Iclas - Instituto de Culturas Lusófonas
Antonio Borges Sampaio


12-03-2015

Tempo irreversível (Poesias: livro IV) Adelino Torres


Tempo Irreversível

 

Tempo Irreversível

(Poesia – Livro IV) de Adelino Torres    

(áreas de pesquisa do prof  Catedrático: Economia do Desenvolvimento, Economia Africana; Metodologia e Epistemologia das Ciências Sociais e da Economia.Domínios complementares de pesquisa: Economia Internacional; Relações Internacionais.Outras áreas de estudo e/ou interesse particular: Economia e culturas árabo-muçulmanas; Filosofia Portuguesa do século XX; História do Pensamento Económico; Ciência Política; História da Filosofia e Literatura.)

 

Edição/reimpressão: 2011

Páginas: 166

Editor: Edições Colibri

ISBN: 9789896891589

 

Prefácio de José Carlos Venâncio 

 

 

Sinopse

A presente colectânea revê temas como o do economicismo, do racionalismo levado ao extremo, do racismo, da injustiça social, assim como das expectativas goradas em relação ao nacionalismo africano e ao comportamento das elites políticas do continente.

2 Trabalhos do autor 

1. Trabalhos literários: 

Poesias – Livro I: Uma fresta no tempo seguida de Ironias (Ed. Colibri, 2008); 

Poesias - Livro II: Histórias do tempo volátil (Ed. Colibri, 2009); 

Poesias – Livro III: Cantos do crepúsculo (Ed. Colibri 2010); 

Poesias – Livro IV: Tempo irreversível (Ed. Colibri, 2011); 

Poemas in Encontro – Revista do Gabinete Português de Leitura de Parnambuco (Brasil, nº 19, 2005);

“Fotografia e desocultação da memória”, in www.adelinotorres.com , página “Filosofia”; 

 

“Retour à la source” in revue NRF-Nouvelle Revue Française (Paris, Gallimard, 1967). In www.adelinotorres.com - página “Trabalhos do autor”. 

 

Força Nova – Antologia de Poesia, (Coordenação e coautoria), Luanda, 1961 (Prefácio de Jorge Almeida Fernandes e capa do escultor José Rodrigues).

 

2. Trabalhos académicos

Livros e artigos diversos, estes últimos publicados em revistas nacionais e estrangeiras, nomeadamente nas áreas de economia, sócio-economia, sociologia, história e metodologia.

 

Prefácio de José Carlos Venâncio 

Professor Catedrático Universidade da Beira Interior CECS – Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade 

 

A poesia de Adelino Torres continua a surpreender-nos no bom sentido. De livro para livro, o autor vai consolidando um estilo próprio, ganhando um lugar ímpar no universo poético de língua portuguesa. O volume que ora apresenta (Poesias IV), intitulado Tempo irreversível, consagra em título uma inquietação que tem sido central na sua poesia recente. Desde a primeira colectânea, Uma fresta no tempo seguida de ironias (2008), até à presente, a irreversibilidade do tempo, que o mesmo será dizer, o envelhecimento e a proximidade da morte, têm sido temas constantes da sua poesia, a condizer com a chegada à condição de “velho-jovem”, designação constante do poema “Tempo e metáfora”, inserto na presente colectânea. Releva, deste modo, uma fase da vida propícia à reflexão sobre o que se fez no passado e o que se poderá ainda construir no futuro, um tempo que, pelas circunstâncias biológicas, será sempre mais curto e, por isso mesmo, mais exigente. 

 

Se esta é uma preocupação partilhada pelos seres humanos em geral, coloca-se com maior acuidade junto dos intelectuais por razões que se prendem com as suas inquietações e com a responsabilidade que usam e ousam assumir sobre o devir da humanidade. É este, de certa maneira, o caso de Adelino Torres, quer na sua faceta de académico de reconhecidos méritos, quer na de homem de letras, que, desde os tempos da juventude, passados em Angola, nunca abandonou, na verdade, a escrita e a literatura, como, de resto, o comprova a maturidade estilística da colectânea Uma fresta no tempo…, que marca, em termos editoriais, o seu ressurgimento como poeta. 

 

Por razões de amizade e também porque partilho com ele o gosto da poesia e da escrita em geral, Adelino Torres, que é, à maneira angolana, um dos meus mais-velhos, num acto que, por isso mesmo, muito me honra, fez-me depositário da sua poesia. Quer isto dizer que, entre nós, se tem aprofundado uma relação que vai do lado da criação ao da crítica que faz, em muito, lembrar a relação que certos artistas plásticos têm para com os seus agentes, galeristas e público em geral, dando sentido a vários tipos de arte, tais como art in progress, experimental art, etc. São, em qualquer dos casos, manifestações que, não obstante o perigo de perenidade, visam uma maior exteriorização, conseguindo, por essa via, uma maior aproximação ao público e, assim, pela partilha implícita, uma actualização constante. Muito à maneira de Simmel, devolvem o acto criativo à vida na expectativa que esta lhe reconheça os predicados que o tornam arte. Subjaz a este esforço uma necessidade genuína de passar a mensagem, o que, na verdade, encontramos na poesia que, a dado momento da sua vida, Adelino Torres achou por bem partilhar connosco. São as suas vivências, as suas ideias, as suas expectativas que nos são oferecidas em jeito de autobiografia. Uns preferem a prosa para o efeito, Adelino fá-lo a partir do exercício poético. 

 

Na presente colectânea revê temas como o do economicismo, do racionalismo levado ao extremo, do racismo, da injustiça social, assim como das expectativas goradas em relação ao nacionalismo africano e ao comportamento das elites políticas do continente. Em relação a estas é profunda a sua mágoa, expressa em versos como os que se seguem, partes do poema “Os novos sobas”: 

 

“São inconstantes carrascos

 que acusam todos com tudo

com razões que só neles moram

 

inchando em cada dia

como rãs verdes no charco

de vaidade e fantasia” . 

 

Como procurei relevar em textos anteriores, mais do que a vertente angolana da sua identidade, é o militante anti-colonialista, comprometido eventualmente com o marxismo, que se revolta desiludido. E, assim sendo, é, de certa maneira, a Rechtfertigung (explicação, justificação) do seu passado que o autor exercita neste e noutros poemas de igual teor. 

 

A par da revisita a estes velhos temas que, pela sua recorrência, deixam antever que neles reside parte importante da sua identidade, a presente colectânea traz um notável conjunto de poemas de cariz filosófico, inspirados na obra de alguns dos mais importantes filósofos, escritores e pensadores, não apenas ocidentais, conquanto sejam estes, sobretudo, a serem invocados. Paul Ricoeur, Albert Camus, Paul Valéry, Marcel Conche, Aldous Huxley são alguns dos nomes referenciados. Os temas tratados são os da natureza humana, mormente de atributos que a tornam única, tais 7 como o pensamento, a comunicação e a linguagem. A problemática do tempo, nas suas diferentes vertentes, é igualmente contemplada, dedicando-lhe o autor vários poemas em que evidencia o carácter representativo e perceptivo do conceito, assim como o seu relacionamento com o envelhecimento subjectivamente experimentado, descrito, por exemplo, no poema “Regresso” 

 

“O homem envelhecido

que regressa às origens

(…) 

volta afinal aonde nunca esteve

(…)”. 

 

Não é uma poesia triste ou pessimista, como, por vezes, a leitura de alguns poemas nos parece induzir. É um livro de esperança, conquanto realista e crítico, como se pode comprovar no poema “Pensamento livre” , inserto na parte final da colectânea: 

 

“Não digo adieu nem mesmo au revoir 

à nostalgia que sobra do passado 

 

mas olho para trás de vez em quando 

para me certificar que ainda estou” (…). 

 

Este poema, cuja mensagem faz jus à sua localização na colectânea, encerrando-a, é, na verdade, uma prova de vida, de uma vida eventualmente atribulada, mas realizada, que se revela pelo seu lado mais sublime e belo, o da estética. E ao exteriorizar-se nestes termos, o seu autor vai afirmando um lugar único no mundo das literaturas em língua portuguesa. Covilhã, 10 de Outubro de 2011

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1 – Adeus a um amigo  in Tempo Irreversível de Adelino Torres

Em memória de Alfredo Margarido 

poeta do inconformismo e do possível,

amigo entre os amigos, 

que nos deixou em 12 de Outubro de 2010 

 

Foi ao cair da tarde

quando a palidez cobria o dia

da penúltima estação do ano

que tu, meu amigo, 

entregue ao sofrimento

sacudiste esse cansaço

e rumaste para o nada 

onde a ambiguidade mora. 

 

Mas ficou o eco das palavras

dos pensamentos lavrados em papel

das aguarelas leves como penas

a balançar nas mentes cautelosas

como funâmbulos do perigo

a hesitarem prudentes

entre o céu e o abismo entre o ser e o dever-ser 

 

onde o pensar atingiu

profundezas do vivido. 

O que outrora disseste, meu amigo, 

tem raízes na lembrança

da memória que perdura gravada no desespero. 

 

0 Resta viva a rebeldia

da lição que nos deixaste

 em foles de sete vidas

porventura amarguradas

mas que mesmo assim são vidas. 

 

Lá estão questões que abriste

como frutos já maduros

ou feridas que não se fecham, 

perguntas que não terão

serena paz na resposta

 a custo balbuciada. 

 

Fica vivo o que disseste

numa obra revoltada

a morder os corações, 

recusando o simulacro

que em nome da natureza

simula a repetição

eterna dos recomeços

que nunca mais têm fim

quando a reflexão se busca

no âmago do vivido

 ou do que falta viver. 

 

Para trás, na escuridão, 

empíricos, pragmáticos

e técnicos congelados

da autocracia hodierna

desprovida de utopia,

habitam por entre sombras

na caverna de Platão. 

Quando emergem ao ar livre

são morcegos meio cegos

que já não sabem voar

que deixaram escapar 

como água entre dedos

a claridade da luz 

que encandeia o olhar 

porque, pobres redutores 

prisioneiros do ter, 

querem sempre assassinar 

sem razão a theoria 

em nome do que não sabem

e a título do que não são, 

 

expulsos do fundo cósmico

que não vêem nem pressentem 

que o ente é ser teórico

cuja ânsia de saber 

desafia curioso o que, amigo, ensinaste: 

o assombro de viver…

 

leia  Tempo irreversível (Poesias: livro IV)  aqui

http://www.adelinotorres.com/trabalhos/Adelino%20Torres_Tempo%20Irreversivel_Poesias%20IV.pdf