04-03-2015Rio de Janeiro , 450 anos Jorge CoutoRio de Janeiro, 450 anos JORGE COUTO A cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro foi fundada a 1 de março de 1565 por Estácio de Sá num istmo entre os morros de São João e do Pão de Açúcar, na margem ocidental da baía da Guanabara. Mem de Sá transferiu-a em 1567, por razões defensivas, para o morro de São Januário (Castelo). O sucesso da urbe ficou a dever-se à conjugação de um hinterland fértil, de um magnífico porto, da localização estratégica da baía da Guanabara e de uma população empreendedora. Estes fatores tornaram-na no grande entreposto comercial do Brasil com a bacia platina, África e a Metrópole. A participação nas rotas do ouro proporcionou-lhe um impulso adicional de dinamismo económico. Pela sua importância, foi elevada, em 1763, a capital do Estado do Brasil. A transferência da Corte conferiu-lhe o estatuto de capital do Império Português (1808-1821) e contribuiu para a unificação do Brasil. A criação da estrutura institucional, de estabelecimentos de ensino e de instituições científicas e culturais concorreram para ampliar o seu prestígio. Tornou-se na sede do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarve em 1815. Continuou a garantir a centralidade política no Império (1822-1889) e na República até 1960, aquando da transferência do poder federal para Brasília. A atividade económica atraiu muitos migrantes e incentivou a aquisição de numerosos escravos africanos. Após a abolição da escravatura (1888), verificou-se um enorme afluxo de imigrantes europeus. A estrutura urbana não estava preparada para acolher uma tal quantidade de novos moradores, tendo-se multiplicado os cortiços. Após as intervenções urbanísticas do início do século XX, a população pobre foi forçada a abandonar o centro e a estabelecer-se em favelas nas encostas dos morros. A cidade tem enfrentado numerosas dificuldades decorrentes da elevada concentração populacional e da grande desigualdade social. A marginalidade, o tráfico de droga e a violência têm ensombrado a vida dos cariocas. Nos últimos tempos, foram postas em prática políticas que procuram combater as causas dos problemas sociais. Além da espantosa beleza natural, do valioso património cultural e da hospitalidade dos seus habitantes, devemos à Cidade Maravilhosa ter inspirado criações ímpares na literatura, na música ou na produção audiovisual. Sem o Rio não teríamos os romances de Machado de Assis, a poesia de Drummond de Andrade, o samba, a Bossa Nova, as canções de Vinícius de Moraes, de Tom Jobim e de Chico Buarque ou as telenovelas da Globo. *Jorge Couto (Ponta Delgada, 21.02.1951) é um historiador português, professor da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e investigador do Centro de História da Universidade de Lisboa, sendo considerado o principal especialista luso em História do Brasil. Antigo presidente do Instituto Camões (1998-2002), diretor da Biblioteca Nacional de Portugal (2005-2011) e diretor-geral do Livro e das Bibliotecas de Portugal (2010-2011). |