Iclas - Instituto de Culturas Lusófonas
Antonio Borges Sampaio


25-09-2015

Pesquisadores encontram crânio decapitado em Minas Gerais


Sua disposição junto às mãos amputadas estaria relacionada a cerimônia funerária há 9 mil anos

RODRIGO DE OLIVEIRA ANDRADE | Edição Online 1:01 24 de setembro de 2015

© DANILO BERNARDO

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Disposição do crânio junto às duas mãos amputadas cobrindo o rosto estaria relacionado a ritual funerário

Um crânio muito bem preservado encontrado no sítio arqueológico Lapa do Santo, em Lagoa Santa, Minas Gerais, está ajudando um grupo de pesquisadores a entender melhor a liturgia relacionada aos rituais funerários de culturas que habitaram o país há cerca de 9 mil anos. Em umestudo publicado nesta quarta-feira, 23, na revista PLoS One, eles relatam terem identificado um crânio articulado, com mandíbula e as seis primeiras vértebras cervicais. O surpreendente é que o crânio parece ser resultado de um processo de decapitação, com as duas mãos amputadas cobrindo o rosto, uma com os dedos para cima, a outra, para baixo.

Análises mais detalhadas do material identificaram marcas de corte em forma de “V” no crânio, mãos e vértebras, o que sugere que o indivíduo — possivelmente um homem de meia idade — foi desmembrado poucas horas depois de morto. “Não se tratava de uma punição, mas de um ritual de sepultamento próprio daquela cultura”, diz o arqueólogo brasileiro André Strauss, atualmente no Instituto Max Planck de Antropologia Evolutiva, na Alemanha, e coordenador do trabalho, que contou com a participação do bioantropólogo Walter Neves, do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (IB-USP).

O crânio foi achado em 2007 em uma área cheia de sepulturas há muito estudada por esse grupo de pesquisadores. Eles já haviam exumado outros cadáveres, mas nunca sem a cabeça. “Houve casos de esqueletos sem as pernas ou um dos braços”, explica Strauss. “Acreditamos que por meio da manipulação do corpo do falecido e da amputação de partes anatômicas os povos daquele tempo encontravam formas de expressar seus conceitos cosmológicos sobre a morte”, diz. De acordo com a datação por carbono-14 feito sobre o colágeno extraído do crânio, os pesquisadores estimam que a decapitação aconteceu há aproximadamente 9 mil anos. A evidência mais antiga de decapitação na América do Sul remete a um crânio de cerca de 3 mil anos encontrado no Peru.

Projeto
Origens e microevolução do homem na América: uma abordagem paleoantropológica(nº 2004/01321-6) Modalidade Auxílio à Pesquisa – Temático; Pesquisador responsável Walter Alves Neves (IB-USP); Investimento R$ 1.555.670,00.

Artigo científico
STRAUSS, André et alThe Oldest Case of Decapitation in the New World (Lapa do Santo, East-Central Brazil)PLoS One. set. 2015.

http://revistapesquisa.fapesp.br/2015/09/24/pesquisadores-encontram-cranio-decapitado-em-minas-gerais/