade espanhola


Mais de um ano depois de publicar a lei, e após um período de 10 meses de vigência, apenas 225 sefarditas residentes em Israel solicitaram o passaporte espanhol, de um total de 2.424 petições, segundo dados do Ministério de Justiça divulgados no dia 4 de agosto de 2016.

Apenas uma nacionalidade foi concedida até agora com base na nova lei e outros 256 processos foram concluídos. Os restantes continuam em trâmite. No entanto, é preciso levar em conta que a norma é válida apenas por três anos, ou seja, até o dia 1 de outubro de 2018, embora possa ser prorrogada por um ano pelo Conselho de ministros.

A complexidade dos trâmites que devem ser realizados pelos postulantes induz a pensar que 10 meses não é tempo suficiente para se fazer um balanço, e que o número de petições de nacionalidade poderiam se multiplicar a médio prazo, mas, com os requisitos atuais, dificilmente se alcançará uma cifra que se aproxime à prevista anteriormente, de entre 90.000 e 200.000 sefarditas, e que foi citada pelo presidente da Federação de Comunidades Judaicas da Espanha, Isaac Querub.

A grande novidade da reforma, promovida pelo anterior ministro da Justiça Alberto Ruiz-Gallardón, é uma possibilidade de que os sefarditas tenham direito à nacionalidade espanhola sem ter que renunciar à sua de origem, algo que, até agora, era um privilégio exclusivo dos cidadãos ibero-americanos. “O quanto sentimos falta deles!”, chegou afirmar o rei Felipe VI, dirigindo-se aos sefarditas depois de sancionar a lei.

Os números são, entretanto, muito mais modestos do que o discurso. Em países onde residem dezenas de milhares de sefarditas, como a Turquia e o Marrocos, não foram registrados nem sequer 100 pedidos de nacionalidade espanhola. Isso se deve, segundo distintas fontes, à complexidade dos trâmites, taxados de confusos e onerosos.

M. G.

De todos os obstáculos que devem ser superados pelos sefarditas para obter a nacionalidade espanhola, os mais dissuasivos são as provas que testam seus conhecimentos do idioma espanhol e da constituição e da realidade social e cultural do país (CCSE). Muitos sefarditas falam ladino ou haketia, uma variação do espanhol do século XV enriquecido com palavras dos países que os receberam. Karen Gerson Sarhon, coordenadora do Centro Sefardita de Istambul (Turquia), ressalta que conhecer o ladino não basta para ser aprovado em um teste de espanhol. “É fácil se entender verbalmente, mas há grandes diferenças na escrita em comparação com o castelhano atual”, explica Sarhon. A contradição, segundo ela, é que, enquanto a Espanha elogia os sefarditas por terem conservado sua cultura hispana durante mais de cinco séculos, não permite que façam a prova em sua própria versão do espanhol. A pergunta é: Miguel de Cervantes conseguiria ser aprovado, hoje, em uma prova de espanhol do Instituto Cervantes?

Das 58.510 pessoas que fizeram a prova CCSE, desde outubro de 2015, apenas 5% (2.961) alegavam ser sefarditas. A consequência mais visível é que as filas que antes se formavam no consulado espanhol em Istambul passaram ao de Portugal. O país vizinho também oferece um passaporte europeu aos sefarditas, mas não exige que saibam nada sobre o português atual.

http://brasil.elpais.com/brasil/2016/08/27/internacional/1472323420_545660.html?id_externo_rsoc=FB_CC