Iclas - Instituto de Culturas Lusófonas
Antonio Borges Sampaio


22-03-2013

Somos todos brasileiros - Eduarda Fagundes


No tópico Ponto de Vista, o professor e administrador Stephen Kantz escreve periodicamente para a revista Veja assuntos sempre interessantes e instrutivos. Em recente artigo, dá uma definição do que seria certo para nomear o indivíduo nascido no Brasil. Segundo ele deveríamos ser chamados brasilianos, como americanos, mexicanos, venezuelanos,..., e não brasileiros, sufixo que indica profissão, como jornaleiro, ferreiro, padeiro. Diz ainda que por mais de 500 anos o país foi enganado e que brasileiros eram aqueles que vinham unicamente para explorar a nova terra e voltavam com riquezas arrancadas do Brasil.

Até como uma forma didática de ensinamento, entendo que ele passe essa idéia figurada de exploração, para identificar o brasileiro corrupto e egoísta de agora. Mas gostaria de lembrar que, no tempo do Brasil Colônia, brasileiros também eram o português que cá nascia e se criava e o português que ficava, desbravava, colonizava, e que morria pela terra conquistada. A maioria dos portugueses que vinha , deixava casa e família, e até vendia o que tinha para investir aqui.

 Quantos luso-brasileiros, alguns nobres à procura de riqueza e fama, outros homens comuns, em geral aventureiros à procura de uma nova vida, perderam tudo e até a vida nas travessias atlânticas e na ocupação do novo mundo? Para o bem e para o mal, não podemos ignorar que foram eles que abriram caminho para o país de hoje. Venceram as barreiras do mar, da língua e do inóspito território. Fizeram picadas na floresta e espaços físicos e comerciais, fundaram vilas e cidades.  Se levaram riquezas, exploradas a duras penas, também é verdade que propiciaram os plantios de novas plantas, difundiram produtos do novo mundo pelo velho continente e iniciaram as miscigenações e as trocas comerciais. Alguns voltaram ricos, outros pobres e doentes, muitos não voltaram. Mas o certo é que a maioria ficou e com os colonos continentais e açorianos, índios e africanos, a trancos e barrancos, formaram este imenso país. Não vamos colocar a culpa das nossas atuais mazelas nos primitivos brasileiros. Como os anglo-americanos e puritanos que ocuparam a terra norte-americana matando e exterminando as sociedades nativas indígenas, eles também não foram santos. Mas nestes 500 anos muitas gerações já se passaram, muitas outras miscigenações já se fizeram, muitas influências estrangeiras já aconteceram para que se culpe os brasileiros de outrora pelo mau comportamento e desempenho do brasileiro de agora.

 

Só quando enxergarmos e aceitarmos a nossa identidade, com objetividade e verdade, e entendermos que qualquer que seja a nossa origem a solução para os nossos problemas não está na genética e sim na valorização da educação. Aí sim, seremos cidadãos com certeza, brasilianos ou brasileiros, não importa a profissão.

 

Eduarda Fagundes

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