Iclas - Instituto de Culturas Lusófonas
Antonio Borges Sampaio


31-08-2015

Apelidos, genes e consanguinidade na população Açoriana comunicação de Luísa Mot


pelidos, genes e consanguinidade na população Açoriana foi o tema de comunicação apresentada, em 16 Janeiro de 2005, por Luisa Mota Vieira

Investigadora e Diretora da Unidade de Genética e Patologia Moleculares (UGPM) do Hospital do Divino Espírito Santo (HDES), Ponta Delgada, ilha de São Miguel, Açores. Tel + 351-296 203 531 Fax. +351-296 203 090 

 

No início, Luisa Mota Vieira esclareceu que iria apresentar alguns resultados dos trabalhos de investigação desenvolvidos na Unidade de Genética e Patologia Moleculares, do Hospital de Ponta Delgada. 

Começando por apresentar o enquadramento geográfico, histórico e demográfico dos Açores. Localizados entre a Europa (≈1.500Km de Lisboa) e a USA (≈3.900Km de Boston), os Açores foram descobertos em meados do séc. XV, mais precisamente em 1427. O seu povoamento ocorreu ainda na primeira metade desse século com grupos de famílias oriundas, sobretudo de Portugal continental. Mas vieram também escravos oriundos de África, mouros, cristãos novos (judeus), flamengos e, muito provavelmente, franceses. 

Presentemente, vivem nos Açores cerca de 250 mil habitantes, 54% dos quais na ilha de São Miguel, 23% na ilha Terceira e igual percentagem distribuída pelas restantes 7 ilhas. A maioria da sua população reside em localidades pequenas. Por exemplo, na ilha de São Miguel as freguesias rurais têm, em média, 1.508 pessoas que estão organizadas em 410 famílias por localidade. A população atual dos Açores resulta de, aproximadamente, 25 gerações, ou seja, é uma população jovem. 

 

Após esta introdução, a investigadora apresentou os principais resultados sobre os estudos da estrutura da população dos Açores com base na análise dos nomes de família, do cromossoma Y dos Açorianos, e da consanguinidade populacional nos Açores relativamente à Madeira e ao continente. 

Assim, estudou-se a estrutura da população dos Açores com base nos apelidos registados na lista telefónica, por uma razão muito simples. Disse que em Portugal, os apelidos são transmitidos do pai para os filhos, simulando, por conseguinte, a transmissão de genes presentes no cromossoma Y. Além disso, os apelidos registados na lista telefónica são de fácil acesso, permitem revelar entradas recentes numa população, e inferir sobre o grau de consanguinidade, parentesco e isolamento das próprias populações. No caso dos Açores, 80% das famílias têm ainda telefone fixo, aspecto extremamente importante para a validade e análise dos resultados. O estudo foi feito, primeiro, na ilha de São Miguel e, depois, nos Açores, estando publicada em revistas internacionais a maior parte dos resultados obtidos

Este estudo permitiu identificar a herança genética, ou seja, as origens genéticas, da população actual dos Açores, e foi objecto de dois artigos: um publicado numa revista científica da especialidade este ano (Figuras 6 e 7), o outro de divulgação científica publicado na revista Visão em Dezembro de 2004 (Figura 8). De uma forma muito resumida, parte do trabalho incidiu sobre a caracterização das linhagens paternas numa amostra de 172 indivíduos não aparentados cujos pais nasceram nos Açores. Gostaria aqui de referir que estas amostras são de dadores de sangue que se dirigiram ao Serviço de Hematologia do Hospital. Elas foram colhidas unicamente após obtenção de Consentimento Informado e codificadas antes de serem entregues na Unidade de Genética.

 

A caracterização das linhagens do cromossoma Y foi realizada por técnicas de genética molecular e teve em consideração os dados conhecidos de outras populações humanas. Estudamos a região do cromossoma Y que não sofre recombinação, ou seja, aquela que é transmitida sem alterações de pai para filho, e de geração em geração. Esta região possui, porém, variações únicas no DNA que, ao definirem as linhagens, permitem reconstruir a história das migrações das populações humanas. 

Assim, hoje, conclui-se que a população masculina açoriana é na sua maioria (59,9%) descendente de portugueses, mas tem um contributo significativo de outras populações, tais como: 13,4% de judeus (cristãos novos), 10,5% de mouros vindos do norte de África, 1,2% de flamengos, 1,2% de escravos negros oriundos de Cabo Verde, Guiné e São Tomé Príncipe, 0,6% de espanhóis, e 0,6% da região Mongólia-Asia.

 

Estes resultados reflectem a história do povoamento dos Açores. Porém, foi para a investigadora surpreendente a identificação da linhagem característica do povo mongol, para a qual não havia registos históricos da sua presença no arquipélago. Uma das hipóteses formuladas é que essa entrada

tenha ocorrido nos séculos XVI e XVII, durante as trocas comerciais entre a Ásia, Europa e América, nas quais os Açores tiveram um papel preponderante devido à sua localização geográfica, sobretudo no regresso das naus do Oriente. Dados publicados : No trilho dos Genes.Mistérios do ADN açoriano (In VISÃO 614, 9-15 Dezembro 2005, pp 120 e 122).

 

A investigadora finalizou, afirmando que os cromossomas Y dos Açorianos guardam a história do povoamento do arquipélago,e que o seu fundo genético é maioritariamente descendente de portugueses, mas tem também um forte contributo de indivíduos de outras populações, por vezes, de outras etnias. 

 

A comunicação "Apelidos, genes e consanguinidade na população Açoriana", ocorreu em Toronto,17.01.2005, Canadá, e foi me enviada por uma das autoras da investigação e divulgada no dialogos, mensagem nº 3223, 13.09.05 

texto adaptado de 

http://www.adiaspora.com/_images/_article/_events/2005/3rd_Anniversary/LuisaMotaVieira-AdiasporaJan2005.pdf