Iclas - Instituto de Culturas Lusófonas Antonio Borges Sampaio
05-01-2013
O Acordo ortográfico e o uso do hífen Ernani Pimentel
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O Acordo ortográfico e o uso do hífen
O Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, também no que se refere ao hífen, mostra-se superficial, confuso, caro e precisa ser revisto. Leia-se o primeiro item da Base XV.
“Emprega-se o hífen nas palavras compostas por justaposição que não contêm formas de ligação e cujos elementos, de natureza nominal, adjetival, numeral ou verbal, constituem uma unidade sintagmática ou semântica e mantêm acento próprio, podendo dar-se o caso de o primeiro elemento estar reduzido: ano-luz... és-sueste... turma-piloto; alcaide-mor... mato-grossense... porto-alegrense... luso-brasileiro, primeiro--ministro...; conta-gotas, finca-pé, guarda-chuva.
Obs.: certos compostos, em relação aos quais se perdeu, em certa medida, a noção de composição, grafam-se aglutinadamente: girassol, madressilva, mandachuva...”.
Pense-se no seguinte:
a. O texto só diz que o “o primeiro elemento pode estar reduzido”, mas apresenta exemplo com o segundo também reduzido: “alcaide-mor”.
b. Na relação de exemplos, o ponto-e-vírgula separa naturezas (nominal, adjetival, verbal), mas falta entre luso-brasileiro e primeiro-ministro (naturezas adjetival e numeral). Num texto oficial não cabem tais falhas.
c. A “Obs.” é oficialização de exceções. Essa é a oportunidade de se eliminarem as exceções, para economizar tempo e fosfato.
d. Pior que oficializar exceções é deixá-las vagas e incertas com expressões como “certos compostos”, “em certa medida” etc.
e. O texto cria dúvidas quando diz “grafam-se aglutinadamente” palavras como girassol, madressilva, mandachuva etc. que, em rigor não são aglutinadas, mas justapostas.
Vimos com hífen mato-grossense e porto-alegrense, portanto, pela lógica, usaremos o mesmo sinal em Mato-Grosso e Porto-Alegre, certo? Errado, porque, na regra seguinte, esses substantivos grafam-se sem hífen.
Logicamente se Mato Grosso, Porto Alegre e América do Sul são “palavras compostas grafadas separadamente”, Guiné Bissau também o será, certo? Errado, pois Guiné-Bissau constitui “exceção consagrada pelo uso”.
A conclusão é que este Acordo Ortográfico é bom como ponto de partida e tomada de consciência para que o Ministério da Educação estimule as Universidades Federais a pesquisarem o rico e desprezado acervo de palavras da Língua Portuguesa e a apontarem sugestões para a simplificação máxima, racional e objetiva das normas ortográficas.
A grafia de nossa língua merece e precisa ser moderna, fácil, econômica.
Nós merecemos a eliminação do tempo inútil e nossos dirigentes no-la precisam garantir.
Em pleno século XXI, não faz sentido uma população inteira despender (despender, com e; dispendioso, com i) anos e anos em educação nos níveis fundamental, médio e superior, para não saber ortografia, obrigando-se a passar o resto da vida consultando dicionários antes de escrever uma palavra. É muito desperdício de tempo por falta de consciência econômica educacional.
Os países lusófonos precisam evoluir com o terceiro milênio e permitir mais tempo útil aos cidadãos, eis a conclamação do momento às autoridades governamentais e universitárias.
Ex-seminarista, gramático, com formação em Língua Portuguesa, Latim e Linguística, professor de Análise de Texto, com formação em Teoria e em Análise Literária.